quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Geografia Bíblica (Claudionor Correa) CPAD

I - O QUE É A GEOGRAFIA?
Segundo a etimologia da palavra, "geo" terra; "graphein" descrever, a Geografia
limitou-se, de fato, durante séculos, a descrever a Terra. Entretanto, a partir do Século XIX,
assumiu um caráter científico. Não mais limitou-se à descrição; passou, também, a explicar
os fatos.
No entanto, as definições variam de autor para autor.
Para o alemão Alfred Hettner, Geografia é o ramo de estudos da diferenciação
regional da superfície da Terra e das causas dessa diferenciação.
Richard Hartshorne declara ser o objetivo da Geografia "proporcionar a descrição e a
interpretação, de maneira precisa, ordenada e racional, do caráter variável da superfície da
Terra".
Ambas as definições, porém, "carecem de consenso sobre o que se entende por
superfície da Terra". A Enciclopédia Mirador Internacional pondera: "Tomar como tal
apenas a face exterior da camada sólida e líquida, iluminada pela luz do Sol, eqüivale a
suprimir do campo de interesse geográfico as minas e a atmosfera. Nesta ocorrem os
fenômenos meteorológicos e se configuram os tipos climáticos de profunda influência navida de todos os seres e, particularmente, na atividade humana.
II - A GEOGRAFIA ATRAVÉS DA HISTÓRIA
1.1 Na Antigüidade
Os conhecimentos geográficos dos egípcios limitavam-se ao Nordeste da África, à
Ásia Ocidental e à Assíria. Os fenícios e gregos foram mais longe. Estimulados por intensastransações comerciais, vasculharam o mar Mediterrâneo. Afoitos e aventureiros por
natureza, fundaram Cartago, em 800 a.C, transpuseram o estreito de Gibraltar e chegaram àsilhas britânicas. Eles, afirmam alguns estudiosos, aportaram, inclusive, nas costasbrasileiras, onde deixaram inscrições em vários monolitos.
Mais comedidos, os gregos limitaram-se à região do Mediterrâneo. Fundaram
diversas cidades, entre as quais Massília (atual Marselha). Alexandre Magno foi quem
alargou os conhecimentos geográficos dos helenos, em virtude de suas rápidas, fulminantes e dilatadas conquistas. Saindo da Macedônia, na Europa Oriental, ele alcançou a índia, no Extremo Oriente.
Renomados pensadores gregos dedicaram-se ao estudo da Geografia: Píteas,
Heródoto, Hipócrates, Anaximandro, Tales, Eratóstenes e Aristóteles. Concebiam os oceanos unidos em uma só massa líquida e os continentes em uma só massa de terra. O primeiro conceito seria corroborado por navegadores europeus dos séculos XV e XVI.
1.2 - Em Roma
Pragmáticos, os romanos não se limitaram ao mundo conhecido pelos gregos. Foram
além. Em virtude de suas vastíssimas conquistas, alargaram, sobremaneira, os conhecimentos
geográficos de então. Seus generais, durante as guerras expansionistas,
elaboraram minuciosos relatórios acerca das novas possessões romanas. Júlio César, por
exemplo, escreveu "Comentários sobre a guerra contra os gauleses", obra riquíssima em
informações geográficas.
Políbio e Estrabão deixaram importantes tratados geográficos. Os trabalhos de
Estrabão, aliás, são tão abalizados que foi chamado o pai da Geografia. Sem os seus
apontamentos, os geógrafos posteriores encontrariam enormes dificuldades para elaborar
descrições mais acuradas da Terra.
1.3 - Na Idade Média
A Geografia não progrediu na Europa durante a Idade Média. Detentor do monopólio
cultural, o clero só transmitia ao povo as informações que, segundo seu critério, estivessem
de conformidade com os textos sagrados e com as tradições católicas. Apesar das Cruzadas
à Terra Santa, não houve progresso sensível nas informações geográficas.
Muitos conceitos bíblicos foram deturpados nessa é-poca pela "Santa" Sé. Os padres
ensinavam ser a Terra plana, em uma despropositada alusão à mesa do Taberná-culo.
Afirmavam, também, ser o Sol o centro do Universo, ao interpretar, erroneamente, uma
passagem do livro de Josué.
Censurados, os escritos de Marco Polo em nada contribuíram para o
desenvolvimento da Geografia. Os povos pagãos, entretanto, livres dos tentáculos de Roma,
apresentaram notáveis progressos nessa ciência, notadamente os víquingues.
Com o islamismo, os conhecimentos geográficos foram dilatados. Os árabes
chegaram à China, embrenharam-se na Rússia e dominaram a África. Ibn Haw'qal deixou
importante obra, contendo preciosas descrições das terras conquistadas pelos maometanos.
A Geografia, para o Islã, é uma ciência agradável a Deus, por facilitar a peregrinação dos
fiéis a Meca.
1.4 - Tempos Modernos
Com as descobertas de novos continentes, Portugal e Espanha deram inestimável
contribuição à Geografia. 0 capitalismo mercantilista do Século XV, XVI e XVII, levou
ambos esses povos ibéricos às mais remotas regiões do Globo. O descobrimento do Novo
Mundo marcou, de forma definitiva, o fim de uma era de obscurantismo. Finalmente, o
homem redescobria uma verdade elementar dita no Século VIII a.C. pelo profeta Isaías: a
Terra é esférica. Galileu. enfim, tinha razão.
A partir dos feitos de Colombo. Vasco da (lama e Cabral, começaram a ser
produzidas, com mais regularidade, obras geográficas especializadas. 0 jovem alemão
Varenius. notável pela sua genialidade, escreveu dois tratados: Geografia generalis e
Geografia specialis. O segundo trabalho, aliás, não pôde ser completado, por causa da morte
prematura do autor.
Kant empreendeu vários estudos geográficos, objetivando conhecer empiricamente o
mundo.
III - A ESTRUTURAÇÃO CIENTÍFICA DA GEOGRAFIA
Deve-se a dois sábios alemães, a estruturação da Geografia como ciência. Ambos
viveram na mesma época é. durante algumas décadas, em Berlim. Alexander von Humboldt
(1769-1859) e Carl Kitter (1779-1859). Influenciados por Varenius e Kant, traçaram novos
métodos e rumos para a Geografia.
Eles não objetivavam contrariar os postulados de seus antecessores. Apôs seus
estudos, porém, tornou-se possível, por exemplo, fazer a correlação dos fenômenos característicos
de uma região. A Geografia deixou de ser um mero acervo de dissertações e
descrições á disposição de militares e administradores, para tornar-se uma ciência madura e
dinâmica. Hoje. aliás, lançamos mão de seus métodos, inclusive, para confirmarmos a
veracidade e a exatidão das informações bíblicas.
IV - A GEOGRAFIA BÍBLICA E A SUA IMPORTÂNCIA
Farte da Geografia Geral, a Geografia Bíblica tem por objetivo o conhecimento das
diferentes áreas da Terra relacionadas com as Sagradas Escrituras. Descrevendo e delimitando
os relatos sagrados, dá-lhes mais consistência e autenticidade e auxilia-nos na
interpretação e compreensão dos fatos bíblicos.
A Geografia Bíblica, definida por Mackee Adams como o "painel bíblico em que o
Reino de Deus teve o seu início e onde experimentou seus triunfos". é indispensável a todos
os estudiosos da Bíblia.
Primeira Parte
A cosmogonia hebraica
Sumário: Introdução. I - A matéria original. II - A esfericidade da Terra. III -
Heliocentrismo ou geocentrismo? IV - O Supremo Comandante do Universo.
INTRODUÇÃO
Apesar de não ser um livro científico, a Bíblia não emite nenhum conceito errôneo
acerca da formação do Universo. Sua doutrina cosmogônica tem sido corroborada por
cientistas das mais diferentes especialidades.
Podemos confiar sem reservas nas Sagradas Escrituras.
Por causa das absurdas interpretações do catolicismo romano, a Bíblia sofreu
impiedosas investidas de muitos "sábios segundo o mundo". Tacharam-na de retrógrada e
alienígena. Iluministas e renascentistas, dando excessiva ênfase à razão, consideraram-na
um livro anacrônico.
O Livro dos livros, entretanto, continua atual, mostrando, em todas as épocas, sua
contemporaneidade, seus conceitos, imbatíveis, sua cosmogonia lógica e plausível.
I - A MATÉRIA ORIGINAL
Existiu, realmente, o que os gregos denominaram de matéria original? Caso tenha
existido, como podemos identificá-la? Como a Bíblia se posiciona a respeito?
Vejamos, em primeiro lugar, como os helenos encaravam a questão da matéria
original.
Anaximandro, pertencente à Escola Jônica, defende que o mundo teve origem a partir
de uma substância indefinida: o "apeiron" em grego, sem fim.
Para Tales de Mileto, era a água o elemento do qual todos os demais são originários.
Ele foi levado a posicionar-se, dessa forma, explica Aristóteles, depois de observar a
presença da água em todas as coisas.
Anaxímenes de Mileto afirma ser o ar o princípio de tudo. Até o fogo, argumenta,
depende do ar. O que dizer da água em estado gasoso? Tivéssemos, entretanto, oportunidade
de questioná-lo, perguntar-lhe-íamos: "Qual a origem do ar?" Será que ele poderia
responder-nos? Não basta asseverar ser este ou aquele elemento a matriz da ordem cósmica.
Interessa-nos saber, acima de tudo, como surgiu o Universo.
Acreditava Heráclito estarem todas as coisas em constante devenir. Tudo corre, tudo
flui, ensinava. Se o Cosmo transmuta-se sem parar, para onde caminhamos? Se a ordem
física altera-se indefinidamente, em um futuro próximo seremos precipitados em um
imensurável abismo. A teoria heraclitiana em vão tenta explicar-nos o surgimento do
mundo.
Cria Empédocles serem quatro os elementos originais: ar, água, terra e fogo. Mais
tarde, essa tese seria esposada por Aristóteles e, por mais de vinte séculos, foi tida como
dogmática. Platão não a aceitava: Diz ele: "Os quatro elementos parecem contar um mito,
cada um o seu, como faríamos às crianças".
Anaxágoras declara o seu credo. O Universo é formado por diminutas partículas.
Para o pensador de Clazomena. elas podem estar em estado inanimado ou não. Aristóteles
denominou-as de hemeomerias. A semelhança dos outros sábios gregos, deixou-nos na
ignorância. 20
Leucipo, principal representante da Escola Atomística, aperfeiçoada por Demócrito,
apregoa serem todas as coisas, inclusive a alma, compostas por corpúsculos, invisíveis a
olho nu. Esses corpúsculos são conhecidos como átomos.
Alguns pensadores gregos, todavia, aproximaram-se timidamente do criacionismo
bíblico.
Pitágoras de Samos, em seu cego devotamento pela matemática, aponta Deus como a
Cirande Unidade e o Número Perfeito. Dele, aduz, nasceram os mundos e o homem.
Fundador da Escola Eleática, Xenófanes mostra-se monoteísta. Não hesita em
desprezar a mitologia helena, por crer que o Universo é obra de Deus, do único Deus.
O que diz a Bíblia acerca da matéria original?
O autor da Epístola aos Hebreus escreve: "Pela fé entendemos que foi o Universo
formado pela palavra de Deus, de maneira que o visível veio a existir das coisas que não
aparecem" (Hb 11.23).
Pela fé, apenas pela fé. Ousaria alguém fazer semelhante afirmação? É-nos
impossível, por causa de nossas limitações, entender como Deus criou o Cosmo do nada. Os
escritores sagrados descartam, radicalmente, a existência de uma matéria original. Para eles,
todas as coisas foram criadas, simplesmente, pela palavra de Deus.
Não há explicação mais plausível e convincente!
No Areópago, Paulo mostra-se convicto ante os filósofos epicureus e estóicos: "O
Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe..." (At 17.24). Homem de fé, assevera aos
exigentes helenos que, do nada, do não-ser, o Todo-poderoso fez os céus e a Terra.
Os gregos, durante séculos, receberam de seus sábios as mais desencontradas e
absurdas idéias acerca do aparecimento do Universo. O apóstolo, contudo, rejeita-as e expõe-
lhes as mais cristalinas verdades concernentes à gênese do Universo.
É muito importante ao homem saber sua origem e a de seu habitai. Mostremos, pois,
aos que jazem em trevas ser Deus o Criador do Universo. Mostremos, acima de tudo, ser
Deus rico em misericórdia e que, não obstante seu imenso poder, está pronto a receber-nos
por intermédio de -Jesus!
II - A ESFERICIDADE DA TERRA
Alguns sábios egípcios acreditavam estar a Terra suspensa sobre cinco colunas.
Outros admitiam haver sido o nosso mundo chocado de um descomunal ovo cósmico. Os
mais desvairados diziam estar a linda esfera azul librando-se no infinito com um magnífico
par de asas.
Moisés, embora fosse educado em toda a ciência do Egito, jamais transportou para
seus escritos quaisquer resquícios da mitologia e da cosmogonia egípcias. Inspirado pelo
Espírito Santo, revela-nos a verdadeira gênese dos céus e da Terra.
Os gregos, não obstante seu espírito inquiridor e apego ao saber, só descobririam as
verdades reveladas aos santos do Antigo Testamento concernentes à esfericidade e ao
movimento da Terra, séculos mais tarde.
Cognominado de o "pai da ciência", Tales de Mileto, que viveu um século após
Isaías, desconhecia a forma da Terra. Ele a imaginava com o formato de um pires.
Anaxágoras, contemporâneo de Tales, ensinava ter o nosso habitat forma cilíndrica e
que se mantinha centrado no espaço, em virtude da pressão atmosférica.
Insuperável em seus conhecimentos, Pitágoras, depois da Bíblia, foi o primeiro a
declarar ser a Terra uma esfera em constante movimento. Seus postulados só seriam ultrapassados
por Copérnico, que nasceria quase dois milênios após sua morte.
Aproximando-se da moderna astronomia, Aristarco conclui, no Século III a.C, ser a
Terra muito menor do que o Sol. Descobriu, também, estar o nosso planeta movendo-se em
redor do astro-rei.
A forma da Terra é, realmente, esférica?
Responde-nos a Bíblia, por intermédio do profeta Isaías: "Ele |Deus| é o que está
assentado sobre o globo da Terra, cujos moradores são para ele como gafanhotos: ele é o
que estende os céus como tenda para neles habitar..." (Is 40.22.) Essa verdade foi dita no
Século VIII a.C e continua atual. Não pode ser contestada!
III - HELIOCENTRISMO OU GEOCENTRISMO?
Ensinadas, principalmente por Ptolomeu, as teorias geocêntricas eram a base do
ensino astronômico medieval. Todos (com raras exceções) criam ser a Terra o centro do
Universo. Em torno dela, giravam os demais planetas e o próprio Sol. A Igreja Romana
tinha o geocentrismo como dogma. Ai de quem ousasse pensar de outra maneira! Sofreria
todos os rigores do "Santo" Ofício e da insana e bestial "Santa" Inquisição.
Nicolau Copérnico (1473-1583), entretanto, instigado pelos ares renascentistas da
cultura greco-romana, volta-se às idéias de Pitágoras, Heráclites do Ponto e Aristarco de
Samos. Inconformado com as complicações do geocentrismo, admite a hipótese
heliocêntrica, segundo a qual é o Sol, e não a Terra, o centro do Universo.
Formado em Medicina, Matemática, Leis e Astronomia, afirma Copérnico, esse
padre ilustre, em seu famoso tratado De Revolutiones Orbium: "Não me envergonho de
sustentar que tudo que está debaixo da Lua, inclusive a própria Terra, descreve, com outros
planetas, uma grande órbita em redor do Sol, que é o centro do mundo ... E sustento que é
mais fácil admitir o que acabo de afirmar, do que deixar o espírito perturbado por uma
quantidade quase infinita de círculos, coisa a que são forçados aqueles que retém a Terra
fixa no centro do mundo."
A teoria do renomado polonês, confirmada pela ciência, foi uma das principais
causas da crise científico-religiosa iniciada no Século XVI. A Igreja Romana opôs-se
ferozmente ao posicionamento coperniano. A obra do in-signe cônego foi condenada pela
Santa Sé e incluída no Index. Até mesmo o progressista Lutero, referindo-se ao grande
astrônomo, teria afirmado: "O imbecil queria conturbar toda a ciência astronômica".
Caberia a Galileu (1564-1633), todavia, o desferimen-to de um contundente golpe
nesssa crença da teologia tradicional. Em sua obra intitulada Dialoghi sopra idue Massa-ni
Sistemi dei Mondo Tolomaico e Coperniano, que se tornou célebre rapidamente, execra,
com energia, os ultrapassados conceitos astronômicos existentes até Copérnico.
Acusado de heresia pela fanática e reticente Igreja Romana, o grande físico, já com
70 anos, foi obrigado a comparecer ante o Tribunal da Inquisição, em Roma. Para salvar sua
vida, teve de ajoelhar-se ante seus inimigos, admitir seus "erros" e renegar suas descobertas.
Galileu, no entanto, não cria em um conflito entre a ciência e a Bíblia. Diz ele: "A
Santa Escritura não pode jamais mentir, desde que, todavia, penetre-se seu verdadeiro
sentido, o qual - não creio possível negá-lo - está muitas vezes escondido e muito diferente
do que parece indicar a simples significação das palavras".
Em conseqüência das absurdas posições da "Santa" Sé quanto à evolução científica,
conforme já dissemos, iluministas e renascentistas voltam-se contra a Bíblia, considerando-a
incompatível com a razão e o bom-senso. A Palavra de Deus, contudo, é inerrante,
absolutamente inerrante. Nunca cometeu um disparate sequer.
A Bíblia, a propósito, jamais afirmou ser a Terra o centro do Universo. Os incréus,
não obstante, apresentam o relato de -Josué como prova da falibilidade bíblica. Esquecemse,
porém, de que o autor sagrado, ao registrar o fato, fê-lo em linguagem comum, por
desconhecer a nomenclatura cientifica. Era ele, afinal de contas, militar e não cientista.
Levemos em conta, também, as circunstâncias. O grande general hebreu encontravase
em renhida batalha. Acossado pelos inimigos e tendo de agir depressa, não poderia perder
tempo a escolher palavras, apenas para satisfazer os tolos que. sob quaisquer pretextos,
tentam desprestigiar a Bíblia.
Consideremos que, ainda hoje, após três milênios da memorável batalha de -Josué,
mesmo os cientistas não conseguem desvencilharem-se da linguagem comum e, naturalmente,
dizem: "O Sol está nascendo" ou "O Sol está se pondo". Apesar de não ser exato,
esse corriqueiro modo de falar não é errado por causa da aparência.
O grande astrônomo Kepler, ao fazer a apologia das palavras usadas para descrever o
prodígio do sucessor de Moisés, afirmou: "Nós dizemos com o povo: os planetas param,
voltam ... o Sol nasce e põe-se, sobe para o meio do céu, etc. Falamos com o povo e
exprimimos o que parece passar-se diante dos nossos olhos, posto que nada de tudo. isso
seja verdadeiro. Entretanto, todos os astrônomos estão nisso de acordo. Devemos tanto
menos exigir da Escritura sobre este ponto, quanto é certo que ela, se abandonasse a
linguagem ordinária para tomar a da ciência e falar em termos obscuros, que não seriam
compreendidos por aqueles a quem ela quer instruir, confundiria os fiéis simples e não
conseguiria o fim sublime a que se propõe".
Abraão de Almeida, em seu livro Deus, a Bíblia e o Universo, reafirma a inerrância
das Sagradas Escrituras: "...a oração de Josué, segundo o sentido original, pode traduzir-se
por 'Sol, cala-te', ou 'aquieta-te'. E os cientistas informam-nos que a luz é vocal, ou seja, o
Sol, ao enviar suas irradiações sobre este mundo, provoca um som musical pelas rápidas
vibrações das ondas do éter. Esta música, contudo, não pode ser ouvida pelos nossos
ouvidos. Admite-se, também, que a ação do Sol sobre a Terra é a causa de sua evolução em
torno do seu próprio eixo. Assim, as palavras de Josué demonstrariam uma tremenda
exatidão científica, e a Terra teria diminuído a velocidade de seu movimento de rotação, em
virtude de um temporário enfraquecimento da ação do Sol sobre ela. O grande Newton
demonstrou quão rapidamente a velocidade da Terra poderia ser diminuída sem choque
apreciável para seus habitantes".
IV - O SUPREMO COMANDANTE DO UNIVERSO
O Universo funciona com uma perfeição assustadora. Milênio após milênio, astros e
estrelas descrevem suas órbitas com absoluta exatidão. Essa maravilha leva-nos a concluir:
Há um Deus no Céu, a comandar e a preservar o Cosmo.
O grande físico inglês, sir Isaac Newton, escreve: "Esse Ser governa todas as coisas,
não como a alma do mundo, mas como o Senhor de tudo; e, por causa de seu domínio,
costuma-se chamá-lo de Senhor, Pantocrátor, ou Soberano Universal, pois Deus é uma
palavra relativa e tem uma referência a servidores; e Deidade é o domínio de Deus, não
sobre seu próprio corpo, como imaginam aqueles que supõem que Deus é a alma do mundo,
mas sobre os serventes."
Os gregos, entretanto, acreditavam estar a soberania do Universo dividida entre
vários deuses, sendo Zeus o principal deles. Como estavam errados! O apóstolo Paulo,
todavia, ao visitar Atenas, afirmou-lhes: "...sendo [Deus| Senhor do céu e da terra ..." (At
17.24b). Em outras palavras, disse-lhes o grande campeão do Evangelho: "Há um só Deus
que sobre todos domina, porque tudo dele provém".
João Calvino compreendeu perfeitamente o universal senhorio de Deus: "...que no
solamente habiendo creado una vez el mundo, lo sustenta con su inmensa potência, lo rige
con su sabiduria, lo conserva con su bondad, y sobre todo cuida de regir el gênero humano
com justicia y equidad, lo suporta con misericórdia, lo defiende com su amparo..."
Quanto a nós, falíveis seres humanos, devemos dirigir-nos a Deus: "...teu é o reino, o
poder e a glória, para sempre. Amém."
Segunda Parte
Os Impérios humanos e a supremacia divina
Desde a fundação do mundo, os impérios continuam a ascender e a cair. A
supremacia divina, porém, continua indelével, imarcescivel. Frova-nos isso estar Deus no
supremo comando da História. De acordo com a sua soberana vontade, vão os filhos dos
homens escrevendo suas crônicas.
Depois de exaltar-se e desafiar os céus, confessa Nabucodonozor. poderoso rei de
Babilônia: "Agora, pois, eu, Nabucodonozor, louvo, e exalço e glorifico ao rei do céu;
porque todas as suas obras são verdades; e os seus caminhos juízo, e pode humilhar aos que
andam na soberba" (Dn 4.37).
Veremos, a seguir, como os grandes impérios da antigüidade e mencionados na
Bíblia ascenderam e caíram. Tanto em sua ascensão, como em sua queda, não nos será
difícil vislumbrar a potente mão de Deus. Rapidamente, portanto, acompanharemos o
nascimento, o apogeu e a queda destes impérios: Egito, Assíria, Babilônia, Pérsia, (irécia e
Roma.
Logo após, na terceira parte desta obra, começaremos a caminhar sobre a Terra
Santa, onde desenrolou-se a maravilhosa história da salvação.
Império Egípcio
Sumário: Introdução. I - História do Egito. II -Geografia do Egito. III - A
grandeza do Egito. IV - O Egito e os filhos de Israel.
INTRODUÇÃO
O Egito representa uma das mais antigas civilizações humanas. Sua história é quase
tão antiga como o próprio homem. Julgam alguns historiadores, por isso, ter sido o Vale do
Nilo o berço da humanidade. Mas, por intermédio das Sagradas Escrituras, sabemos ser a
Mesopotamia o primeiro lar de nossos mais remotos ancestrais.
Napoleão Bonaparte, em sua campanha pelo Oriente Médio, ficou extasiado com a
antigüidade da civilização egípcia. Ao contemplar as colossais pirâmides, exclamou aos
seus homens: "Soldados, do alto dessas pirâmides, quarenta séculos vos contemplam". A
grandiosidade do Egito exerce um grande atrativo sobre o nosso espírito. Como não admirar
as monumentais conquistas dos forja-dores da civilização egípcia?
A presença do Egito nas Escrituras Sagradas é muito forte. Por esse motivo,
precisamos conhecer melhor a história e a geografia desse lendário e misterioso país. Tendo
em vista o exíguo espaço de que dispomos, não poderemos tratar, com profundidade, da
cultura egípcia. Cabe ao leitor, entretanto, aprofundar-se no assunto e buscar novas
informações em uma bibliografia adequada. Basta-nos. por enquanto, alguns dados gerais
sobre o outrora portentoso império do Nilo.
I - HISTÓRIA DO EGITO
Não podemos datar, com precisão, quando chegaram os primeiros colonizadores aos
territórios egípcios. Quanto mais recuamos no tempo, mais a cronologia torna-se imprecisa.
Sabemos, contudo, que os primeiros habitantes dessa região foram nômades. Após uma vida
de árduas e incômodas peregrinações, eles começaram a organizar-se em pequenos Estados.
Essas diminutas e inexpressivas unidades políticas conhecidas como nomos, foram
agrupando-se com o passar dos séculos, até formarem dois grandes reinos: o Alto Egito, no
Sul; e, o Baixo Egito, no Norte. Ambos estavam localizados, respectivamente, no Vale do
Nilo e no Delta do mesmo rio.
Entre ambas as regiões havia um forte contraste. Seus deuses eram diferentes, como
diferentes eram, também, seus dialetos e costumes. Até mesmo a filosofia de vida desses
povos eram marcadas por visíveis antagonismos. Declara o egiptólogo Wilson: "Em todo o
curso da história, essas duas regiões se diferenciaram e tiveram consciência da sua
diferenciação. Quer nos tempos antigos, como nos modernos, as duas regiões falam dialetos
muito diferentes e vêem a vida com perspectivas também diferentes."
Sobre essa época, escreve Idel Becker: "Neste período pré-dinástico, o
desenvolvimento da cultura egípcia foi, quase totalmente, autóctone e interno. Houve
apenas, alguns elementos de evidente influência mesopotâmica: o selo cilíndrico, a
arquitetura monumental, certos motivos artísticos e, talvez, a própria idéia da escrita. Há,
nessa época, progressos básicos nas artes, ofícios e ciências. Trabalhou-se a pedra, o cobre e
o ouro (instrumentos, armas, ornamentos, jóias). Havia olarias; vidragem; sistemas de
irrigação. Foi-se formando o Direito, baseado nos usos e costumes tradicionais - leis
consuetudinárias."
1 - A unificação do Egito
Em conseqüência de suas muitas diferenças, o Alto e o Baixo Egito travaram
violentas e desgastantes guerras por um longo período. Essas constantes escaramuças enfraqueciam
ambos os reinos, tornando-os vulneráveis a ataques externos. Consciente da
inutilidade desses conflitos, Menés, rei do Alto Egito, conquista o Baixo Egito. Depois de
algumas reformas administrativas, esse monarca (para alguns historiadores, uma figura
lendária) unificou o país, estabeleceu a primeira dinastia e tornou Tínis, a capital de seu
vasto império.
A unificação do Egito ocorreu, de acordo com cálculos aproximados, entre 3.000 a
2.780 a.C. Nesta mesma época, os egípcios começaram a fazer uso da escrita e de um calendário
de 365 dias.
Unificados, o Alto e Baixo Egito transformaram-se no mais florescente e poderoso
império da antigüidade. Os reis iniciaram a construção das grandes pirâmides, que lhes
serviu de tumba. Por causa desses arroubos arquitetônicos, receberam o apelido de "casa
grande" - faraó. Então, a cultura egípcia alcançou proporções consideráveis.
No final do Antigo Império, que abrange o período de 2.780 a 2.400 a.C, o poder dos
faraós começou a declinar. O fim dessa era de glórias é marcado por revoltas e desordens,
ocasionadas pelos governadores dos nomos.
Uma febre de independência alastra-se por todo o pais. Cresce, cada vez mais, o
poder da nobreza; a influência da realeza decai continuamente. Aproveitando-se desse caos
generalizado, diversas tribos negróides e asiáticas invadem o país.
Graças, entretanto, a intervenção dos faraós tebanos, o Egito consegue reorganizarse,
pelo menos até a agressão hicsa.
2 - A invasão dos hicsos
Não obstante a segurança trazida pelos príncipes de Tebas (11* dinastia) e pelas
conquistas político-sociais do povo, o Egito começa a sofrer incursões de um bando
aguerrido de pastores asiáticos. Nem mesmo o prestígio internacional dos faraós seria
suficiente para tornar defensáveis as fronteiras egípcias.
Esses invasores, que dominariam o Egito por 200 anos, aproximadamente, são
conhecidos como hicsos. Eles iniciam sua dominação em 1.785 e são expulsos por volta de
1580 a.C.
Idel Becker, com muito critério, fala-nos acerca desse conturbado período: "Esta é a
época mais confusa e discutida da história do antigo Egito: um período de invasões e de
caos interno. Os hicsos - conglomerado de povos semitas e arianos, invadiram o Egito
(através do istmo que o ligava à península do Sinai), venceram os exércitos de faraó e
dominaram grande parte do país. Possuíam cavalos e carros de guerra (com rodas); e armas
de bronze (ou talvez, mesmo, de ferro), mais bem acabadas e mais fáceis de manejar do que
as dos egípcios. Tudo isso explica a sua superioridade bélica e os seus triunfos militares. Os
hicsos talvez estivessem fugindo da pressão dos invasores indo-europeus (hititas, cassitas e
mitanianos), sobre o Crescente Fértil."
Com os hicsos, acrescenta Becker, devem ter entrado no Egito os hebreus.
3 - Novo Império
Com a expulsão dos hicsos, renasce o Império Egípcio com grande pujança. Com
Ames I, os faraós tornaram-se imperialistas e belicosos. Tutmés III, por exemplo, conquistou
a Síria e obrigou os fenícios, cananitas e assírios a pagarem-lhe tributo.
A expansão egípcia, entretanto, esbarrou nos interesses dos poderosos hititas,
senhores absolutos da Ásia Menor. Na ocasião, o célebre faraó, Ramsés II fez ingentes esforços
para vencê-los. Como não conseguiu o seu intento, assinou com o reino hitita um
tratado de paz, que vigorou por muitos anos. 32
Foi durante o Novo Império (1580-1200 a.C), que os israelitas começaram a ser
escravizados pelos faraós. 4 - Decadência
Após o Novo Império, o Egito começou a sofrer sucessivas intervenções: líbia,
etíope, indo-européia, assíria, persa, grega e romana. Em linhas gerais, essa nação, cujo
passado foi tão glorioso, pertenceu ao Império Romano, durante 400 anos; ao Império
Bizantino, durante 300 anos. No Século VII d.C, fica sob a tutela dos muçulmanos. A partir
de 1400, torna-se possessão turca. No Século XIX, fica sob a custódia franco-inglesa. No
início deste Século, torna-se protetorado inglês.
Em 1922, todavia, conquista sua independência. Hoje, porém, não passa de um
apagado reflexo de sua primeira glória.
II - GEOGRAFIA DO EGITO
Netta Kemp de Money descreve o antigo Egito: "O Egito da antigüidade se
assemelhava em sua forma a uma flor de lótus (planta importante na literatura e na arte
egípcia), no extremo de um talo sinuoso que tem à esquerda e um pouco abaixo da própria
flor, um botão de flor. A flor é composta pelo Delta do Nilo, o talo sinuoso é a terra fértil
que se estende ao longo do dito rio, e o botão é o lago de Faium que recebe o excedente das
inundações anuais do Nilo".
O Egito atual tem o formato de um quadrado. Localizado no Nordeste da África,
limita-se ao norte, com o mar Mediterrâneo; a leste, com Israel (e, também, com o mar
Vermelho); ao sul, com o Sudão; a oeste, com a Líbia. De sua área, de quase um milhão de
quilômetros quadrados, 96 por cento são compostos de terras áridas. Sua população, de 45
milhões de habitantes, é obrigada a viver com os 4 por cento de terras cultiváveis.
Localizava-se o Alto Egito no Sul do atual território egípcio. Essa região, chamada
de Patros pelos hebreus (Jr 44.1,15), é constituída por um estreito vale ladeado por penedos
de formação calcária. O Baixo Egito, por seu turno, localizava-se no Norte e sua área mais
fértil encontra-se no Delta.
O Egito, no entanto, não existiria sem o Nilo. Esse rio é o mais extenso do mundo,
com um percurso de 6.400 km com suas vazantes, fertiliza vastas extensões de terra, tornando
possível fartas semeaduras. Heródoto, com muita razão, disse ser o Egito um presente
do Nilo.
Em seu livro Geografia das Terras Bíblicas, afirma o pastor Enéas Tognini: "Sem o
Nilo, o Egito seria um Saara - terrível e inabitado. O Nilo proporcionou riquezas aos faraós
que puderam viver nababescamente, construindo templos suntuosos, monumentos
grandiosos, palácios de alto luxo, pirâmides gigantescas e a manutenção de exércitos bem
armados que, não somente protegiam o Egito, mas tomavam, nas guerras novas regiões. Os
egípcios não tinham necessidade de observar se as nuvens trariam chuvas ou não. O Nilo
lhes garantia a irrigação e as suas águas lhes davam colheitas fartas e certas. É fato que uma
seca poderia trazer pobreza à terra, como aconteceu no tempo de José. Se a cheia fosse além
dos limites, as águas poderiam arrasar cidades, deixando o povo desabrigado e prejudicariam
as safras. Mas, tanto secas como enchentes eram raras. O Nilo era então, como é
hoje, a vida do Egito e o principal fator de suas múltiplas organizações, simples algumas e
sofisticadas e complexas outras".
III - A GRANDEZA DO EGITO
Os egípcios deixaram um marco de indelével grandeza na História. Desde as
pirâmides às conquistas científicas e tecnológicas, foram magistrais. Haja vista, por
exemplo, os arquitetos modernos que continuam a contemplar, com grande admiração, os
monumentos piramidais construídos pelos faraós.
Desta forma Halley descreve a Grande Pirâmide de Queops: "O mais grandioso
monumento dos séculos. Ocupava 526,5 acres, 253 metros quadrados (hoje 137), 159 m de
altura (hoje. 148). Calcula-se que se empregaram nela 2.300.000 pedras de 1 metro de
espessura média, e peso médio de 2,5 toneladas. Construída de camadas sucessivas de
blocos de pedra calcária toscamente lavrada, a camada exterior alisada, de blocos de granito
delicadamente esculpidos e ajustados. Estes blocos exteriores foram removidos e
empregados no Cairo. No meio do lado norte há uma passagem, 1 m de largura por 130 de
altura, que leva a uma câmara cavada em rocha sólida, 33 m abaixo do nível do solo, e
exatamente 180m abaixo do vértice; há duas outras câmaras entre esta e o vértice, com
pinturas e esculturas descritivas das proezas do rei".
Os antigos egípcios destacaram-se, ainda, na matemática e na astronomia. Há mais de
quatro mil anos, quando a Europa revolvia-se em sua primitividade, os sábios dos faraós já
lidavam com fórmulas para calcular as áreas do triângulo e do círculo e, também, do volume
das esferas e dos cilindros.
Souto Maior fala-nos, com mais detalhes, acerca do avanço científico dos antigos
egípcios: "Apesar de não conhecerem o zero, já resolviam nessa época equações algébricas.
Os seus conhecimentos astronômicos permitiram-lhes a organização de um calendário
baseado nos movimentos do Sol. A divisão do ano em doze meses de trinta dias é de origem
egípcia; os romanos adotaram-na e ainda hoje é conservada com pequenas modificações. A
medicina egípcia também era surpreendentemente adiantada. Chegaram a fazer pequenas
operações e a tratar com habilidade as fraturas ósseas. Pressentiram a importância do coração
e, na observação das propriedades terapêuticas de certas drogas, adquiriram alguns
conhecimentos de farmaco-dinâmica".
IV - O EGITO E OS FILHOS DE ISRAEL
O relacionamento de Israel com o Egito remonta à Era Patriarcal. Premidos pela
fome e outras agruras, Abraão e Isaque desceram à terra dos faraós, onde sofreram sérios
constrangimentos. O primeiro e maior patriarca hebreu, por exemplo, esteve prestes a perder
a esposa, cuja beleza embeveceu o rei daquela nação. Não fosse a intervenção divina. Sara
não seria contada entre as ilustres mães do povo israelita.
Em sua velhice, Abraão recebe esta sombria revelação do Senhor: "Saibas, de certo,
que peregrina será a tua semente em terra que não é sua, e servi-los-ão; e afligi-los-ão
quatrocentos anos; mas também eu julgarei a gente, a qual servirão, e depois sairão com
grande fazenda. E tu irás a teus pais em paz; em boa velhice serás sepultado. K a quarta
geração tornará para cá; porque a medida da injustiça dos amorreus não está ainda cheia"
(Gn 15.13-16).
1 - José, primeiro-ministro do Egito
Estêvão, sábio diácono da igreja primitiva, conta-nos como José chegou a primeiroministro
do Faraó: "E os patriarcas, movidos de inveja, venderam a José para o Egito. mas,
Deus era com ele. E livrou-o de todas as suas tributações, e lhe deu graça e sabedoria ante
Faraó, rei do Egito. que o constituiu governador sobre o Egito e toda a sua casa. Sobreveio
então a todo o país do Egito e de Canaã fome e grande tributação; e nossos pais não
achavam alimentos. Mas, tendo ouvido Jacó que no Egito havia trigo, enviou ali nossos
pais, a primeira vez. E, na segunda vez foi José conhecido por seus irmãos, e a sua linhagem
foi manifesta a Faraó. E José mandou chamar a seu pai Jacó e a toda sua parentela, que era
de setenta e cinco almas" (At 7.9-14).
Não obstante sua humilde condição de escravo, José tornou-se primeiro-ministro do
Faraó. E, por seu intermédio, Deus salvou toda a descendência de Israel. Não fosse o
providencial ministério exercido por esse intrépido hebreu, a progênie abraâmica ver-se-ia
em grandes dificuldades. Sua história é uma das obras-primas da humanidade.
José chegou ao Egito no Século XX a.C. Nesse tempo, segundo os historiadores, os
hicsos dominavam o país. Sendo, também, semitas, os novos senhores da terra não tiveram
dificuldades em demonstrar sua magnanimidade aos hebreus. Mostrando-se liberais e
generosos, ofereceram aos israelitas a região de Gósen, onde a linhagem abraâmica
desenvolveu-se sobremaneira.
2 - Moisés
Continua Estêvão a contar a história dos israelitas no Egito:
Aproximando-se, porém, o tempo da promessa que Deus tinha feito a Abraão, o povo
cresceu e se multiplicou no Egito; até que se levantou outro rei, que não conhecia a José.
Esse, usando de astúcia contra a nossa linhagem, maltratou nossos pais, a ponto de os fazer
enjeitar as suas crianças, para que não se multiplicassem. Nesse tempo, nasceu Moisés, e era
mui formoso, e foi criado três meses em casa de seu pai. E, sendo enjeitado, tomou-o a filha
de Faraó, e o criou como seu filho. E Moisés foi instruído em toda a ciência dos egípcios; e
era poderoso em suas palavras e obras.
"E, quando completou a idade de quarenta anos, veio-lhe ao coração ir visitar seus
irmãos, os filhos de Israel. E, vendo maltratado um deles, o defendeu, e vingou o ofendido,
matando o egípcio. E ele cuidava que seus irmãos entenderiam que Deus lhes havia de dar a
liberdade pela sua mão; mas eles não entenderam. E no dia seguinte, pelejando eles, foi por
eles visto, e quis levá-los à paz, dizendo: Varões, sois irmãos; por que vos agravais um ao
outro? E o que ofendia o seu próximo o repeliu, dizendo: Quem te constituiu príncipe e juiz
sobre nós? Queres tu matar-me, como ontem mataste o egípcio?
"E a esta palavra fugiu Moisés, e esteve como estrangeiro na terra de Midiã, onde
gerou dois filhos. E, completados quarenta anos, apareceu-lhe o anjo do Senhor, no deserto
do monte Sinai, numa chama de fogo de um sarçal. Então Moisés, quando viu isto,
maravilhou-se da visão; e, aproximando-se para observar, foi-lhe dirigida a voz do Senhor:
"Eu sou o Deus de teus pais, o Deus de Abraão, e o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó. E
Moisés, todo trêmulo, não ousava olhar. E disse-lhe o Senhor: Tira as alparcas dos teus pés,
porque o lugar em que estás é terra santa: Tenho visto atentamente a aflição do meu povo
que está no Egito, e ouvi os seus gemidos, e desci a livrá-los. Agora, pois, vem, e enviar-teei
ao Egito.
"A este Moisés, ao qual haviam negado, dizendo: Quem te constituiu príncipe e juiz?
a este enviou Deus como príncipe e libertador, pela mão do anjo que lhe aparecera no sarçal.
Foi este que os conduziu para fora, fazendo prodígios e sinais na terra do Egito, e no mar
Vermelho, e no deserto, por quarenta anos. Este é aquele Moisés que disse aos filhos de
Israel: ü Senhor vosso Deus vos levantará dentre vossos irmãos um profeta como eu; a ele
ouvireis" (At 7.17-37).
Israel deixou o Egito no Século XV a.C. Depois do Êxodo, israelitas e egípcios
voltariam a se enfrentar no tempo dos reis e no chamado período inter-bíblico. Recentemente,
com a independência do moderno Estado de Israel, as forças judaicas defrontaram-se
com as egípcias diversas vezes. O antagonismo entre ambos os povos é milenar. Entretanto,
o futuro dessas nações será de paz e glória: "Naquele dia haverá estrada do Egito até a
Assíria, e os assírios virão ao Egito, e os egípcios irão à Assíria: e os egípcios adorarão com
os assírios ao Senhor. Naquele dia Israel será o terceiro com os egípcios e os assírios, uma
bênção no meio da terra. Porque o Senhor dos Exércitos os abençoará, dizendo: Bendito seja
o Egito, meu povo, e a Assíria, obra de minhas mãos, e Israel, minha herança" (Is 19.23-25).
Assíria
Sumário: Introdução. I - A geografia assíria. II -A história assíria. III - As
relações entre a Assíria e Israel.
INTRODUÇÃO
Os assírios jactavam-se de descender de Assur, filho de Sem e neto de Noé (Gn
10.11). Esse ilustre patriarca deixou a planície de Sinear para estabelecer-se em uma cidade
localizada na orla oriental do Tigre, que passou a levar seu nome.
Durante muito tempo, os descendentes desse renomado semita tiveram uma tranqüila
existência. Abstinham-se de conílitos abrangentes.
I - A GEOGRAFIA ASSÍRIA
O território assírio, no princípio, era inexpressivo. Perdia-se entre as grandes
possessões dos países circundantes. Com o passar dos séculos, foi se estendendo e
abarcando muitas nações vizinhas, transformando-se em um grande império. As fronteiras
assírias, porém, nunca foram definidas. Variavam de conformidade com as vitórias ou
derrotas dos soberanos de Assur.
No ápice de sua glória, a Assíria ocupava uma área que ia do Norte da atual Bagdá
até as imediações dos lagos Van e Urmia. Na linha leste-oeste, ia dos montes Zagros até o
vale do rio Habur. Tendo em vista a sua privilegiada posição geográfica, era alvo de
constantes invasões dos nômades e nativos do Norte e do Nordeste.
II - A HISTÓRIA ASSÍRIA
Durante muitos séculos, Nínive manteve-se inexpressiva no cenário assírio. Em
2.350 a.C, contudo, Sargão transformou-a na capital dos filhos de Assur. A partir de então, a
cidade tornou-se participante das glórias e derrotas da Assíria.
Nínive é a própria história do Império Assírio.
No Século XII a.C, os assírios começam a demonstrar suas intenções hegemônicas.
Sob a poderosa influência do rei Tiglete-Pileser, encetam várias campanhas militares,
visando à expansão de seu território. Nessa época, subjugaram facilmente os sidônios.
Os assírios, entretanto, não possuíam guarnições suficientes para manter suas
conquistas. Enquanto marchavam em direção ao Ocidente, os vassalos orientais rebelavamse.
A Assíria, em conseqüência desses insucessos militares, sofre clamorosas perdas
territoriais.
O enfraquecimento do império assírio favoreceu a consolidação do reino davídico.
Duzentos anos mais tarde, a Assíria fez novas tentativas para dominar o mundo.
Salmaneser II, primeiro soberano assírio a ser mencionado nas crônicas hebraicas, derrotou,
na batalha de ('arcar, na Síria, uma coligação militar formada por sírios, fenícios e israelitas.
Passados doze anos, ele volta a enfrentar a aliança palestínica. E, à semelhança da
primeira vez, vence-a. Rumores do Oriente, entretanto, fazem-no voltar à Assíria. Frustrado,
abandona suas conquistas.
No Século VIII a.C, a Assíria começa a estabelecer-se, de fato, no Ocidente.
Tiglete-Peliser II estende as fronteiras de seu império até Israel. Mostrando quão
ilimitada era a sua autoridade, obriga o rei israelita, Manaén, a pagar-lhe tributos.
Mais tarde, ajuda Acaz, rei de Judá, a livrar-se das investidas do reino de Israel.
Oportunista, toma dez cidades israelitas e translada sua população à Assíria. Como se isso
não bastasse, desaloja as tribos de Rubem, Gade e Manasses das possessões que elas
receberam de Josué, sucessor de Moisés.
A Assíria teve o seu apogeu entre 705 a 626 a.C. Período que abrange os reinados de
Senaqueribe, Esar-Hadom e Assurbanipal. Esse clímax de prosperidade e brilho é demasiado
efêmero. Aliás, o poder humano, por mais invencível que se mostre, não passa de
vaidade, de tolas vaidades.
O império assírio desmorona-se!
Em 616 a.C, Nabopolassar, governador de Babilônia, subleva-se e declara a
independência dos territórios sob sua jurisdição. Decidido a arrasar com o já minado
poderio assírio, alia-se ao rei medo Ciaxares. Este, em 614 a.C, conquista e destrói
totalmente Nínive, para onde Jonas fora enviado a proclamar os juízos do Eterno contra os
reticentes filhos de Assur.
Com a queda de Nínive, desaparece a glória da Assíria.
III - AS RELAÇÕES ENTRE A ASSÍRIA E ISRAEL
Visando atingir a hegemonia absoluta do Médio Oriente, a Assíria desencadeou
várias crises com seus vizinhos ocidentais: sírios, fenícios e hebreus. Esses povos separavam
Assur de seu terrível e ambicioso rival - o Egito.
Enquanto Nínive não se impõe no Ocidente, Davi solidifica seus domínios, alargados
e engrandecidos por Salomão.
Os filhos de Abraão estavam protegidos do imperialismo assírio por seus vizinhos
setentrionais, cujos territórios formavam uma área defensável às suas possessões. Com a
queda da Síria e da Fenícia, porém, os reinos de Israel e Judá tornaram-se mais vulneráveis,
não bastassem o sectarismo e a rivalidade entre ambos.
Em 723 a.C. a Assíria destrói Israel e deporta as dez tribos que o compunham.
Desaparece o Reino do Norte, fundado por Jeroboão, depois de uma atribulada existência de
dois séculos.
Roteiro da deportação das 12 tribos á Assíria
Deportar para outras terras os povos subjugados e arrefecer-lhes o ardor nacionalista.
Esta era a política assíria; visava do extermínio moral das nações conquistadas. Povo cruel,
os assírios esfolavam vivos seus prisioneiros: cortavam-lhes as mãos, os pés, o nariz e as
orelhas; vazavam-lhes os olhos; arrancavam-lhes as línguas. Funéreos artistas, faziam
montes de crânios humanos.
As hordas assírias tentaram apoderar-se, também, de Judá. Foram os assírios
obrigados a se concentrarem nos levantes da ('aldeia, onde exalariam seu último suspiro
como império.
Babilônia
Sumário: Introdução. I - História de Babilônia. II - Geografia de Babilônia. III -
A grandeza de Babilônia. IV - Babilônia e o povo de Judá. V - O fim de Babilônia.
INTRODUÇÃO
Babilônia, nas Sagradas Escrituras, é sinônimo de poder e glória. A história desse
império, simbolizado pelo ouro, é antiquíssima. Trata-se de uma das primeiras civilizações
da Terra. As crônicas babilônicas estão intimamente associadas com as da Mesopotâmia -
berço da raça humana.
Como não associar, também, a história babilônica à hebraica? Séculos de convívio,
nem sempre belicosos, ligam ambos os povos. Babilônios e hebreus, segundo alguns
estudiosos, são oriundos de uma mesma família semita. O patriarca Abraão, a propósito, é
originário de Ur dos Caldeus.
Conhecer Babilônia é, acima de tudo, vislumbrar as funestas conseqüências da
soberba humana.
I - HISTÓRIA DE BABILÔNIA
Como já dissemos, Babilônia é uma cidade antiquíssima. A data de sua fundação é
incerta. No entanto, sua conexão com Acad e Calnesh (Gn 10.10), leva-nos a supor tenha
sido ela estabelecida por volta de 3.000 a.C! A história da mais importante metrópole do
Fértil Crescente não passa de uma longa série de sangrentas lutas. Ambiciosos soberanos
encetaram as mais renhidas guerras para expandirem Babilônia e preservarem seu território.
Babilônia foi sitiada vezes sem conta. É difícil calcular, também, quantas vezes seus
muros e templos foram arrasados. Ávidos inimigos despojavam-na, com freqüência, de seus
fabulosos tesouros. Seus orgulhosos habitantes sofreram os mais inumanos ataques. Essa
opulentíssima cidade, todavia, levantava-se com mais brilho e pujança até tornar-se, no
tempo de Nabucodonozor, em uma das maravilhas do mundo.
Durante séculos, Babilônia permaneceu sob a tutela assíria. O governador da Caldéia,
Nabopolassar, levanta-se, porém, contra a hegemonia de Nínive. Auxiliado pelos medos,
sacode de si o jugo assírio. Em 622 a.C, ele é proclamado rei, em Babilônia. Tem início,
dessa forma, uma nova dinastia na Mesopotâmia. O intrépido monarca combate, sem
tréguas, o exército assírio. Com a tomada de Nínive, consolida, definitivamente, a sua
soberania nessa região.
O novo império, entretanto, teria de se defrontar com a ambição egípcia. Neco, rei do
Egito, aproveitando-se dos insucessos da Assíria, enceta uma grande campanha contra o
poder emergente de Babilônia. Chega a apoderar-se, inclusive, da metade do Fértil
Crescente. Seu triunfo, porém, não é duradouro.
Nabucodonozor dirige-se contra o faraó e o vence em Carquemis, no ano 606 a.C.
(Quando celebrava a vitória, o príncipe herdeiro de Babilônia recebe a triste notícia da
morte de seu pai. Regressa, então, imediatamente à capital do novel império onde, no ano
seguinte, é coroado rei.
Empreendedor, dá início a gigantescas construções que fariam de seu reino, em
tempo recorde, uma das maiores maravilhas do mundo.
II - GEOGRAFIA DE BABILÔNIA
Babilônia abrange os territórios da Mesopotâmia que vai de Hit e Samaria, no Norte
de Bagdá, até o Golfo Pérsico. As possessões babilônicas ocupavam, por conseguinte, os
antigos territórios de Sumer e Acad.
Babilônia foi plantada em uma fértil região, onde as chuvas eram constantes,
possibilitando o surgimento, no local, de grandes civilizações, desde os primórdios da humanidade.
Foi justamente nessa abençoadíssima área que floresceu o império de
Nabucodonozor. Até os dias de hoje, Babilônia lembra opulência e prosperidade.
Essa notória cidade vem despertando crescente interesse de judiciosos pesquisadores.
Em 1956 e 1957, arqueólogos norte-americanos constataram a existência de uma vasta rede
de canais entre Bagdá e Nippur. Esse sistema de irrigação, super-avançado na época, fez de
Babilônia uma potência agrícola.Enquanto outros povos passavam ingentes necessidades, os
babilônios desfrutavam de fartura. A escassez de alimentos era algo ignorado pelos caldeus.
Nessa região, as pedras eram bastante raras. Em compensação, havia abundância de
cerâmica. Por isso as construções babilônicas consistiam, basicamente, de tijolos.
Além da cidade de Babilônia, propriamente dita, havia, também, a Grande Babilônia
formada pelas seguintes cidades-satélites: Sippar, Kuta, Kis, Borsippa, Nippur, Uruk, Ur,
Eridu. Babilônia ficava sobre o Eufrates. Dizem os estudiosos que poucas cidades foram tão
privilegiadas pela natureza como essa. Com sobeja razão, pois, é considerada a metrópole
dourada.
III - A GRANDEZA DE BABILÔNIA
A primeira tarefa de Nabucodonozor foi reconstruir Babilônia, destruída por
Senaqueribe, em virtude de suas muitas rebeliões. Para conseguir o seu intento, o monarca
caldeu desfechou diversas campanhas, objetivando levar para a cidade milhares de cativos
para reconstruí-la.
Entre outras coisas, construiu um muro em redor de Babilônia. Dizem os entendidos
que se tratava, realmente, de uma formidável muralha. Visava Nabucodonozor tornar
inexpugnável a capital de seu império. Humanamente falando, nenhuma potência
estrangeira poderia tomá-la. Tão largos eram esses muros, que duas carruagens poderiam
trafegar sobre eles tranqüilamente.
O maior mérito desse empafioso soberano, entretanto, foi reedificar Babilônia.
Historiadores antigos, como Heródoto, maravilharam-se ante a imponência e a grandiosidade
dessa cidade. Para alguns mais exaltados, só os deuses seriam capazes de erguer tal
monumento, à soberba humana, é claro.
Babilônia estava edificada sobre ambas as margens do rio Eufrates. Protegia-a uma
dupla muralha. De acordo com os cálculos fornecidos por Heródoto, esses muros, com 56
milhas de circunferência, encerravam um espaço de 200 milhas quadradas. Buckland, em
seu Dicionário Bíblico Universal, dá-nos mais alguns detalhes acerca das grandezas
babilônicas: "Nove décimas partes dessas 200 milhas quadradas estavam ocupadas com
jardins, parques e campos, ao passo que o povo vivia em casas de dois, três e quatro
andares. Duzentas e cinqüenta torres estavam edificadas por intervalos nos muros, que em
cem lugares estavam abertos e defendidos com portões de cobre. Outros muros havia ao
longo das margens do Eufrates e juntos aos seus cais. Navios de transporte atravessavam o
rio entre as portas de um e de outro lado, e havia uma ponte levadiça de 30 pés de largura,
ligando as duas partes da cidade. O grande palácio de Nabucodonozor estava situado numa
das extremidades desta ponte, do lado oriental. Outro palácio, a admiração da humanidade,
que tinha sido começado por Nabopolassar, e concluído por Nabucodonozor, ficava na parte
ocidental e protegia o grande reservatório. Dentro dos muros deste palácio elevavam-se, a
uma altura de 75 pés, os célebres jardins suspensos, que se achavam edificados na forma de
um quadrado, com 400 pés de cada lado, estando levantados sobre arcos."
Ao construir Babilônia, símbolo de sua opulência, Na-bucodonozor não se esqueceu
de reverenciar os falsos deuses. O Templo de Bel é um exemplo desse exagero idolátri-co.
Esse monumento, com quatro faces, constituía-se em uma pirâmide de oito plataformas,
sendo a mais baixa de 400 pés de cada lado. Quem nos descreve essa irreverência da
engenhosidade humana é o já citado Buckland: "Sobre o altar estava posta uma imagem de
Bel, toda de ouro, e com 40 pés de altura, sendo também do mesmo precioso metal uma
grande mesa e muitos outros objetos colossais que pertenciam àquele lugar sagrado. As
esquinas deste templo, como todos os outros templos caldaicos, correspondiam aos quatro
pontos cardeais da esfera. Os materiais, empregados na grandiosa construção, constavam de
tijolos feitos do limo, extraído do fosso, que cercava toda a cidade."
A grandiosidade de Babilônia levou Nabucodonozor a esquecer-se de sua condição
humana e a julgar-se o próprio Deus. Em conseqüência disso, ele foi punido pelo Todopoderoso.
Só reconheceu a sua exigüidade, depois de passar sete anos com as bestas feras.
IV - BABILÔNIA E O POVO DE JUDÁ
Deus, sem dúvida alguma, permitiu a ascensão de Babilônia para punir a
impenitência das nações do Médio Oriente. Nem mesmo Judá escaparia da ação judicial do
Eterno. A tribo do rei Davi, que se convertera no Reino do Sul, em virtude do cisma israelita
ocorrido em 931 a.C, perverteu a aliança mosaica. A maioria dos soberanos judeus adorou e
permitiu a adoração de falsos deuses, induzindo o povo à apostasia.
Não obstante a candente advertência dos santos profetas, os judeus continuaram
reticentes. O Senhor Deus, por isso, resolveu puni-los. Quem seria o instrumento de sua
justiça? Respondem os profetas: Babilônia. Conforme já dissemos, tão logo Nabopolassar
vence os últimos redutos da resistência assíria, volta-se para a Palestina, disposto a
conquistá-la e aumentar o seu império. - O que poderia fazer Judá para conter a avalanche
babilônica? - Nada; absolutamente nada. Para Jeremias, por exemplo, o fim do Reino de
Judá viria inexoravelmente. O profeta, por isso mesmo, recomendou ao monarca judaíta que
se submetesse ao soberano babilônico.
Nabopolassar, todavia, não pôde dar consecução aos seus planos de expansão
territorial, em virtude de sua morte inesperada. Caberia, por conseguinte, ao seu filho e sucessor
natural, Nabucodonozor. assegurar a hegemonia babilônica no Médio Oriente. Após
ser coroado, o jovem monarca volta a sua atenção à terra de Judá.
Depois de vencer as forças judaicas, Nabucodonozor faz de Jeoaquim seu vassalo. O
representante da dinastia davídica obriga-se a enviar a Babilônia, regularmente, vultosos
impostos. Em 603 a.C, porém, o rei de -Judá resolve não mais cumprir os compromissos
assumidos com o regime babilônico.
Irado, Nabucodonozor dirige-se a Judá e a sitia. Chega ao fim o Reino do Sul,
fundado por Roboão. O monarca babilônico, ainda insatisfeito, prende o rei Joaquim,
juntamente com a nobreza judaica, e o deporta para a Babilônia. Entre os exilados,
encontram-se, Daniel, Sadraque, Mesaque e Abednego. Como despojo, o destemido
conquistador leva consigo os vasos sagrados da Casa do Senhor.
No ano seguinte, Zedequias assume o trono de Judá. Títere, seria obrigado a pagar,
fielmente, tributos a Nabucodonozor. Durante oito anos, o sucessor de Joaquim mantém-se
fiel a Babilônia. Em 597, porém, subleva-se, causando a destruição de Jerusalém e a
deportação dos restantes filhos de Judá. Na terra desolada, ficaram apenas os pobres.
O castigo de Jerusalém foi indescritível. Os exércitos de Nabucodonozor caíram
como gafanhotos sobre a cidade do Grande Rei. Destruíram seus palácios, derribaram seus
muros e deitaram por terra o Santo Templo. O lugar mais santo e mais reverenciado pelos
hebreus não mais existia. O mais suntuoso monumento do Médio Oriente não passava,
agora, de um monturo. Os judeus, doravante, andariam errante, por 70 anos em uma terra
estrangeira e idolatra. O exílio, contudo, seria assaz benéfico à progênie de Abraão, que não
mais curvar-se-ia ante os falsos deuses.
V - O FIM DE BABILÔNIA
O Império Babilônico, fundado por Nabopolassar, não teve uma vida bastante longa.
Em menos de um século, já emitia sinais de fraqueza e degenerescência. Enquanto isso, a
coligação medo-persa fortalecia-se continuamente e se preparava para conquistar a dourada
prostitura do Fértil Crescente - Babilônia.
Em 538 a.C, quando Belsazar participava, juntamente com seus altos oficiais e suas
prostitutas, de uma desenfreada orgia, os exércitos medo-persas tomaram Babilônia,
transformando-a em uma possessão ariana. Naquela mesma noite, a propósito, o Todopoderoso
revelara, por intermédio de Daniel, quão funesto seria o fim do domínio babilônico.
Dario, um dos mais destemidos e proeminentes generais de Ciro II, tomou Babilônia
e matou o libertino Belsazar. Tinha início, assim, o Império Medo-persa.
O Império Persa
Sumário: Introdução. I - História do Império Persa. II - Geografia do Império
Persa. III - O Império Persa e os judeus. IV - Fim do Império Persa.
INTRODUÇÃO
Com a destruição do Império Babilônico surge uma nova superpotência no Médio
Oriente. A coligação medo-persa transforma-se, rapidamente, em um vastíssimo reino. No
tempo de Assuero, por exemplo, a Pérsia dominava sobre 127 províncias, da índia à Etiópia.
Jamais surgira reino de tão dilatadas possessões!
Durante o Império Persa, os judeus foram tratados com longanimidade e
condescendência. Permitiam-lhes os soberanos persas, por exemplo, as manifestações de sua
religiosidade e tradições nacionais. Nesse período, obtêm os dispersos de Judá permissão
para voltar à amada e inesquecível Terra de Israel e reconstruir o santo Templo e suas casas.
Como todo o poderio humano é efêmero, o Império Persa não deixaria de exalar o
último suspiro. Em seu lugar, outro reino emergiria. A História vai sendo escrita com a
ascensão e queda dos impérios. A soberana vontade do Todo-poderoso, entretanto,
permanece incólume e absoluta.
I - HISTÓRIA DO IMPÉRIO PERSA
O capítulo dez de Gênesis é conhecido como a genealogia das nações. Nele, estão
registrados os nomes dos principais patriarcas da raça humana. Não encontramos, porém,
nessa importante porção das Sagradas Escrituras, o cadastro da ancestralidade persa. Julgase,
por isso, ter a Pérsia começado a formar-se séculos após a dispersão da Torre de Babel.
A nação persa é o resultado da fusão de povos oriundos do Planalto Iraniano:
cassitas, elamitas, gutitas e lulubitas. A mais antiga comunidade persa é a de Sialk. Por
muitos séculos, esse povo esteve envolvido em completo anonimato. Suas alianças políticas
variavam de acordo com as tendências da época. Ao aproximar-se da Média, contudo,
começa a descobrir o valor de sua nacionalidade e as suas reais potencialidades.
A Pérsia, durante o Império Babilônico, não passava de um Estado vassalo da Média.
Ambas as nações, porém, mantinham, até certo ponto, uma convivência pacífica, em virtude
de possuírem algumas heranças comuns: eram indu-européias e dedicavam-se à criação de
gado cavalar. Com o passar dos tempos, todavia, os persas aumentam o seu poderio e
começam a desvencilhar-se dos tentáculos medos.
Ciro II consegue, em 555 a.C, reunificar as várias tribos persas. Sentindo-se
fortalecido, lança-se sobre a Média. Depois de três anos de renhidas batalhas, derrota-a. A
vitória desse monarca é tão retumbante, que causa espécie em toda a região. Temerosos, os
reinos vizinhos reúnem-se com o objetivo de formar uma aliança para frustrar as intenções
hegemônicas do novo reino.
Perspicaz e oportunista, Ciro II move uma guerra generalizada contra essa coligação,
abatendo-a em seu nascedouro. Em uma bem sucedida série de ataques relâmpagos, derrota
a Lídia e a Babilônia. Espantadas com o ímpeto bélico desse monarca, Esparta e Atenas
firmam um acordo de paz com a Pérsia.
Dario encarrega-se da conquista de Babilônia. Na noite de 538 a.C. esse importante
general de Ciro II, aproveitando-se da embriaguez de Belsazar e de seus nobres, conquista a
mais bela e suntuosa cidade daquela época. O príncipe babilônico, conforme previra o
profeta Daniel, é deposto e morto. O Todo-poderoso servira-se dos persas para contar, pesar
e dividir o império fundado por Nabopolassar.
Condescendente, Dario resolve poupar a vida do pai de Belsazar. Na fatídica noite da
queda de seu reino, Nabonido encontrava-se em viagem, realizando (quem sabe?)
escavações arqueológicas, pois deliciava-se com o estudo das coisas antigas. Desterrado
para a Carcâmia, seria nomeado, posteriormente, um dos governadores regionais do novo
soberano.
Inicialmente, Dario foi designado, por Ciro II, para governar Babilônia. Enquanto
isso, consolidava os alicerces do poderio medo-persa. É bom esclarecermos que a Média,
apesar de derrotada pela Pérsia, uniu-se a esta, imediatamente, para conseguir a hegemonia
do mundo de então.
Ciro II, conforme já dissemos, mostrava-se tolerante com os vencidos. Procurava
tratá-los com dignidade e consideração. Souto Maior traça o perfil desse controvertido
persa: "Ciro foi, é verdade, um conquistador, porém não teve o aspecto primário dos
monarcas guerreiros de sua época. Sua dominação se fazia opressiva pelas obrigações
econômicas exigidas, o que aliás explica as constantes revoltas. Contudo, seu imperialismo
era sem dúvida superior ao primitivismo cruel dos conquistadores assírios."
Quando de sua morte, em 529 a.C, o Império Persa já abarcava infindáveis
possessões.
II - GEOGRAFIA DO IMPÉRIO PERSA
Documentos desenterrados nas últimas décadas revelam-nos existirem duas Pérsias.
A Grande Pérsia, localizada no Sudeste do Elã, e que correspondia à área ocupada
atualmente pelo Irã. Por seu turno, a Pequena Pérsia limitava-se, ao Norte, pela Magna
Média.
Em um sentido amplo, o território persa compreendia o planalto do Irã, toda a região
confinada pelo Golfo Pérsico, os vales do Tigre e do Ciro, o mar Cáspio e os rios Oxus,
Jaxartes e Indo. No tempo de Assuero, marido de Ester, as possessões persas estendiam-se
da índia à Grécia, do Danúbio ao Mar Negro, e do Monte Cáucaso ao Mar Cáspio ao Norte
e atingia, ainda, o deserto da Arábia e Núbia.
III - O IMPÉRIO PERSA E OS JUDEUS
Durante a dominação babilônica, os judeus não gozavam de muitas prerrogativas.
Com muito custo e, enfrentando grandes dificuldades, conseguiram manter sua religião e
suas tradições nacionais. Em seus 70 anos de exílio, os filhos de Abraão foram provados,
aliás, dura e inumanamente. Reconheceram, entretanto, quão amargos frutos colhiam em
conseqüência de sua idolatria e que não existe outro Deus, além do Santo de Israel.
Com a ascensão do Império Persa, descortinam-se-lhes novos e promissores
horizontes. O Senhor usa o rei Ciro para autorizar-lhes o regresso a Sião. No primeiro ano
de reinado desse ilustre soberano, os filhos de Judá são liberados a retornar à terra de seus
antepassados. A frente dos repatriados, ia o governador Zorobabel que, nos anos
subseqüentes, seria o principal baluarte da reconstrução do nosso Estado Judaico.
Não fosse a liberalidade de Ciro, tratado por Deus como "meu servo", os judeus não
teriam condições de se dedicarem a cumprir tão formidável tarefa. Sob a vista dos
sucessores do fundador do Império Persa, os muros e o Templo de -Jerusalém foram
reconstruídos em tempo recorde. O diligente Zorobabel, o destemido Neemias, o erudita
Esdras e o judicioso sumo sacerdote Josué, contaram com o respaldo da monarquia persa,
no santo cumprimento de seus deveres.
Ciro mostrou-se tão liberal que, inclusive, devolveu aos líderes judaicos parte dos
tesouros do Templo levados a Babilônia por Nabucodonosor. Atrás da generosidade persa,
contudo, estava a potente mão de Deus!
02
No tempo da rainha Ester, mulher do poderoso Assue-ro, vemos, uma vez mais, o
Senhor usar o poderio persa em favor de seu povo. Não obstante as maquinações de Hamà.
o Deus de Abraão, Isaque e Jacó forçou o soberano persa a ver com simpatia a causa dos
exilados judeus. For intermédio da belíssima prima de Mardoqueu, o Todo-poderoso
intervém em favor da nação judaica e concede-lhe grande livramento.
O ministério de Ester é tão glorioso que, ao interceder, junto ao seu esposo, pela vida
de seu povo, estava preservando, indiretamente, a existência do Salvador. Fossem os judeus
aniquilados pelo diabólico Hamã e toda a ancestralidade de Cristo extinguir-se-ia nos
limites do Império Persa.
IV - FIM DO IMPÉRIO PERSA
O Império Persa resplandecia no Oriente. No Ocidente, enquanto isso, a Grécia
começa a desenvolver-se e a tornar mais marcante a sua presença no concerto das nações.
Delineava-se, dessa maneira, o fim do imperialismo persa. Quão exatas mostravam-se as
profecias de Daniel! Segundo ele predissera, a Grécia substituiria a Pérsia no comando
político daquela época. E, caberia a um intrépido macedônio a glória de pôr término à
expansão medo-persa.
O Império Grego
Sumário: Introdução. I - História da Grécia. II -Alexandre Magno. III - Geografia
da Grécia. IV - Os gregos e os judeus. V - Fim do Império Grego.
INTRODUÇÃO
A Grécia é o berço da civilização ocidental. Dos gregos, herdamos a democracia, a
concepção clássica das artes e, principalmente, a filosofia. Não obstante a exigüidade de
suas possessões geográficas, a antiga Grécia continua a nos influenciar. Não fossem os
helenos não haveria a tradicional divisão do mundo entre Ocidente e Oriente.
Amantes da liberdade e acostumados às discussões ao ar livre, os gregos legaram-nos
um inestimável tesouro - as bases de nossa civilização. Eles, ao contrário dos indianos,
chineses e outros povos orientais, discutiam racionalmente todos os assuntos pertinentes à
"polis", - cidade, em grego. Acariciados pelos ventos elísios, deleitavam-se em perquirir e
filosofar. Tornarem-se amigos da sabedoria - eis a sua maior ambição.
Sob essa atmosfera, tão propícia ao desenvolvimento do espírito, surgiram grandes
gênios: Tales, Empédocles, Pitágoras, Sócrates, Platão, Aristóteles e muitos outros. Visando
ao desenvolvimento integral do ser humano, os gregos não se preocupavam apenas com a
mente. Voltavam-se, com o mesmo afinco, ao aprimoramento físico. É comum, pois,
vislumbrarmos nas esculturas áticas verdadeiros Adônis e Vênus.
Sob o comando de Alexandre Magno, esse ilustre povo conquistou o mundo influente
de então e espalhou sua cultura por todas as terras. Foi esse soberano macedônio quem
destruiu o Império Persa. As façanhas desse jovem e audaz monarca tornaram-se
proverbiais.
I - HISTÓRIA DA GRÉCIA
A Grécia antiga estava dividida em cidades-estados. Sem coesão políticoadministrativa,
esses pequenos e até diminutos países estavam em constantes alterações.
Haja vista as repetidas escaramuças entre Esparta e Atenas. Os gregos eram unidos somente
por laços culturais e religiosos. Quando o perigo os ameaçava, firmavam, porém, alianças
provisórias.
O Século V a.C, marca o auge da Grécia. Nessa longínqua época, Péricles assume o
comando político de Atenas e começa a apoiar, maciçamente, os empreendimentos
culturais. Brilhante orador e possuidor de invulgar gênio administrativo, transforma a capital
da Ática na mais importante cidade do mundo.
Em meio a tão viçosa democracia, despontam os filósofos, escultores, pintores,
dramaturgos, poetas, arquitetos, médicos, etc. Essa importantíssima Era da história grega
passa a ser conhecida como o Século de Péricles. Jamais os helenos voltariam a presenciar
tanto desenvolvimento e tamanha glória.
No século seguinte, os gregos tornam-se alvo das intenções hegemônicas de Felipe II
da Macedônia.
II - ALEXANDRE MAGNO
Limitando-se ao sul com a Grécia, a Macedônia estava destinada a dominá-la e a
encabeçar o domínio heleno do mundo. Seus habitantes, à semelhança dos gregos, eram de
origem indo-européia. A cultura macedônia, contudo, é considerada bem inferior à grega.
Nesse país, cuja área é ocupada hoje pela Iugoslávia, nasceu Felipe II.
Capturado por um bando de gregos, em meados do Século Quarto a.C, esse irrequieto
macedônio é levado a Tebas, onde domina as artes bélicas da Grécia. Em seu exílio, elabora
audaciosos planos: modernizar os exércitos da Macedônia e unir todos os helenos sob o seu
comando. Eis sua grande obsessão: subjugar o Império Persa. De volta à sua terra, dá largas
às suas pretensões hegemônicas. Em pouco tempo, transforma as forças armadas
macedônias em uma eficaz e formidável máquina de guerra. Com ímpeto, domina as
cidades-estados gregas.
Entretanto, quando se preparava para atingir o auge de suas realizações militares, é
assassinado. Deu-se o desenlace durante as núpcias de sua filha e às vésperas de invadir a
Ásia Menor. Prematuramente tolhido por tão bárbara fatalidade, desaparece sem dar
consecução aos seus ambiciosos planos.
Caberia ao seu filho concretizar-lhe os ideais.
"Um dos maiores gênios militares de todos os tempos". Assim é descrito Alexandre
Magno. Nascido em 356 a.C, teve uma primorosa educação. Seu preceptor foi, nada mais
nada menos, que Aristóteles. Aos pés do mais exato dos filósofos gregos, o príncipe
macedônio universaliza-se. Com o alargamento de sua visão do mundo, passa a contemplar
a humanidade como uma só família.
Como, porém, concretizar esse ideal?
Conquistador inato e guerreiro audaz, declara sua intenção: conquistar a Terra. Não
obstante seus 20 anos, reafirma sua autoridade sobre os gregos e, à testa de um exército de
40 mil homens, marcha em direção aos persas. Com fúria sobre-humana, derrota Dario
Codomano, que possuía uma descomunal guarnição de mais de 800 mil homens.
Após destruir o poderio persa, Alexandre Magno prossegue, conquistando terras e
mais terras no Oriente. Ao chegar ao rio Indu, na índia, seus homens convencem-no a voltar
à terra natal. Cansados e com saudades, eles almejavam rever a Grécia e voltar ao convívio
familiar.
Percebendo estar o moral de seu exército um pouco baixo para novas conquistas, o
soberano macedônio resolve regressar. Foi-lhes a volta sobremodo penosa. Suportaram, por
longos meses, alucinante sede e infindáveis caminhadas sobre desérticas regiões. Muitos
tombaram sob o causticante calor do deserto.
Alexandre Magno, ao chegar a Babilônia, é recebido como um ente celestial.
Tributam-lhe divinas honrarias. Para os pobres mortais, não havia ser tão glorioso como o
príncipe macedônio. Os dias vindouros, contudo, revelam a verdade: o filho de Filipe II não
passava de um homem de carne e osso, sujeito aos caprichos da natureza e limitado pelos
absolutos desígnios de Deus.
Em 323 a.C., morreu repentinamente. Com ele, morreram também os seus sonhos de
ecumenizar a humanidade. Na cidade, palco de tantos acontecimentos importantíssimos para
a História, cai o bravo príncipe macedônio. O império desse jovem monarca não resiste à
sua morte. Conforme profetizara Daniel, as possessões alexandrinas são repartidas entre os
mais ilustres militares gregos.
Coube a Lísimaco a Trácia e uma parte da Ásia Menor. A Cassandro, a Macedônia e
a Grécia. A Seleuco, a Síria e o Oriente. E, a Ptolomeu, o Egito. De conformidade com as
palavras do Senhor, o Império Grego foi dividido. Desfazia-se, assim, o sonho panhelenístico
de um grande visionário.
Uma das maiores realizações de Alexandre Magno foi a difusão universal da cultura
grega. Esse magnífico empreendimento cultural facilitaria, mais tarde, a propagação global
do Evangelho. O apóstolo Paulo, por exemplo, em suas viagens missionárias, não encontrou
quaisquer dificuldades em se comunicar com os gentios, em virtude da internacionalização
do koinê - grego vulgar. O historiador
Robert Nichols Hasting afirma que os helenos deram substancial contribuição ao
plano salvífico de Deus.
III - GEOGRAFIA DA GRÉCIA
A Grécia constitui-se, praticamente, de uma península localizada no Sudeste da
Europa. Esse maravilhoso país é banhado por três mares: a leste, pelo Egeu; ao sul, pelo
Mediterrâneo; e a oeste pelo Jônico. A Macedônia ficava ao norte. Nos primórdios, o
território grego era conhecido como Acaia e limitava-se, ao sul da península. A região
ocupada por Atenas, nessa mesma época, era denominada de Ática.
Toda recortada pelo mar, a Grécia é cercada por muitas ilhas e ilhotas. A natureza
prodigalizou a Hélade com numerosas montanhas e abruptos declives. Negou-lhe,
entretanto, caudalosos rios e extensas planícies. A hidrografia grega é paupérrima. Por causa
disso, os helenos só cultivam sementes que resistam aos longos estios e às altas
temperaturas.
Em virtude da inclemência do clima e do solo de sua terra, os gregos começaram a
dar asas à sua imaginação. Sonharam com outras terras e vislumbraram novos horizontes.
Embevecidos de sonhos e esperanças, provocaram a sua diáspora, que durou do Século XII
ao Século VI a.C. Eles fundaram colônias nas ilhas do mar Egeu, do mar Mediterrâneo e do
mar Negro. Instalaram-se, ainda, na Ásia Menor, no Sul da Itália, no Norte da África e até
em Massília, território ocupado, hoje, pela França.
A partir do Século IV a.C. a história da Grécia entrelaça-se à da Macedônia. É bom
conhecermos, por conseguinte, algumas particularidades geográficas desse país que, sob a
roupagem helena, quase conquistou a Terra.
A Macedônia limitava-se, ao sul com a Grécia; ao leste, com o mar Egeu e com a
Trácia; ao norte, com os montes balcânicos; e, a oeste, com a Trácia e o Ilíaco.
Hodiernamente, o território macedônio é ocupado pela Grécia, Iugoslávia, Bulgária, Albânia
e a parte européia da Turquia. O país de Alexandre Magno era uma vastíssima planície
fértil, cercada de altas montanhas.
Na Macedônia, ficava a cidade de Filipos, onde o Evangelho, através de Paulo, foi
pregado, pela primeira vez, em território europeu. Dessa região estratégica, a Palavra de
Deus estendeu-se por toda a Europa, alcançando milhões de almas. O território macedônio,
portanto, serviu de importantíssima base missionária para o apóstolo dos gentios coroar de
êxitos a sua carreira cristã.
Alexandre Magno, lançou-se da Macedônia para conquistar o mundo. Do mesmo
lugar, o apóstolo Paulo lançou-se à Europa para ganhar o mundo, mas, para Cristo. As
glórias do príncipe macedônio, entretanto, feneceram. - E, as glórias do Evangelho? -
Continuam a brilhar!
IV - OS GREGOS E OS JUDEUS
De acordo com alguns historiadores, o contato de Alexandre Magno com os judeus
foi rápido e emocionante. O cronista hebreu Flávio Josefo narra-nos este encontro: "Dario,
tendo sabido da vitória obtida por Alexandre sobre seus generais, reuniu todas as forças,
para marchar contra ele, antes que se tornasse Senhor de toda a Ásia; depois de ter passado
o Eufrates e o monte Tauro, que está na Cilícia, resolveu dar-lhe combate. Quando
Sanabaleth viu que ele se aproximava de Jerusalém, disse a Manasses que cumpriria sua
promessa logo que Dario tivesse vencido Alexandre, pois ele, e todos os povos da Ásia
estavam convictos de que os macedônios, sendo em tão pequeno número, não ousariam
combater contra o formidável exército dos persas. Mas os fatos mostraram o contrário. A
batalha travou-se: Dario foi vencido com graves perdas; sua mãe, sua mulher e seus filhos
ficaram prisioneiros e ele foi obrigado a fugir para a Pérsia. Alexandre, depois da vitória,
chegou à Síria, tomou Damasco, apoderou-se de Sidom e sitiou Tiro. Durante o tempo em
que ele esteve empenhado nessa empresa, escreveu a Jaddo, Grão-Sacrificador dos judeus,
pedindo-lhe três coisas: auxílio, comércio livre com seu exército e o mesmo auxílio, que ele
dava a Dario, garantindo-lhe que se o fizesse, não teria de que se arrepender, por ter
preferido sua amizade à dele. O Grão-Sacrificador respondeu-lhe que os judeus tinham
prometido a Dario, com juramento, jamais tomar as armas contra ele e por isso não podiam
fazê-lo, enquanto ele vivesse. Alexandre ficou tão irritado com esta resposta, que mandou
dizer-lhes que logo que tivesse tomado Tiro, marcharia contra ele, com todo o seu exército,
para ensinar-lhe, e a todos, a quem é que se devia guardar um juramento. Atacou Tiro com
tanta força, que dela logo se apoderou; depois de ter regularizado todas as coisas, foi sitiar
Gaza onde Bahémes governava em nome do Rei da Pérsia.
"Voltemos, porém, a Sanabaleth. Enquanto Alexandre ainda estava ocupado do cerco
de Tiro, ele julgou que o tempo era próprio para realizar seu intento. Assim, abandonou o
partido de Dario e levou oito mil homens a Alexandre. O grande príncipe recebeu-o muito
bem; disse-lhe então ele que tinha um genro de nome Manasses, irmão do Grão-Sacrificador
dos judeus, que vários daquela nação se tinham juntado a ele pelo afeto que ele lhes tinha e
que ele desejava construir um templo perto de Samaria; que S. Majestade disso poderia tirar
grande vantagem, porque assim dividiria as forças dos judeus e impediria que aquela nação
pudesse se revoltar por inteiro e causar-lhe dificuldades, como seus antepassados tinham
dado aos reis da Síria. Alexandre consentiu no seu pedido; mandou que se trabalhasse com
incrível diligência na construção do templo e constituiu Manasses Grão-Sacrificador;
Sanabaleth sentiu grande alegria por ter granjeado tão grande honra aos filhos que ele teria
de sua filha. Morreu, depois de ter passado sete meses junto de Alexandre no cerco de Tiro e
dois no de Gaza. Quando este ilustre conquistador tomou esta última cidade, avançou para
Jerusalém e o Grão-Sacrificador Jaddo, que bem conhecia a sua cólera contra ele, vendo-se
com todo o povo em tão grave perigo, recorreu a Deus, ordenou orações públicas para
implorar o seu auxílio e ofereceu-lhe sacrifícios. Deus apareceu-lhe em sonhos na noite
seguinte e disse-lhe para espalhar flores pela cidade, mandar abrir todas as portas e ir
revestido de seus hábitos pontificais, com todos os sacrificadores, também assim revestidos
e todos os demais, vestidos de branco, ao encontro de Alexandre, sem nada temer do
soberano, por que ele os protegeria.
"Jaddo comunicou com grande alegria a todo o povo a revelação que tivera e todos se
preparam para esperar a vinda do rei. Quando se soube que ele já estava perto, o Grão-
Sacrificador, acompanhado pelos outros sacrificadores e por todo o povo, foi ao seu
encontro, com essa pompa tão santa e tão diferente da das outras nações, até o lugar
denominado Sapha, que, em grego, significa mirante, porque de lá se podem ver a cidade de
Jerusalém e o templo. Os fenícios e os caldeus, que estavam no exército de Alexandre, não
duvidaram de que na cólera em que ele se achava contra os judeus ele lhes permitiria
saquear Jerusalém e dai ia um castigo exemplar ao Grão-Sacrificador. Mas aconteceu
justamente o contrário, pois o soberano apenas viu aquela grande multidão de homens
vestidos de branco, os sacrificadores revestidos com seus paramentos de Unho e o Grão-
Sacrificador, com seu éfode, de cor azul, adornado de ouro, e a tiara sobre a cabeça, com
uma lâmina de ouro sobre a qual estava escrito o nome de Deus, aproximou-se sozinho dele,
adorou aquele augusto nome e saudou o Grão-Sacrificador, ao qual ninguém ainda havia
saudado. Então os judeus reuniram-se em redor de Alexandre e elevaram a voz, para
desejar-lhe toda sorte de felicidade e de prosperidade. Mas os reis da Síria e os outros
grandes, que o acompanhavam, ficaram surpresos, de tal espanto que julgaram que ele tinha
perdido o juízo. Parmênio, que gozava de grande prestígio, perguntou-lhe como ele, que era
adorado em todo o mundo, adorava o Grão-Sacrificador dos judeus. Não é a ele, respondeu
Alexandre, ao Grão-Sacrificador, que eu adoro, mas é a Deus de quem ele é ministro. Pois
quando eu ainda estava na Macedônia e imaginava como poderia conquistar a Ásia, ele me
apareceu em sonhos com esses mesmos hábitos e me exortou a nada temer; disse-me que
passasse corajosamente o estreito do Helesponto e garantiu-me que ele estaria à frente de
meu exército e me faria conquistar o império dos persas. Eis por que, jamais tendo visto
antes a ninguém revestido de trajes semelhantes aos com que ele me apareceu em sonho,
não posso duvidar de que foi por ordem de Deus que empreendi esta guerra e assim vencerei
a Dario, destruirei o império dos persas e todas as coisas suceder-me-ão segundo meus
desejos.
"Alexandre, depois de ter assim respondido a Parmênio, abraçou o Grão-Sacrificador
e os outros sacrificadores, caminhou depois no meio deles até Jerusalém, subiu ao templo,
ofereceu sacrifícios a Deus da maneira como o Grão-Sacrificador lhe dissera que devia
fazer. O soberano Pontífice mostrou-lhe em seguida o livro de Daniel no qual estava escrito
que um príncipe grego destruiria o império dos persas e disse-lhe que não duvidava de que
era ele de quem a profecia fazia menção.
"Alexandre ficou muito contente; no dia seguinte, mandou reunir o povo e ordenoulhe
que dissesse que favores desejava receber dele. O Grão-Sacrificador respondeu-lhe que
eles lhe suplicavam permitir-lhes viver segundo suas leis, e as leis de seus antepassados e
isentá-los no sétimo ano, do tributo que lhe pagariam durante os outros. Ele concedeu-lho.
Tendo-lhe, porém, eles pedido que os judeus que moravam na Babilônia e na Média,
gozassem dos mesmos favores, ele o prometeu com grande bondade e disse que se alguém
desejasse servir em seus exércitos ele o permitiria viver segundo sua religião e observar
todos os seus costumes. Vários então alistaram-se."
Após a morte de Alexandre Magno, como já dissemos,
O Império Grego foi dividido entre quatro generais: Lísimaco, Cassandro, Ptolomeu
e Seleuco. Ambiciosos, auto-coroaram-se e trataram de solidificar seus reinos. Seus interesses
entrechocaram-se muitas vezes, ocasionando violentas escaramuças. Esses potentados
subsistiram até a ascensão do Império Romano.
Deter-nos-emos, entretanto, apenas nas crônicas ptolomaicas e selêucidas, por causa
de seu relacionamento com os filhos de Israel.
1 - Os Ptolomeus
Sob a égide dos Ptolomeus, experimenta o Egito um grande progresso. Em virtude de
sua formidável e ágil frota, torna-se o mais poderoso reino grego. Não obstante as guerras e
a política agressiva da Síria, consegue manter sua supremacia até o Século II a.C. Quando
da ascensão da dinastia ptolomaica, havia, na mais florescente cidade egípcia - Alexandria -
uma grande colônia judaica.
Complacentes e liberais, os ptolomeus permitiram aos dispersos de Judá o cultivo de
suas tradições e a adoração de Jeová. Tão magnânimos eram esses soberanos que, inclusive,
incentivavam os judeus a continuar a praticar os ritos mosaicos. Ptolomeu Filadelfo, por
exemplo, encomendou aos eruditos hebreus a tradução do Antigo Testamento em língua
grega. Essa versão, composta em primoroso e escorreito grego, é conhecida como a
Septuaginta. Em Alexandria, ainda, os dispersos filhos de Abraão foram autorizados a
construir um templo para perpetuar o nome do Santo de Israel.
Ventos de destruição e morte, entretanto, acabariam com a bonança da progressista
comunidade judaica egípcia. Tudo aconteceu com a ascensão de Ptolomeu IV. Esse
soberano, conhecido também como Filopator, encetou uma campanha militar de grande
envergadura contra Antíoco, o Grande, com o objetivo de reconquistar a Palestina.
Depois de derrotar os sírios e entrar triunfalmente em Jerusalém, começou a urdir
perigoso e sacrílego plano: entrar no Santo Templo. Descobrindo-lhe o intento, os judeus
puseram-se à porta da Casa do Senhor e, com incontido fervor, começaram a gritar e a
protestar contra essa ignominiosa intenção.
Severamente pressionado, Filopator contém-se e não entra no santuário-maior do
povo israelita. Todavia, a partir daquele momento, devota-lhe incontrolável ódio. De volta
ao Egito, começa a perseguir os judeus e, conseqüentemente, a perder o importante respaldo
político da comunidade israelita plantada em solo egípcio.
Dessa época em diante, o reino ptolomaico começa a perder a sua importância. O
cenário político do Oriente Médio, doravante, seria dominado pela Síria.
2 - Os Selêucidas
A Síria experimentou grande progresso sob o reinado dos selêucidas. Com o seu
poderoso exército, fez aguerrida oposição às intenções hegemônicas dos ptolomeus. No
período inter-testamental, influiu, grandemente, na política do Oriente Médio. E, por causa
de suas intenções de helenizar a região, principalmente a Judéia, tornou-se grande opositora
da nação de Israel.
O império selêucida recebe o nome de seu primeiro soberano. Após a morte de
Alexandre Magno, o audaz e ambicioso Seleuco estabelece poderoso reino na Síria. Os três
primeiros monarcas selêucidas mantiveram trato amigável com os judeus. Antíoco III, por
exemplo, não obstante suas intenções de anexar a Palestina, é aclamado como libertador
pelos filhos de Israel. Seus ímpetos expansionistas são refreados, todavia, por Roma.
Antíoco III é substituído pelo seu filho, Antíoco Epífanes. Movido por incontrolável
ódio, perseguiu violentamente os judeus. - Qual o motivo de sua inexplicável ira? -Segundo
Flávio Josefo, ele foi levado a agir de forma tão insana ao ver frustrado o seu plano de
helenizar a Judéia.
Encarnando o próprio Diabo, esse contumaz e demente soberano entrou em
Jerusalém e profanou o santo Templo. No lugar santíssimo, sacrificou uma porca. Os
judeus, entretanto, não se conformam. Sob a liderança dos Macabeus, rebelaram-se e
humilharam o agressor. A revolta macabéia é uma das mais belas páginas da nação judaica.
V - FIM DO IMPÉRIO GREGO
Esfacelado e arruinado por disputas intestinas, chegou ao fim o glorioso Império
Grego. Em seu lugar, levanta-se o terrível e assombroso animal, visto por Daniel séculos
antes. O Império Romano, de acordo com a visão do santo profeta, seria diferente de todos
os outros - conquistaria, esmagaria. Qual desamparada virgem, a nação de Israel sentiria,
também, quão férreas e afiadas são as garras de Roma.
O Império Romano
Sumário: Introdução. I - História do Império Romano. II - Geografia do Império
Romano. III - O legado do Império Romano. IV - O Império Romano e os judeus. V - O
Império Romano e os cristãos. VI - Fim do Império Romano.
INTRODUÇÃO
Simbolizado pelo ferro, o Império Romano conquistou e subjugou muitos povos. Do
Ocidente ao Oriente, o peso de seus punhos era conhecido e proverbial. Jamais houvera
reino tão poderoso! A simples menção de seu nome era mais do que suficiente para
amedrontar povos, derrubar reis e dilatar fronteiras.
Eis como Daniel viu esse férreo império: "Depois disto, eu continuava olhando nas
visões da noite, e eis aqui o quarto animal, terrível,, espantoso e sobremodo forte, o qual
tinha grandes dentes de ferro; ele devorava e fazia em pedaços, e pisava aos pés o que
sobejava; era diferente de todos os animais que apareceram antes dele, e tinha dez chifres"
(Dn 7.7).
As histórias de Roma e Israel estreitam-se em Jerusalém e na Eternidade. Em
Jerusalém, porque foram os romanos que destruíram a amada e idolatrada capital do judaísmo.
Na eternidade, porque foram os romanos, também, quem assinaram a sentença de
morte de Cristo, o Filho do Deus Vivo!
O Império Romano, portanto, será tratado com severidade no Dia do Senhor!
I - HISTÓRIA DO IMPÉRIO ROMANO
Enquanto Alexandre Magno conquistava o Oriente e esmagava o até então invencível
poderio persa, um outro império começava a despertar e a incomodar o mundo. Fundada por
Rômulo e Remo, provavelmente, e de início humilde e até desprezível, Roma vai ampliando
com vagar seus raios de influência. No Século III a.C, já é senhora de toda a península
itálica.
Roma, habitada por indo-europeus, que, em levas sucessivas, fixaram-se em seu
território miscigenando-se aos etruscos, gregos e gauleses, ela não pára de expandir-se.
Durante a Primeira Guerra Púnica (264-241 a.C.), os romanos venceram os cartagineses e
apossaram-se das ilhas sicilianas. Sentindo-se fortalecidos, eles anexam a Córsega e a
Sardenha e derrotam os gauleses no Vale do Pó.
Nas duas últimas guerras púnicas, Roma derrota o brilhante general cartaginês,
Aníbal, e põe término a grandeza incômoda de Cartago. Netta Kemp de Money explica as
conseqüências desses primeiros sucessos romanos: "Estas guerras lançaram as sementes da
conquista da bacia oriental, posto que Filipe V da Macedônia havia ajudado a Aníbal; e
Antíoco, o Grande, da Síria, lhe havia concedido asilo depois de sua derrota. Filipe foi
vencido e os esforços de seu filho Perseu, para vingar a derrota, fracassaram. Diante desta
demonstração de poder de Roma, quase todos os príncipes do Oriente optaram por
reconhecer sua supremacia e aliar-se com a potência superior. Antíoco, o Grande, havia
sonhado com a conquista da Grécia, porém, foi vencido pelos romanos na batalha de
Magnésia, e a seu neto, Antíoco Epífanes, que se havia proposto agregar o Egito e seus
domínios, bastou uma repressão de Roma para que desistisse. Houve uma ou outra
escaramuça depois dos meados do século segundo antes de Cristo, porém, desde aquela
época, todo o mundo teve de reconhecer a supremacia da república romana."
II - GEOGRAFIA DO IMPÉRIO ROMANO
É difícil traçar os limites do Império Romano. Dilatadíssimo, mantinha incontáveis
províncias na Europa, Ásia e África. Foi o mais poderoso reino da Terra. Sua presença era
sentida em todas as partes do Globo.
Nos tempos de sua maior extensão, informa John Davis, o Império Romano media
3.000 milhas de este a oeste, e 2.000 de norte a sul, com uma população de 120.000.000.
III - O LEGADO DO IMPÉRIO ROMANO
Os gregos legaram-nos a base da sociedade ocidental. Os romanos, sua estrutura.
Pragmáticos e administradores por excelência, deixaram-nos colossal monumento jurídico
esculpido em sua experiência privada e pública.
Souto Maior, em sua História Universal, diz-nos como os romanos fizeram suas leis:
"O direito romano foi um dos legados mais importantes deixados por Roma às civilizações
que lhe sucederam. O antigo direito consuetudinário, isto é, baseado no uso e nos costumes,
passou a ser direito escrito com a Lei das 12 Tábuas, que é considerada a mais antiga lei
romana.
"O sistema jurídico dos romanos resultou não somente da necessidade de governar os
diferentes povos dos países conquistados mas, também, da natural substituição de antigos
costumes por certos princípios gerais que se foram condensando através dos editos dos
pretores.
"Os pretores eram magistrados encarregados da administração da justiça. No começo
de sua gestão, o pretor comumente promulgava um edito, estabelecendo os princípios que
iriam orientar os seus julgamentos: embora geralmente os pretores apenas repetissem o que
já estava estabelecido por seus predecessores, de vez em quando surgiam novas regras,
modificando a estrutura jurídica precedente.
"Antes do III século a.C. existia apenas o 'praetor urbanus', isto é, o juiz da cidade.
Depois, estabeleceu-se o cargo de 'praetor peregrinus' que deveria julgar os casos entre
cidadãos romanos e estrangeiros.
"Aplicando e interpretando a lei, os pretores criaram duas espécies de direito: o que
se aplicava aos cidadãos romanos, chamado 'jus civile', e o que dizia respeito a todos os
povos de maneira geral, denominado 'jus gentium'. Era o 'jus gentium' que autorizava a
existência da escravidão e da propriedade privada, sendo, portanto, um complemento do 'jus
civile.'
"No século II a.C, foi elaborado, por Sálvio Juliano, sob o governo de Adriano, o
Edito Perpétuo, que codificava os editos dos pretores e também os dos imperadores.
"Admitiram também os romanos a existência de um 'jus naturale', que não era
propriamente um conjunto de leis e sim a idéia de que, acima do Estado e das instituições,
existe um princípio de justiça válido universalmente, ou, como afirmou Cícero, 'uma razão
justa, consoante à natureza, comum a todos os homens, constante, eterna'.
"O 'jus civile' romano estabeleceu uma perfeita distinção entre pessoa e pessoas ao
mesmo tempo. Os escravos não eram considerados pessoas e, assim, destituídos de
quaisquer direitos."
Eis mais alguns importantes legados romanos: tirocí-nio administrativo; engenharia
diversificada e prática; política exterior fundada no pragmatismo; disciplina e agilidade nas
forças armadas, e, urbanização eficaz.
IV - O IMPÉRIO ROMANO E OS JUDEUS
Ao tomar Jerusalém, em 63 a.C, o general romano Pompeu depara-se com a nação
judaica bastante enfraquecida, em conseqüência de renhidas disputas internas. Depois de um
começo brilhante e glorioso, a família macabéia passa a fazer escusas manobras para
manter-se no poder. Conhecida, também, como dinastia hasmoneana, acabou por cair nas
garras de uma ambiciosa e pertinaz família iduméia, de onde viria um monstro voraz e
impiedoso -Herodes, o Grande.
Pompeu estava no Oriente Médio para conter o ex-pancionismo de Mitrídates, rei do
Ponto. Sonhando construir ura grande império, esse monarca intentava conquistar a Ásia
Menor e a Palestina e, assim, minar a posição romana nessa tão estratégica área.
Preocupada, Roma envia à região um bravo e nobre general.
Grande estrategista, Pompeu vence o rei Mitrídates, que se refugia na Armênia.
Mesmo vencido, o ambicioso soberano reorganiza-se e tenta tomar a Síria. O general romano,
entretanto, intervém uma vez mais e o derrota definitivamente.
O governo de Roma, satisfeito com o desempenho de seu brilhante militar, designa-o
governador das províncias da Ásia. Foi nessa qualidade, que Pompeu recebeu Aristó-bulo e
Alexandre. Disputando ferrenhamente o trono da Judéia, ambos submetem-se à sua
arbitragem. O povo, contudo, não deseja ser governado por nenhum dos dois.
Que decisão tomar?
Prático, o general romano desejava colocar sobre os judeus um rei títere. Entre os
contendores, opta pelo mais manobrável e influenciável. A escolha recai sobre Hircano, cujo
caráter era débil. A decisão de Pompeu desagrada, profundamente, a Aristóbulo, que
começa a arquitetar planos de vingança e revolta.
Hircano, respaldado por Roma, assume o poder e introduz, em Jerusalém, o exército
romano. Revoltado, Aristóbulo encerra-se no Santo Templo com 12 mil partidários.
Pompeu, ao examinar detidamente a questão, decide tomar o santuário.
A luta é grande. O espetáculo, dantesco. Aristóbulo consegue fugir. Seus homens,
contudo, são aniquilados. Sentindo-se senhor da situação, Pompeu penetra no lugar mais
sagrado do Templo - o santíssimo. Esperava, quem sabe, deparar-se com segredos etéreos e
mistérios celestiais. Contempla, no entanto, um singelo altar, cuja glória residia no nome do
Santo de Israel. Dessa maneira, deixa a Casa do Senhor.
Depois dessa intervenção, a Judéia torna-se província romana.-Nessa qualidade, fica
sujeita aos mais absurdos caprichos dos poderosos senhores de Roma. Durante o primeiro
triunvirato, Crasso, para mostrar seus méritos militares, declara guerra aos partos. Mas,
como financiar tão arrojada campanha? Lembra-se dos lendários tesouros do Templo e o
saqueia. Com dez mil talentos de ouro, tenta conseguir seu intento. Embora impetuoso e
feroz, não é bem sucedido: perde a guerra, o dinheiro e a vida.
De manobra em manobra, Herodes, o Grande, consegue dos romanos o governo e o
trono da Judéia. Sua carreira política teve início, quando ele tinha 15 anos. Desde cedo
mostrou-se cruel e sanguinário. Não tolerava quaisquer arranhões em sua autoridade.
Sedento de poder, prendia, desterrava e matava.
Tão maquiavélico era Herodes que, fácil e rapidamente, ganhou a confiança dos
mandatários romanos. Nas situações mais adversas, mostrava quão habilidoso político era.
Ele não suportava a menor ameaça ao seu trono. Não hesitou, por exemplo, em assassinar
seus filhos Aristóbulo e Alexandre. Carcomido de ciúmes, executou também sua belíssima
esposa Mariana, descendente dos macabeus.
Em 37 a.C, finalmente, o monstruoso Herodes liquidou a brava e heróica dinastia
hasmoneana. Enfim, o trono da Judéia era todo seu! Um de seus últimos desatinos foi a
matança dos inocentes de Belém. Sua real intenção era destruir a vida do infante Jesus.
Depois de todas essas sandices, o perverso idumeu desapareceu entre atrozes dores e com
suas entranhas consumidas por vermes. Uma de suas grandes obras foi a ampliação e
embelezamento do Templo. Mesmo assim, os judeus não se esqueceram de seus bárbaros e
selvagens crimes.
Das personalidades romanas enviadas à Judéia, destacaremos, a seguir, apenas duas.
Uma, responsável pela morte de Jesus, e a outra, pela destruição de Jerusalém. Referimonos
a Pôncio Pilatos e ao general Tito.
1 - Pilatos
Pôncio Pilatos assumiu o governo da Judéia no ano 26 d.C. Nomeado por Tibério,
sua administração foi tumultuada e cheia de agitações. O historiador e filósofo hebreu, Filo,
escreve sobre o quinto governador romano da terra de Judá, taxando-o de rígido,
teimosamente severo, de disposição pronta a despeitar os outros; era excessivamente
iracundo. O mesmo cronista fala, ainda, dos subornos, atos de orguho e violência, ultrajes,
brutalidades e assassinatos cometidos por essa autoridade romana.
Pertencente à ordem eqüestre ou à classe média superior romana, Pilatos dispunha de
amplos poderes na Judéia. Tendo à sua disposição formidável aparato militar, tinha
autoridade para prender, executar e suspender qualquer pena capital. Sob a sua custódia,
ficavam as vestes sacerdotais. Ele só as entregava ao sumo sacerdote, por ocasião dos
festivais judaicos.
Inescrupuloso, provocou a ira dos judeus, certa ocasião, ao trazer a Jerusalém,
pendões com a figura do imperador romano. Os israelitas, não suportando tamanha idolatria,
começaram a gritar e a protestar, até que as imagens foram retiradas. Mostrando-se lerdo
para aprender os costumes judaicos, de outra feita, confiscou dinheiro do templo para
construir um aqueduto em Jerusalém. Os protestos gerados por esse arbítrio foram também
violentos, contribuindo para desequilibrar sua administração.
Sua perversidade, contudo, escondia um caráter fraco e uma vontade débil. Ele estava
mais interessado em agradar ao imperador, do que a lutar por princípios justos e ideais
verdadeiros. Haja vista, por exemplo, quão ambíguo foi seu comportamento quando do
julgamento de Jesus Cristo. Procurando adular seu soberano e os líderes judaicos, consentiu,
judicialmente, a morte do Salvador da humanidade.
Depois de muitas desventuras, Pilatos foi forçado a suicidar-se pelo imperador Gaio.
No inferno, segundo uma lenda, está a lavar suas mãos continuamente, mas, não consegue
livrar-se das manchas carmesins do sangue do Cordeiro de Deus.
2 - Tito
Ao rejeitar o seu Cristo, os judeus disseram: "Caia sobre nós o seu sangue, e sobre
nossos filhos!" (Mt 27.25.) Essas duras e irresponsáveis palavras foram pronunciadas ante
Pôncio Pilatos que pretendia indultar alguém por ocasião da Páscoa. Ao pedir que
escolhessem entre Jesus e
Barrabás. eles não titubearam. Com os seus corações cheios de ódio, optaram por um
salteador e entregaram o bondoso -Jesus à morte.
Com essa insana escolha, os filhos de Abraão começavam a escrever um dos mais
tristes e funestos capítulos de sua atribulada história. O sangue do Nazareno começaria a
cair-lhes sobre a cabeça a partir do ano 70 d.C, com a destruição de Jerusalém e do Templo
pelos romanos.
Nessa época, o Cristianismo já havia alcançado os mais longínquos rincões do
Império Romano. A religião do Nazareno, inclusive, já havia conquistado considerável
terreno na luxuriante e orgulhosa Roma.
Na Judéia, enquanto isso, os israelitas foram obrigados a suportar toda a sorte de
arbitrariedade das autoridades romanas. O governador Gesius Florus, por exemplo, assumiu
o poder com o espírito eivado de preconceitos contra os judeus. O carrasco, como era
conhecido, quebrantou as leis mosaicas e desrespeitou, acintosa e publicamente, as mais
caras tradições do povo de Israel. Para esse procurador, os hebreus não passavam de um
bando de fanáticos e desequilibrados.
Em Cesaréia, os gregos, vendo a forma como Florus tratava os judeus, começou a
persegui-los com redobrado fervor. A vida da comunidade judaica, nessa cidade, transformou-
se num inferno. Os israelitas nem mesmo podiam adorar a Deus. Em frente às
sinagogas, os helenos promoviam grandes tumultos, impedindo a realização dos ofícios
religiosos.
Uma delegação judaica foi enviada a Gesius Florus para pedir-lhe proteção. O
governador romano, no entanto, ordenou a matança dos representantes judeus.
A notícia da aflição dos israelitas de Cesaréia chegou a Jerusalém e causou profunda
comoção. Os zelotes entraram em ação e iniciaram uma guerra de guerrilhas contra as forças
romanas. Deteriorou-se a situação quando Florus exigiu 17 talentos de ouro que se
encontravam no Templo.
A partir daí, alastrou-se o conflito romano-judaico.
O governador da Síria, Céstius Gallus, viajou a Jerusalém para investigar as causas
do levante. Sua presença, no entanto, provocou profundo mal-estar, por incorporar a 80
imagem da opressora Roma. Embora estivesse acolitado por poderoso exército, foi ele
obrigado a deixar a cidade. Após sofrer vergonhosa e fragorosa derrota, refugiou-se no
território sírio.
Os nacionalistas judeus, entusiasmados com essa vitória, preparam-se para novos
combates. Inicialmente, apenas os pobres compunham os quadros da resistência. Com os
primeiros sucessos, porém, os ricos e nobres passaram, com o mesmo ímpeto, a atacar os
exércitos romanos. O historiador Flávio Josefo, de origem aristocrática, encontrava-se entre
os combatentes judeus.
Nero foi notificado do levante na Judéia, quando se encontrava na Grécia assistindo
aos jogos olímpicos e participando de alegres festas. Para sufocar a rebelião, enviou à
Palestina um de seus mais competentes militares. Estrategista de primeira grandeza, o
general Vespasiano começa a tomar cidade após cidade dos revoltosos. Quando preparavase
para sitiar Jerusalém, foi chamado às pressas à capital do império. Com a morte do
desvairado Nero, foi ele aclamado imperador.
A tarefa de sitiar e tomar a Cidade Santa é entregue, então, ao filho de Vespasiano.
Com a mesma determinação do pai, o general Tito lança-se sobre Jerusalém, no ano 70 d.C.
O historiador israelita, Simon Dubnow, narra-nos, com vivas cores, como a mais
amada das cidades judaicas foi destruída:
"...a fome se alastrava cada vez mais por Jerusalém; os cereais armazenados já se
haviam esgotado há muito tempo; os ricos entregavam suas propriedades e os pobres seus
últimos pertences em troca de um pedaço de pão. Histórias terríveis se gravaram na
memória do povo a respeito dos acontecimentos daqueles dias. Martha, a abastada viúva do
sumo sacerdote Jesus Ben Gamaliel, em cuja passagem, quando se dirigia ao Templo, se
estendiam, outrora, preciosos tapetes, se via agora na contingência de aliviar sua fome com
restos recolhidos nas ruas; outra mulher rica, levada pela fome, degolou o próprio filhinho
para comê-lo. As ruas estavam repletas de cadáveres e de gente desfalecida, e não havia
tempo para enterrar os mortos. Os cadáveres espalhados por toda a parte empestavam o ar.
A fome, a epidemia e as setas do inimigo provocaram a ruína nas fileiras dos defensores;
mas os que ainda resistiam não perdiam as esperanças. Este heroísmo e pertinácia do povo
assombrou até os heróicos romanos. Finalmente, eles dirigiram suas máquinas de assédio
contra as fortificações do Templo. Quando os romanos tomaram a Torre Antônia,
descobriram repentinamente espessas muralhas que circundavam o Templo, e, como fosse
impossível derrubá-las, Tito ordenou que se incendiassem os portões exteriores, dos quais
partia uma série de colunas que chegavam até o próprio Templo; os guerreiros judeus
lutaram como leões, e cada passo para o Templo custava ao inimigo rios de sangue.
"De repente, um soldado romano agarrou um lenho ardente e lançou-o ao interior do
Templo, através de uma janela. As portas de madeira das salas do Templo se inflamaram e
logo todo o Templo se achava envolto em chamas. Tito, que se dirigiu imediatamente para o
lugar atingido, proferiu aos soldados, em altas vozes, a ordem de sufocar o incêndio e salvar
o esplêndido edifício. Mas devido ao estrépido ensurdecedor das construções que caíam, aos
gritos desesperados dos sitiados e ao ruído das armas, tornou-se impossível perceber a voz
do chefe. Os enfurecidos romanos lançaram-se sobre as câmaras não afetadas ainda pelo
fogo, com o fim de roubar os tesouros ali acumulados, mas somente puderam penetrar
pisando os cadáveres dos guerreiros judeus, que lhes opunham uma grande resistência no
meio das labaredas. Então, os vencedores deram livre expansão à sua cólera. Velhos,
mulheres e crianças foram assassinados sem compaixão; muitos hebreus encontraram a
morte nas chamas, às quais se precipitaram valentemente. O Templo, orgulho da Judéia,
transformou-se em um monte de escombros, sendo destruído na mesma data (nove e dez de
Aw) em que fora destroçado antigamente o primeiro templo por Nabucodonosor. Dos
objetos contidos no Templo, só permaneceram intatos o candelabro, a mesa sagrada e um
rolo da Tora. Tito ordenou levá-los e conservá-los como lembrança de seu triunfo. "Com a
ruína de Jerusalém, desmembrou-se por completo o Estado Judeu. Esta luta tão singular na
história, luta entre um Estado minúsculo e o Império mais poderoso do mundo, absorveu
uma infinidade de vítimas e cerca de um milhão de judeus pereceu na guerra com os
romanos (66-70) e uns cem mil foram feitos prisioneiros. Desses cativos, alguns foram
mortos, outros enviados a trabalhos forçados ou vendidos como escravos nos mercados da
Ásia e África; mas os mais fortes e belos ficaram para lutar com feras nos circos romanos e
acompanhar Tito em sua solene entrada em Roma. Sempre que Tito celebrava o aniversário
de seu pai e de seu irmão, organizava jogos militares e lutas de gladiadores, nos quais se
arrojavam muitos judeus às feras do circo, para que os destroçassem, divertindo o público."
Para comemorar a sua vitória, o imperador Vespasiano ordenou a cunhagem de
moedas especiais que traziam uma mulher acorrentada e a seguinte expressão: "Judéia
cativa, Judéia vencida."
Poucos anos após a queda de Jerusalém, judeus e romanos voltariam a enfrentar-se.
O renhido combate foi travado em Massada. Mostrando mais uma vez sua audácia e
coragem, a resistência judaica preferiu autodestruir-se, a entregar-se ao opressor romano. A
partir de então, toda a Judéia passou a pertencer aos imperadores romanos, que passaram a
doar seus lotes ou vendê-los.
V - O IMPÉRIO ROMANO E OS CRISTÃOS
O judaísmo era tolerado no Império Romano, por não possuir caráter proselitista. A
religião judaica limitava-se aos judeus. Raros eram os prosélitos. Os rabinos não tinham
espírito apostólico. Ás autoridades de Roma, por isso mesmo, permitiam o funcionamento
de sinagogas e escolas hebraicas. A situação, contudo, foi substancialmente alterada com a
guerra na Judéia em 70 d.C.
Em conseqüência de seu espírito missionário, o Cristianismo, desde o seu
nascedouro, foi duramente perseguido. As autoridades romanas viam-no como uma
perigosíssima ameaça. E, de fato, a religião do Nazareno visava e visa a conquista espiritual
do mundo. Antes de sua ascensão, ordenara Jesus aos seus apóstolos: "Foi-me dada toda a
autoridade no céu e na terra. Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os
em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a observar todas as coisas
que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos
séculos" (Mt 28.18-20).
E, nos momentos que antecederam sua subida aos céus, o Ressuscitado fez esta
recomendação aos seus apóstolos: "Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito
Santo, e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria, e
até os confins da terra" (At 1.8). A partir desse momento, desse glorioso e memorável
momento, tem início uma luta mortal entre o Reino de Deus (a Igreja) e o principado das
trevas (o Império Romano).
Os imperadores movem cruentas e impiedosas perseguições contra os cristãos. Nada,
porém, consegue barrar o magistral progresso da Igreja. O número de servos de Deus
aumenta dia após dia. Esse avanço, contudo, custa um alto preço: o sangue dos santos.
Hegesipo, escritor do Século II, narra-nos como o perverso e anormal Nero tratou os
cristãos, acusados, por ele, de terem incendiado Roma: "Alguns foram vestidos com peles
de animais ferozes, e perseguidos pelos cães até serem mortos, outros foram crucificados;
outros envolvidos em panos alcatroados, e depois incendiados ao pôr-do-sol, para que
pudessem servir de luzes para iluminar a cidade durante a noite. Nero cedia os seus próprios
jardins para essas execuções e apresentava, ao mesmo tempo, alguns jogos de circo,
presenciando toda a cena vestido de carreiro, indo umas vezes a pé no meio da multidão,
outras vendo o espetáculo do seu carro".
Sob o governo de Nero, que mandou incendiar a capital de seu império e,
covardemente, culpou os cristãos, pereceram, ainda, os apóstolos Pedro e Paulo. Os
seguidores de Cristo foram perseguidos pelo Império Romano por quase 300 anos. A
situação só se amainou com a ascensão de Constantino, o (Irande. Não falaremos mais
detalhadamente acerca dos sofrimentos desses heróicos homens, mulheres e crianças, por
absoluta falta de espaço. O sangue desses santos, entretanto, continua a clamar no tempo e
clamará na eternidade.
VI - O FIM DO IMPÉRIO ROMANO
Depois de séculos de sanguinolência e devassidão, permissividade e térrea tirania,
chega ao fim o "inexpugnável" Império Romano. A imoralidade e a inebriante luxaria
tiraram do povo romano sua fibra e coragem. Enquanto isso, os inimigos de Roma
fortaleciam-se e preparavam-se para deitá-la por terra.
Em 476 d.C, os bárbaros invadiram Roma. Desapareceu, assim, o mais extenso e
poderoso reino humano! No entanto, segundo profetizou Daniel, esse império ressurgirá
com grande poder. Sua duração, porém, será curta. 0 Rei dos reis e Senhor dos senhores
encarregar-se-á de destruí-lo.
Terceira Parte
Israel, palmilhando a Terra Santa
Sumário: Introdução. I - A história de Israel começa no Crescente Fértil. II -
Vamos a Israel?
INTRODUÇÃO
Quando lemos a Bíblia, deparamo-nos com centenas de nomes de lugares da Terra
Santa, onde desenvolveu-se a maravilhosa História da Salvação. Movidos por irreprimível
curiosidade, desejamos conhecer tudo isso "in loco". Nem sempre, porém, é possível fazêlo.
- E por que não visitá-los, então, espiritualmente?
Apelemos, pois, à Geografia Bíblica. Nas asas de suas minuciosas e exatas
descrições, voemos a Israel. Palmilhemos os lugares percorridos pelos patriarcas, profetas e
apóstolos. Divisemos, em cada mapa, o meigo Salvador. Km cada acidente geográfico, a
relevância do amor de Deus.
I - A HISTÓRIA DE ISRAEL COMEÇA NO CRESCENTE FÉRTIL
O Crescente Fértil, não obstante sua vital importância à História da Salvação, é um
insignificante retângulo localizado na Ásia Ocidental. Encerrando uma área de 2.184.000
km , representa apenas a 234ª parte da superfície da Terra. Essa região estende-se em forma
semicircular entre o Golfo Pérsico e o Sul da Palestina.
A história dessa região pode ser resumida em uma série de lutas entre os habitantes
das serranias e as tribos nômades do deserto. Todos queriam apossar-se dessas fertilíssimas
terras. O lado oriental dessas místicas paragens serviu de berço à humanidade e de cenário à
primeira civilização. Em suas grandes depressões, ascenderam e caíram os impérios dos
amorreus, assírios, caldeus e persas.
No Crescente Fértil, conhecido, também, como Mesopotâmia (literalmente "entre
rios"), floresceram duas grandes civilizações: ao norte, a Assíria; ao Sul, a Babilônia ou
('aldeia. Os rios Tigre e Eufrates cercam esse misterioso território, ocupado, atualmente,
pelo Iraque. O Jardim do Éden, segundo a narrativa bíblica, localizava-se nas nascentes de
ambos os rios.
Foi em Ur dos Caldeus, uma das mais progressistas e desenvolvidas cidades do
Crescente Fértil, que teve início a história de Israel. Tudo começou com a chamada de
Abraão, o pai do povo escolhido.
II - VAMOS A ISRAEL?
A partir de agora, portanto, voaremos à Terra Santa. Será uma viagem muito
interessante. Percorreremos planícies. Visitaremos cidades. Entraremos em Jerusalém, a
cidade do Grande Rei. Mergulharemos no rio Jordão. Subiremos aos montes. Enfim, à
semelhança dos espias de Josué, reconheceremos o solo sagrado, do qual mana leite e mel.
O solo sagrado por excelência
Sumário: Introdução. I - Nomes de Israel. II - Localização. III - Limites bíblicos.
IV - Limites atuais.
INTRODUÇÃO
Uma nação paupérrima territorialmente, assim é Israel, um dos menores países do
mundo. Em seu exíguo solo, entretanto, desenrolou-se todo o nosso drama espiritual. Terra
mística e abençoada, serviu de berço a patriarcas, profetas, juizes, reis, sábios e justos.
Guardada pelo Todo-poderoso, acolheu em seus áridos regaços o Salvador da humanidade.
Não obstante suas acanhadas possessões geográficas. a Terra Santa sempre foi um
pomo de discórdia entre os homens. Localizada no centro do globo, torna-se, a cada dia,
mais polêmica. Todos preocupamo-nos com o seu futuro. Em seu amanhã, está o nosso
porvir!
Com a criação do Estado de Israel, em 1948, a herança abraâmica centrou-se, mais
visivelmente, em nossos estudos escatológicos. Divisamos, no renascimento do minúsculo
país semita, a aproximação da volta de Cristo.
Vale a pena, portanto, conhecer a geografia das terras pisadas pelo meigo .Jesus.
Israel é o solo sagrado por excelência.
I - NOMES DE ISRAEL
Tanto na história sagrada, como na secular, a Terra de Israel recebeu várias
designações. Cada nome por ela recebido encerra um drama vivido pelo povo de Deus. Desde
a Era Patriarcal até os nossos dias, as mais variadas nomenclaturas têm sido dadas ao
território israelita. Para os hebreus, entretanto, o seu sagrado solo nunca deixará de receber
esse carinhoso tratamento: Terra Prometida.
1 - Canaã
Após a dispersão da humanidade, ocorrida quando da construção da Torre de Babel,
os descendentes de Canaã. filho de Cara e neto de Noé, fixaram-se nas terras que seriam
entregues a Abraão. Isso ocorreu há mais de dois mil anos antes de Cristo. Nessas paragens,
conhecidas por sua fertilidade e riquezas naturais, os cananeus multiplicaram-se
sobremaneira.
Esse país, a partir de então, passou a ser conhecido como Canaã, o mais antigo nome
do território israelita. Eis o significado literal desse nome: "habitantes de terras baixas".
Tendo em vista essa etimologia, concluímos: os cananeus adoravam as planícies!
Os descendentes de Canaã, depreendemos das Sagradas Escrituras, dominavam do
Mediterrâneo ao rio Jordão.
Com o passar dos séculos, Canaã passou a ter uma conotação poética. Lembra esse
nome aos judeus, "...uma terra boa e ampla, terra que mana leite e mel" (Ex 3.8).
2 - Terra dos Amorreus
O território que Deus entregou aos judeus era conhecido na antigüidade, também
como Terra dos Amorreus. Essa designação é encontrada tanto no Antigo Testamento, como
nos escritos profanos. E um dos mais antigos nomes da Terra Santa.
O solo, depois de irrigado, transforma-se em um autêntico jardim
3 - Terra dos He breus
De conformidade com a árvore genealógica de Sem, os israelitas são descendentes de
Héber. O território judaico, por esse motivo, era conhecido, ainda como Terra dos Hebreus.
Nesses rincões, os santos patriarcas forjaram a nacionalidade hebraica e deram corpo e
colorido ao seu idioma.
A palavra hebreu, entretanto, segundo alguns exege-tas, pode significar, de igual
modo, "o que vem do outro lado, ou do além". Trata-se de uma referência à peregrinação
abraâmica, de Ur a Canaã. Todavia, preferimos a primeira explicação, por estar mais de
acordo com os reclamos da língua hebraica.
4 - Terra de Israel
Sob o comando de Josué, os israelitas tomaram Canaã, no Século XV a.C. A partir de
então, passaram as possessões cananéias a ser designadas desta forma: Terra de Israel. Não
há nomenclatura tão apropriada como essa! Ela encerra a maioria das promessas divinas a
Abraão e compreende a essência das realizações terrestres do Milênio.
Esse é o nome mais comum da Terra Santa. Encontramo-lo, com freqüência, no
Antigo Testamento. Constitui-se, ainda, em um perpétuo memorial: Esse território é de
propriedade permanente do povo de Israel! Quer os gentios admitam ou não, a terra que
mana leite e mel pertence à progênie abraâmica.
Após o cisma do reino salomônico, essa nomenclatura passou a designar, apenas, as
terras ocupadas pelas 10 tribos do Norte, comandadas pelo idolatra e profano Jeroboão.
Com os exílios, a Terra de Israel torna-se um nome esquecido. Durante mais de dois mil
anos, o território israelita recebeu as mais vexatórias alcunhas. No entanto, com a criação do
moderno Estado de Israel, todo o escárnio que pesava sobre os descendentes de Jacó foi
tirado. Hoje, quando viajamos àquelas sagradas paragens, dizemos embevecidos: "Vou à
'Ferra de Israel."
5 - Terra de Judá
Depois de vencer os cananeus, .Josué passou a dividir a Terra da Promessa. Coube à
tribo de Judá. uma herança localizada no Sul dessas inebriantes possessões. O território
herdado pelo mais intrépido e bravo filho de Israel ficou conhecido como Terra de .Judá.
Contudo, após o cisma do reino davídico, ocorrido no ano 931 a.C, essa designação
passou a incluir, também, as terras ocupadas pela tribo de Benjamim.
Terminado o cativeiro babilônico, em 538 a.C. o povo de Judá retorna à sua herança,
sob o comando de Zorobabel. Inspirados pela liderança eficaz de Neemias, pela erudição de
Esdras, pelo zelo sacerdotal de -Josué e pelo fervor profético de Ageu e Zacarias, os judeus
reorganizam-se nacionalmente.
A partir desse renascimento parcial da soberania hebraica, as possessões abraâmicas
passaram a ser designadas como Terra de Judá. E, seus habitantes, conseqüentemente,
começaram a ser chamados de judeus.
6 - Terra Prometida
No Século XX a.C, Deus fez a seguinte promessa a Abraão: "Sai-te da tua terra, e da
tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei. E far-te-ei uma grande
nação, e abençoar-te-ei, e engrandecerei o teu nome e tu serás uma bênção. E abençoarei os
que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as
famílias da terra. Assim partiu Abrão, como o Senhor lhe tinha dito, e foi Ló com ele; e era
Abrão da idade de setenta e cinco anos, quando saiu de Harã" (Gn 12.1-4).
Com essa sublime promessa de Deus a Abraão, o território israelita passou a ser
conhecido como Terra Prometida. Esse nome, poético e trágico, evoca as mais elevadas
recordações na peregrina alma do povo escolhido. Por causa desse chão de promessas, os
israelitas, há mais de dois mil anos longe de seu lar, instalam-se em sua terra e provam estar
a bênção abraâmica mais atual do que nunca.
7 - Terra Santa
Zacarias, um dos mais escatológicos profetas do Antigo Testamento, vaticinou:
"Exulta, e alegra-te. ó filha de Sião. porque eis que venho, e habitarei no meio de ti. diz o
Senhor. E naquele dia, muitas nações se ajuntarão ao Senhor, e serão o meu povo: e
habitarei no meio de ti. e saberás que o Senhor dos Exércitos me enviou a ti. Então o Senhor
possuirá a Judá como sua porção na terra santa, e ainda escolherá .Jerusalém" (Zc 2.10-12).
Não obstante as guerras, os embates políticos e os conflitos sociais, Israel é
conhecido como a Terra Santa. Os judeus veneram-na como o solo de seus antepassados e o
terreno de sua milenar esperança. Têm-se os cristãos como o berço do Salvador e o regaço
da regeneração da raça humana. Para os árabes, trata-se de um campo etéreo e permeado de
mistérios celestiais.
Em pleno alvorecer do Terceiro Milênio, milhares de caravanas judaicas, cristãs e
árabes rumam à Terra Santa. Nenhum outro país é tão místico quanto Israel! Visitá-lo
constitui-se no sonho de milhões de seres humanos.
8 - Palestina
Israel é conhecido, também, como Palestina. Esse nome é oriundo da palavra Filistia,
que designava a faixa de terra habitada pelos antigos filisteus, localizada no Sudeste de
Canaã, ao largo do mar Mediterrâneo. Esse povo era ferrenho inimigo dos hebreus e causou
muitas dificuldades aos primeiros monarcas israelitas.
No período neo-testamentário, o historiador Flávio Josefõ cognominou todo o
território israelita de Palestina. Desde o domínio romano até a fundação do Estado de Israel,
em 12 de maio de 1948, a terra dos judeus era conhecida em todo o mundo como Palestina.
Atualmente, contudo, o nome de Israel tornou-se. novamente, predominante.
II - LOCALIZAÇÃO
A Terra de Israel está localizada no continente asiático, a 30* de latitude Norte. Em
toda a sua extensão ocidental, é banhada pelo mar Ocidental. Tendo em vista o seu
posicionamento estratégico, constituiu-se, segundo Oswaldo Ronis, "num centro de
gravidade para o mundo e as civilizações da antigüidade."
Acrescenta Ronis: "Do ponto de vista comercial, ficava na rota obrigatória do tráfego
entre o Oriente e o Ocidente, bem como entre o Norte e o Sul; e, do ponto de vista político,
igualmente passagem inevitável dos exércitos conquistadores das grandes potências ao seu
redor, razão pela qual estas se interessavam por sua conquista e fortificação. Daí as
devastações sofridas pela Palestina em repetidas ocasiões da sua história."
III - LIMITES BÍBLICOS
Ao norte, limita-se a Terra de Israel com a Síria e a Fenícia. Ao leste, com partes da
Síria e o deserto arábico. Ao sul, com a Arábia. A oeste, com o mar Mediterrâneo.
Esses limites, entretanto, variavam de acordo com as tendências políticas e os
movimentos militares de cada época. Constantemente, os israelitas tinham o seu território
alargado ou diminuído. No tempo de Salomão, por exemplo, as fronteiras de Israel
dilataram-se consideravelmente. Depois de sua morte, contudo, as possessões hebraicas
foram diminuindo, até serem absorvidas pelos grandes impérios.
IV - LIMITES ATUAIS
O moderno Estado de Israel limita-se ao norte, com o Líbano; a leste, com a Síria e a
Jordânia; ao sul, com o Egito; e, a oeste, com o mar Mediterrâneo. De exíguas dimensões,
sua área não chega a 22.000 km. Como já dissemos, é um dos menores países do mundo.
No entanto, as fronteiras do território hebraico foram sobremodo alargadas durante a
Guerra dos Seis Dias, ocorrida em junho de 1967. Depois desse conflito, os limites israelenses
foram dilatados em aproximadamente 400 por cento.
Planícies da Terra Santa
Sumário: Introdução. I - Planície do Acre. II -Planície de Sarom. III - Planície da
Filístia. IV -Planície de Sefelá. V - Planície do Armagedom. VI -Outras planícies.
INTRODUÇÃO
Os geógrafos modernos, de modo geral, dividem a Terra de Israel em cinco
principais planícies: Acre, Sarom, Filístia, Sefelá e Armagedom. Um conhecimento mais detalhado
desses lugares faz-se necessário, em virtude de sua importância na História Sagrada.
Lancemos mão, portanto, de um importante ramo da Geografia para conhecê-los melhor.
"Topografia" significa, literalmente, descrição de um lugar ou de uma região. Essa
palavra é formada por dois termos gregos: "topos" - região e "gráphein" - descrever. Essa
ciência ocupa-se da medida e representação geométrica de uma determinada porção da
superfície do globo.
Seu principal objetivo é fornecer dados para a confecção de cartas geográficas.
Gerhard Kremer, conhecido como Mercator, criou, no Século XVI, os postulados
básicos dessa ciência.
I - PLANÍCIE DO ACRE
A planície do Acre fica no extremo Noroeste da costa israelense, e estende-se até o
monte Carmelo. Em toda a sua extensão, bordeja a baía do Acre.
Essa região, cujo nome em hebraico é "Akko", e significa areia quente, compreende
uma faixa de terra que cerceia as montanhas localizadas entre a Galiléia, o Mediterrâneo, o
Sul de Tiro até a Planície de Sarom. Essas terras são irrigadas pelos rios Belus e Quisom. O
solo dessa área é muito fértil, com exceção da parte praiana, cujas areias são
demasiadamente quentes.
Quando da divisão de Canaã, a Planície do Acre coube à tribo de Aser (Js 19.25-28).
Os aseritas, todavia, não conseguiram desalojar os cananeus que ali habitavam.
II - PLANÍCIE DE SAROM
Sarom não é nome semítico. O seu significado evoca poesia e pensamentos idílicos:
Zona de Bosques e Bosques de Terebinto. A planície que leva esse memorável nome localiza-
se entre o Sul do monte Carmelo e Jope. Com uma extensão de 85 km, sua largura
varia entre 15 e 22 km.
Na antigüidade, essa região era conhecidíssima em virtude de seus pântanos
palúdicos e traiçoeiros bosques. O seu solo, entretanto, era coberto de lírios e outras flores
exóticas. Ante esse selvagem esplendor, cantou a esposa: "Eu sou a rosa de Sarom, o lírio
dos vales. Ao que respondeu o esposo: - Qual lírio entre os espinhos, tal é a minha amiga
entre as filhas" (Ct 2.1,2 - ARA).
Os pântanos e charcos da Planície de Sarom foram drenados recentemente pelo
governo israelense. Essa área, atualmente, constitui-se num dos mais ricos distritos agrícolas
do Estado de Israel. Seus bosques de frutas cítricas são famosos em todo o mundo. Nesse
aprazível recanto, podem ser encontradas quatro flores vermelhas de grande beleza:
anêmona, botão-de-ouro, tulipa e papoula.
A formosura e esplendor de Sarom é comparada pelo profeta Isaías à glória do
Líbano, (Is 35.2).
III - PLANÍCIE DA FILÍSTIA
Situada entre Jope e Gaza, no Sudoeste de Israel, a Planície da Filístia tem 75
quilômetros de comprimento e, de largura, 25. Nessa faixa de terra, habitavam os aguerridos
filisteus, inimigos mortais do povo israelita.
Fértil, essa região era abundante em cereais e frutas. Os seus figos e oliveiras eram
muito apreciados. Nesse território, localizavam-se as cinco principais cidades filis-téias:
Gaza,' Ascalom, Asdode, Gate e Ecrom. Não eram propriamente cidades, mas,
indevassáveis fortalezas. Nessa planície, ficava, ainda, o Porto de Jope, muito importante
para os israelitas do Antigo Pacto. Neste século, os sionistas resolveram reativá-lo, tendo em
vista o crescimento da economia israelense.
IV - PLANÍCIE DE SEFELÁ
Situada entre a Filístia e as montanhas da Judéia, a Planície de Sefelá é caracterizada
por uma série de baixas colinas. A fertilidade de seu solo é bastante notória; as colheitas de
trigo, uva e oliva são abundantes.
O significado hebraico de Sefelá - terras baixas ou maus baixas - realça bem a
topografia dessa planície. Ela nos lembra mais uma faixa de terra do que uma planície
propriamente dita. Eis como o pastor Enéas Tognini a classifica: "... um altiplano rochoso
que corre da costa, rumo SE, penetrando até a fronteira da tribo de Judá..."
Sefelá serviu de lar aos patriarcas Abraão e Isaque por longos anos. E, por tratar-se
de uma região política e economicamente muito importante, foi motivo de não poucas
discórdias e guerras entre israelitas e filisteus.
Apesar de sua importância estratégica e de suas peculiaridades geográficas, o seu
nome só é encontrado no livro apócrifo de primeiro Macabeus 12.38. No Antigo Testamento,
recebe outras designações.
V - PLANÍCIE DO ARMAGEDOM
Essa planície recebe, também, estes nomes: Jezreel ou Esdraelom. Por causa de sua
extensão e aspectos característicos, várias passagens bíblicas tratam-na de vale. A maioria
dos geógrafos bíblicos, entretanto, prefere classificá-la de planície mesmo.
Armagedom encontra-se na confluência de três vales, dos quais o mais importante é -
Jezreel. Localizada entre os montes da Galiléia e os de Samaria, essa planície (a maior de
Israel) é insuperável em sua formosura. Suavemente. alarga-se em direção do Carmelo até
repousar nos montes Líbanos.
Em seu livro. Geografia Bíblica, Oswaldo Ronis fornece-nos mais algumas
informações acerca desse escatológico lugar: "No ângulo suleste da planície, fica o local da
antiga e importante cidade fortificada de Jezreel. que foi a capital do reino do Norte no
tempo de Acabe e Jezabel. Para o leste desta cidade, desce o vale de Jezreel até atingir o -
Jordão na altura de Bete-Seã. De modo que a cidade empresta o seu nome tanto à planície
que se estende para o noroeste como ao vale que toma a direção leste."
A planície do Armagedom é uma das áreas mais estratégicas de Israel. Constitui-se
numa via de comunicação natural entre a cidade de Damasco e o mar Mediterrâneo. No
período veterotestamentário, serviu de palco a renhidos combates. Essa sangrenta arena é
atravessada, longitutinalmente, de leste a oeste, pelo rio Kishon que desemboca no
Mediterrâneo.
Armagedom está ligado a um grande embate escatoló-gico. O evangelista -João
gizanos, sinteticamente, o maior dos confrontos: "E os congregaram no lugar que em hebreu
se chama Armagedom" (Ap 16.16). Nessa planície, o povo de Deus sofrerá as mais
lancinantes dores de sua história. -Jesus Cristo, todavia, escolheu esse lugar para reconciliarse
com os filhos de Israel. Quando isso ocorrer, os israelitas livrar-se-ão, para sempre, de
seus algozes.
VI - OUTRAS PLANÍCIES
Deparamo-nos, na Terra de Israel, com outras planícies, tais como as de Jerico,
Dotam, Moabe, Genezaré, etc. Mas, por serem pequenas, não são muito importantes no
contexto histórico-bíblico.
Vales da Terra Santa
Sumário: Introdução. I - Vale do Jordão. II - Vale de Jezreel. III - Vale de Açor.
IV- Vale de Aijalom. V-Vale de Escol. VI - Vale de Hebrom. VII - Vale de Si-dim. VIII -
Vale de Siquém. IX - Vale de Basam. X -Vale de Moabe.
INTRODUÇÃO
Israel é uma terra abundante em vales. Antes da conquista de Canaã, Moisés
esclarece ao povo israelita: "Porque a terra que passais a possuir não é como a terra do Egito,
donde saístes, em que semeáveis a vossa semente, com o pé, a regáveis como a uma
horta; mas a terra que passais a possuir é terra de montes e de vales: da chuva dos céus,
beberás as águas" (Dt 11.10 e 11).
No Novo Dicionário da Bíblia, explica-nos A.R. Millard: "Na Palestina, onde a
chuva cai somente durante certo período do ano, a paisagem é recortada por muitos vales
estreitos e leitos de riachos (ou wadis), que só exibem água durante a estação chuvosa (em
hebraico, nahal; no árabe, iradi). Freqüentemente, pode ser encontrada água subterrânea
nesses wadis. durante os meses de estio. (Cf. Gn 26.17,19.) Os rios perenes atravessam
vales e planícies mais largos (no hebraico, emeq, biq'ã), ou então cortam gargantas estreitas
através da rocha. O vocábulo hebraico 'shephèlâ' denota terreno baixo, especialmente a
planície costeira; 'gay' é termo hebraico que significa simplesmente rale.
Vale, segundo o mestre Aurélio, é uma depressão alongada entre montes ou
quaisquer outras superfícies. Essa palavra é bastante comum no Antigo Testamento.
Encontramo-la 188 vezes nas escrituras hebraicas. No Novo Testamento, contudo, é
mencionada apenas uma vez. É claro que não poderemos estudar todos os vales da Terra
Santa. Deter-nos-emos nos principais.
I - VALE DO JORDÃO
Eis o maior vale de Israel. Começa no sopé do monte Hermom (no Norte) e vai até o
mar Morto (no Sul). O território israelita, portanto, é cortado, longitudinalmente, pelo vale
do Jordão, cenário de importantíssimos acontecimentos na vida do povo de Deus.
Constituindo-se de uma grande fenda geológica, esse portentoso vale, em seu ponto
inicial, tem uma largura de 100 metros. Alarga-se, porém, pouco a pouco, nas proximidades
do mar da Galiléia, chega a três quilômetros; e, nas imediações do mar Morto, a 15. Depois,
no entanto, começa a estreitar-se novamente.
Nesse vale, corre o rio Jordão, onde Jesus foi batizado. O Jordão é, ainda, o mais
profundo vale de toda a Terra: encontra-se a 426 metros abaixo do nível do mar Mediterrâneo.
Netta Kemp de Money fornece-nos mais algumas informações sobre o vale do
Jordão: "Seu solo, em parte argiloso e arenoso, interrompe-se por penhascos de greda gris e
inumeráveis pedras de forma fantástica, que imprimem àquela paisagem um ar um tanto
triste e desolador. Grande parte deste vale, todavia, é de uma fertilidade exuberante e todo
suscetível de cultivo. O vale do Jordão não constituía antigamente barreira intransponível,
mas dificultava a comunicação e o livre tráfego entre as tribos irmãs em ambos os lados."
II - VALE DE JEZREEL
Não podemos confundir o vale de Jezreel com a planície de mesmo nome. A
confusão, no entanto, existe. Ela ocorre em conseqüência da inexatidão de certos autores.
O vale de Jezreel começa nas nascentes do ribeiro de Jalud e termina no vale do
Jordão, nas cercanias de Bete-Seã. Nas proximidades desse vale, localiza-se a moderna
cidade de Zerim.
III - VALE DE AÇOR
O pecado de Acã trouxe sérios prejuízos a Israel. Em conseqüência desse delito, os
exércitos hebraicos sofreram irrefragáveis derrotas. A maldição só deixou o arraial dos
israelitas com o apedrejamento do reticente pecador.
A punição, de acordo com o livro de Josué, deu-se no vale de Açor: "Então Josué e
todo o Israel com ele tomaram a Acã, filho de Zerá, e a prata, e a capa, e a cunha de ouro, e
a seus filhos, e a suas filhas, e a seus bois, e a seus jumentos, e as suas ovelhas, e a sua
tenda, e a tudo quanto tinha; e levaram-nos ao vale de Açor. E disse Josué: Porque nos
turbastes, o Senhor te turbará a ti este dia. E todo o Israel o apedrejou com pedras, e os
queimaram a fogo, e os apedrejaram com pedras, até ao dia de hoje; assim o Senhor se
tornou do ardor da sua ira: pelo que se chamou o nome daquele lugar o vale de Açor, até o
dia de hoje" (Js 7.24-26).
Nesse vale, localizado entre as terras de Judá e Benjamim, ficavam as fortalezas de
Midim, Secacá e Nibsam. Açor, informa o Novo Dicionário da Bíblia, é o primeiro nome
locativo a ser mencionado no rolo de cobre de Qum-ram.
IV - VALE DE AIJALOM
O Vale de Aijalom foi palco de um dos maiores milagres já presenciados por
qualquer ser humano. Foi nessa região que, por uma ordem de Josué, o Sol deteve-se sobre
os amorreus, possibilitando às forças israelitas, estrondosa vitória. Nesse mesmo lugar, no
Século II a.C, Judas Ma-cabeu obteve decisivo triunfo sobre as forças de Antíoco Epífanes,
tirano grego da Síria.
Aijalom localiza-se nas imediações de Sefelá, a 24 quilômetros a noroeste de
Jerusalém. Com 18 quilômetros de comprimento e nove de largura, esse vale abrigou, no
ano 70 de nossa era, as tropas romanas, comandadas pelo general Tito. Desse vale, os
romanos saíram para destruir Jerusalém e o Templo. Localiza-se, nessa área, atualmente, a
cidade de Yalo, onde há importantes indústrias.
V - VALE DE ESCOL
Uma região fértil e abundante em vinhedas. Assim é o vale de Escol. John Davis
fornece-nos mais algumas informações acerca desse lugar de fartura: "... celebrizou-se pela
exuberância de vinhedos, produtores de dulcíssimos cachos. Ignora-se se este nome era já
conhecido antes dos tempos de Moisés. Como quer que seja, Hebrom relembrava aos
israelitas o local onde os espias enviados por Moisés para reconhecer a terra, cortaram o
famoso cacho de uvas, que dois deles trouxeram enfiado em uma vara."
O vale de Escol, localizado nas proximidades de Hebrom, continua a ser famoso pela
sua singular fertilidade. Atualmente, rende consideráveis divisas ao Estado de Israel, com
suas uvas, romãs e figos.
Escol, em hebraico, significa cacho.
VI - VALE DE HEBROM
Durante suas constantes e árduas peregrinações, o piedoso patriarca Abraão fixou-se,
certa feita, no Vale de Hebrom, onde fica um lugar chamado Manre. Teve, o nosso pai na fé,
nessas paragens, ricas experiências espirituais. Nessas tão abençoadas terras, o amigo de
Deus construiu um altar; recebeu a divina promessa de que, não obstante sua avançada
idade, ainda teria um filho, e, intercedeu pelos concupiscentes sodomitas.
O vale de Hebrom serviu também de sepulcro à família patriarcal. Na silente
sepultura de Macpela, repousam os ossos dos primeiros ancestrais do povo escolhido. E, de
conformidade com o historiador Flávio Josefo, os corpos dos patriarcas tribais encontramse,
de igual modo, nesse repousante solo.
Localizado a 30 quilômetros a sudoeste de Jerusalém, o vale de Hebrom está a quase
mil metros acima do nível do Mediterrâneo. Com os seus 30 quilômetros de comprimento,
guarda muitos resquícios da era patriarcal como, por exemplo, o famoso Terebinto de More.
VII - VALE DE SIDIM
No vale de Sidim, localizado na extremidade meridional do mar Morto, ficavam as
impenitentes cidades de Sodoma e Gomorra. Nesse lugar, a coligação de Quedorlao-mer
defrontou-se com os exércitos dos cinco reis. A intervenção de Abraão, nesse combate, foi
decisiva. O piedoso patriarca mostrou que, além de homem de fé, era, também, um intrépido
guerreiro.
Nessa região, havia muitos poços de betume, segundo informa-nos Moisés no livro
de Gênesis 14.3-8. Recentemente, a arqueologia, com o auxílio de outras ciências, encontrou,
no vale de Sidim, vestígios de antiqüíssimas cidades. De acordo com as pesquisas
científicas, esses povoados foram destruídos por uma grande explosão. Uma vez mais, a
veracidade das Escrituras Sagradas é corroborada pela ciência.
Hodiernamente, o Vale de Sidim é aridificado, sem vida. Nos dias de Ló, contudo,
parecia o próprio Éden. Merril F. Unger compendia estes interessantes dados acerca dessa
singular região da Terra Santa: "Em algum tempo, por volta da metade do século XXI a.C.,
o vale de Sidim com suas cidades foi subvertido por uma grande conflagração (Gênesis
19.23-28). Essa região é mencionada como 'cheia de poços de betume' (Gênesis 14.10), e
depósitos de petróleo podem ainda ser encontrados nela. Toda a região está na longa linha
quebrada que formava o vale do Jordão, o mar Morto e o Arabá. Através da história, ela tem
sido palco de terremotos, e embora a narrativa bíblica registre apenas os elementos
miraculosos, a atividade geológica foi, sem dúvida, um fator partícipe. O sal e o enxofre
nativos nessa área, que é agora uma região queimada de óleo e asfalto, foram misturados
por um terremoto, resultando em violenta explosão, ü sal e o enxofre ascenderam aos céus,
tornando-o rubro com o seu calor, de forma que, literalmente, choveu fogo e enxofre sobre
toda a planície (Gênesis 19.24,28). A narrativa da mulher de Ló ter sido transformada em
uma estátua de sal pode certamente ser relacionada com a grande massa de sal existente no
vale Jebel Usdum ('Montanha de Sodoma'), monte de uns oito quilômetros de comprimento,
que se estende de norte a sul, na extremidade sudoeste do mar Morto. Em algum lugar sob
as águas do lago cujo nível sobe lentamente, ao sul. nas vizinhanças desse monte, poderão
ser encontradas as Cidades da planície. Nas épocas clássicas e neo-testamentárias, as suas
ruínas ainda eram visíveis não tendo sido cobertas pelas águas."
O vale de Sidim, portanto, é uma séria advertência à raça humana: de Deus não se
escarnece, porque tudo o que o homem semear isso também ceifará.
VIII - VALE DE SIQUÉM
Certa vez, durante o seu ministério terreno. -Jesus sentou-se à beira do Poço de Jacó.
E, com sua inconfundível e serena voz, falou do Reino de Deus a uma pobre e sedenta
samaritana. Daquele inefável diálogo, surgiu um grande avivamento entre os desprezados
samaritanos.
- Onde fica o Poço de Jacó? - No Vale de Siquém. Com os seus 12 quilômetros de
comprimento, de seu solo explode exuberante vegetação. Por causa de suas inúmeras
nascentes, pode ser comparado aos mananciais da eternidade.
O vale de Siquém foi o primeiro lar do patriarca Abraão. Nesse lugar, cujo nome
significa ombro em hebraico, Jacó armou a sua tenda, ao voltar de Harã; Diná foi deflorada
pelo imprudente príncipe Siquém; Simeão e Levi cometeram grande chacina para vingar a
irmã; e o governador José foi sepultado.
Nesse vale, localizado entre os montes Gerizim e Ebal, no centro de Israel, fica a
moderna cidade de Nablus.
Mapa dos vales israelenses
IX - VALE DE BASAM
Segundo Oswaldo Ronis, o vale de Basam não é citado nas Sagradas Escrituras. Suas
referências limitam-se à literatura profana. Ronis acrescenta: "provavelmente trata-se do
vale por onde corre o rio Yarmuque, no Nordeste da Palestina."
X - VALE DE MOABE
É o vale de Moabe o mais dilatado dos três vales que desembocam na planície
moabita. Localizada a nordeste do mar Morto, essa região era habitada pelos incestuosos
filhos de Ló, que muitos danos causaram aos israelitas.
Tentando impedir o avanço do povo de Deus, os moa-bitas colocaram tropeços em
seu arraial. Em conseqüência da contumácia de Moabe, determinou o Senhor: "Nenhum
amonita nem moabita entrará na congregação do Senhor; nem ainda a sua décima geração
entrará na congregação do Senhor eternamente. Porquanto não saíram com pão e água a
receber-vos no caminho, quando saíeis do Egito; e porquanto alugaram contra ti a Balaão,
filho de Beor, de Petor, da Mesopotâmia, para te amaldiçoar" (Dt 23.3-4).
Moisés morreu em Moabe. Dessas terras, o maior legislador do Antigo Testamento
avistou Canaã. E, então, com a serenidade própria dos anjos, adormeceu.
Não obstante amaldiçoados, a misericórdia alcançou os filhos de Moabe por
intermédio de Rute. Virtuosa e cheia de fé, essa moabita teve o singular privilégio de ser
uma das ancestrais de nosso Senhor Jesus Cristo. A história de Rute é uma das mais belas
páginas de amor da literatura universal.
Nessa região, foi encontrada a famosa Pedra Moabita. Descreve-a Orlando Boyer:
"Uma pedra de basalto negro, encontrada no ano de 1868 nas ruínas de Dibom, antiga cidade
moabita. É o maior documento encontrado até agora, fora da Bíblia, que trata da
Palestina, antes de Cristo. Sua inscrição difere muito pouco do hebraico. Esta pedra dá um
relatório da guerra de Mesa, rei de Moabe, contra Onri, Acabe e outros reis de Israel."
Planaltos da Terra Santa
Sumário: Introdução. I - Planalto Central. II Planalto Oriental.
INTRODUÇÃO
Em Israel, há dois grandes planaltos: o Central e o Oriental. O primeiro é,
praticamente, uma continuação dos famosos montes Líbanos; sai do centro do país em direção
norte-sul. O segundo é considerado pela maioria dos geógrafos um apêndice do Ante-
Líbano; segue a mesma direção do anterior.
Ambos os planaltos têm uma altitude média que varia entre 700 a 1.400 metros.
O que é um planalto? Deixemos a definição por conta de mestre Aurélio: "Grande
extensão de terreno plano ou pouco ondulado, elevado, cortado por vales nele encaixados.
I - PLANALTO CENTRAL
O Planalto Central compreende os planaltos de Naftali, Efraim e Judá.
1. Planalto de Naftali.
Localiza-se no Norte da Galiléia. Nessa região, habitavam os naftalitas, famosos por
sua coragem. No entanto, por causa da fragilidade de suas fronteiras, sofriam constantes
ataques por parte de potências hostis.
2. Planalto de Efraim.
Compreende a área de Samaria. Depois do cisma israelita, ocorrido em 931 a.C, essa
região passou a ser a capital política do Reino do Norte.
3. Planalto de Judá.
Situado no Sul, esse planalto é ladeado por Betel e Hebrom. Esse território coube aos
descendentes do mais extraordinário filho de Jacó, o audacioso Judá.
II - PLANALTO ORIENTAL
Localizado no Oriente do Jordão, o Planalto Oriental, de igual modo, possui três
importantes planaltos: Basam, Gileade e Moabe.
1. Planalto de Basam.
Conhecido, também, como Auram, situa-se entre o Sul do monte Hermom e o Rio
Yarmuque. No tempo de Josué, essa fértil região estava sob o controle de Ogue, que foi
derrotado, fragorosamente, pelos israelitas. Essas terras, abundantes em trigo e pasto para
gado, passaram ao domínio da tribo de Manasses.
2. Planalto de Gileade.
Fica entre Yarmuque e Hesbom. Esse planalto é cortado pelo Rio Jaboque. Sua
fertilidade é também notória. O bálsamo dessa região era bastante apreciado no período
veterotestamentário. Pergunta o profeta Jeremias: "Porventura não há ungüento em Gileade?
ou não há lá médico?" (Jr 8.22).
3. Planalto de Moabe.
Essa região é bastante rochosa. No entanto, entrecor-tam-a vicejantes pastagens.
Localização: ao leste do rio Jordão e Mar Morto, prosseguindo até o rio Arnon.
Montes da Terra Santa
Sumário: Introdução. I - Montes palestínicos: 1. Montes de Judá. 2. Montes de
Efraim. 3. Montes de Naftali. II - Montes transjordanianos: 1. Montes de Moabe. 2.
Montes de Basã. 3. Montes de Gileade. III -Monte Sinai.
INTRODUÇÃO
Inspirado pelo Espírito Santo cantou Davi, o suave salmista: "Os que confiam no
Senhor serão como o monte de Sião, que não se abala, mas permanece para sempre. Como
estão os montes à roda de Jerusalém, assim o Senhor está em volta do seu povo desde agora
e para sempre" (Sl 125.1,2).
Por que Davi, em um de seus mais belos salmos, refere-se, aos montes?
Os montes sempre exerceram fortíssima influência sobre o espírito do povo de Deus.
Nessas elevações, vislumbravam os israelitas a magnitude divina. Foi no Sinai, aliás, que os
hebreus adquiriram seu corpo doutrinai. Outras experiências espirituais tiveram eles nesses
acidentes geográficos, bastante comuns em Israel.
O pastor Enéas Tognini compendia estas importantíssimas lições sobre a orografia da
Terra Santa: "Israel passou 400 anos no Baixo Egito, cujas terras são planas, onde não
chove, pois confina com o medonho deserto do Saara. Esse povo passaria, sob o comando
de Moisés, para Canaã. terra de montes e vales, e onde a chuva é abundante no inverno. Os
montes exerceram poderosa influência no povo que cantou em sua poesia ou prosa os cumes
e as elevações. A importância dos montes na Bíblia é muito grande. As tábuas da Lei foram
dadas por Deus a Moisés num monte; Arão morreu num monte; também Moisés; a bênção e
a maldição foram proclamadas em montes; João Batista nasceu nas montanhas; Jesus nasceu
na região montanhosa da Judéia; sua grande batalha com o Diabo foi num monte; num
monte foi o seu maior sermão; transfigurou-se num monte; agonizou num monte; foi
crucificado num monte; e sepultado e ressurrecto num monte, e, ainda, ascendeu ao Céu de
um monie, e mais: voltará, colocando seus pés no monte das Oliveiras."
O que é um monte; Recorramos à definição de John Davis: "Elevação natural da
terra. Aplica-se geralmente a uma eminência, mais ou menos saliente, menor do que a
montanha, e maior do que um outeiro. Estes nomes têm valor relativo; às vezes a mesma
elevação é designada, em alguns lugares por monte e em outros por montanha. Monte é a
tradução do hebraico 'Gibah', e do grego 'Bounos'".
I - MONTES PALESTÍNICOS
Estudaremos, nessa primeira parte, os montes de Judá, de Efraim e de Naftali. Nessas
saliências, os israelitas presenciaram grandes acontecimentos e deles participaram.
Atualmente, essas elevações servem-lhes de solene memorial: recordam-lhes os intrépidos
juízes; os altivos reis; os piedosos profetas; os judiciosos mestres do povo. etc.
Mapa das montanhas da antiga Palestina
1 - Montes de Judá
Os montes de Judá localizam-se ao Sul dos montes de Efraim. Constituem-se de uma
série de elevações, entre as quais há herbosos vales, por onde correm riachos que deságuam
nos mares Morto e Mediterrâneo. Eis os mais notórios montes de Judá: Sião, Moriá,
Oliveiras, e o da Tentação.
1.1 - Monte Sião
Localizado na parte Leste de Jerusalém, o monte Sião ergue-se ali soberano e altivo.
Com aproximadamente 800 metros de altura, ao nível do Mediterrâneo, é a mais alta
montanha da cidade Santa. Designa-o desta forma o profeta Joel: "E vós sabereis que eu sou
o Senhor vosso Deus, que habito em Sião, o monte da minha santidade; e Jerusalém será
santidade; estranhos não passarão mais por ela" (Jl 3.17).
O Monte Sião era habitado pelos Jebuseus. Davi, entretanto, ao assumir o controle
político-militar de Israel, resolveu desalojá-los. A partir de então, aquela singular elevação
passou a ser a capital do Reino de Israel. Em virtude de sua posição privilegiada, era uma
fortaleza natural para a cidade de Jerusalém.
Mais tarde, ordenou Davi fosse levada a arca da aliança a Sião. Por causa disso, o
monte passou a ser considerado santo pelos hebreus. Décadas mais tarde, com a remoção da
sagrada urna ao Santo Templo, Sião passou a designar, também, a área compreendida pela
Casa do Senhor. E, não foi muito difícil a própria Jerusalém ser chamada por esse
abençoado nome.
No Monte Sião encontra-se a sepultura do rei Davi. Em uma das lombadas dessa
memorável área, localiza-se um cemitério protestante, onde está sepultado o renomado
arqueólogo Sir Flinders Petri.
Após o Exílio Babilônico, os judeus começaram a identificar-se, com mais
intensidade, com a mística Sião. Na luxuriante e soberba Babilônia, eles lembravam-se
desse nome e derramavam copiosas lágrimas. Nos tempos modernos, foi criado um
movimento, visando à criação do
Estado de Israel, cujo nome é Sionismo. Essa designação reflete bem o amor dos
judeus por sua terra.
A Igreja de Cristo é considerada a Sião Celestial, repleta de justiça e habitada por
homens, mulheres e crianças comprados pelo sangue do Cordeiro.
1.2 - Monte Moriá
Moriá é sinônimo de sacrifício e abnegação. Nesse monte, o patriarca Abraão passou
a maior prova de sua carreira espiritual. Premido pelo Todo-poderoso, preparava-se para
sacrificar seu filho, seu único filho Isaque, quando ouviu este brado: "Abraão, Abraão! E ele
disse: Eis-me aqui. Então disse-lhe o anjo do Senhor|: Não estendas a mão contra o moço, e
não lhe faças nada; porquanto agora sei que temes a Deus, e não me negaste o teu filho, o
teu único" (Gn 22.11,12). Continua a narrativa: "Então levantou Abraão os seus olhos; e eis
um carneiro detrás dele, travado pelas suas pontas num mato; e foi Abraão, e tomou o
carneiro, e ofereceu-o em holocausto, em lugar de seu filho" (Gn 22.13).
Localizado a leste de Sião, e Monte Moriá tem uma altura média de 800 metros ao
nível do Mediterrâneo. De forma alongada, sua parte mais baixa era conhecida como Ofel.
No tempo de Abraão, Moriá não designava propriamente um monte, mas uma região.
Mil anos após a era patriarcal, Salomão construiu o Templo nessa elevação. A Casa
do Senhor, entretanto, foi destruída por Nabucodonozor, em 587 a.C. Reconstruída no
tempo de Esdras e Neemias, foi novamente destruída pelo general Tito, no ano 70 de nossa
era. Atualmente, sobre esse monte, encontra-se a Mesquita de Ornar, um dos lugares mais
sagrados para os muçulmanos.
O que significa Moriá? O professor Zev Vilnay, citado por Enéas Tognini, explica:
"Os sábios de Israel perguntaram: - 'Por que este monte se chama Moriá?' - Porque vem da
palavra 'Mora', que, em hebraico, significa temor. Desta montanha o temor de Deus
percorreu a terra toda. Outra versão diz que vem de 'ora', que quer dizer luz, pois quando o
Todo-poderoso ordenou: 'Haja luz', foi do Moriá que pela primeira vez brilhou a luz sobre a
humanidade."
Hoje, Moriá poderia ser chamado "Montanha das Lágrimas". Do Templo, restou
apenas uma muralha na qual judeus de todo o mundo choram seu exílio e suas amarguras. O
Muro das Lamentações é o último resquício da glória passada de Israel.
1.3. - Monte das Oliveiras
O Monte das Oliveiras situa-se no setor oriental de Jerusalém. O Vale do Cedrom
separa-o do monte Moriá. Esse monte, denominado "Mons Viri Galilaei", compõe uma
cordilheira, sem muita expressão, com aproximadamente três quilômetros de comprimento.
Na parte ocidental do Monte das Oliveiras, fica o Jardim do Getsêmani. Nos dias do
Antigo Testamento, essa sagrada elevação era coberta de oliveiras, vinhedos, figueiras e
uma série de outras árvores frutíferas e ornamentais. A fertilidade dessa região é proverbial
e secular, haja vista que, depois do exílio babilônico, a Festa dos Tabernáculos foi realizada
com os ramos das árvores do Olivete.
No Jardim do Getsêmani, Jesus enfrentou um dos mais dolorosos momentos de seu
ministério. Envolto na sombra da noite, clamou. Pressionado pelos nossos pecados, chorou.
Ali, seu corpo foi esmagado por causa das nossas transgressões. 1.4 - Monte da Tentação
Logo após o seu batismo, foi Jesus levado a um monte, onde passou 40 dias. Em
completo jejum por 40 dias, foi tentado pelo Diabo; teve fome depois de terminar o jejum e
sofreu a solidão. Essa elevação, que serviu de claustro ao Salvador, é conhecida como o
monte da Tentação.
Distante 20 quilômetros a leste de Jerusalém, esse monte fica a quase 1000 metros
acima do nível do mar. Sua altura, contudo, não ultrapassa a 300 metros, por encontrar-se no
profundo terreno do vale do Jordão. Caracterizado por ingrata aridez, possui inúmeras
cavernas, onde os monges refugiam-se para meditar.
Na realidade, as Sagradas Escrituras não declinam o nome do monte onde o Senhor
foi tentado. Entretanto, o Monte da tentação é o único que corresponde ao cenário onde
Cristo travou uma de suas mais decisivas batalhas.
2 - Montes de Efraim
A região montanhosa de Efraim abrange a área ocupada pelos efraimitas, pela metade
dos manassitas e por uma parcela dos benjamitas. Conhecemos essa área, também por estes
nomes: monte de Naftali. monte de Israel e monte de Samaria. Essa área é classificada,
geograficamente, como Planalto Central.
Eis os mais importantes montes de Efraim: Ebal e Ge-rizim. Sobre ambos os montes,
foram pronunciadas as maldições e as bênçãos sobre os filhos de Israel. Ambas as
elevações, testemunham os visitantes, formam um anfiteatro, com perfeita acústica.
2.1 - Monte Ebal
Do Ebal foram pronunciadas as maldições. Localizado no Norte de Nablus, seu solo
é aridificado e com muitas escarpas. Tem 300 metros de altura e fica a mais de mil metros
acima do Mar Mediterrâneo.
Jotão proclamou seu célebre apólogo do cume desse monte. E, dessa engenhosa
maneira, incitou Israel a lutar contra o usurpador Alimeleque.
Tanto o Ebal, como o Gerizim, ocupam posição estratégica. Para se alcançar
qualquer parte da Terra Santa, há de se passar, necessariamente, por ambos os montes
"Ebal" significa, em hebraico, pedra.
2.2 - Monte Gerizim
Ao contrário do Ebal, o monte Gerizim é coberto por reconfortante vegetação. A
altura dessa elevação é de 230 metros. Com relação ao nível do Mediterrâneo, está situado a
940 metros de altitude. Nesse monte, foram abertas muitas cisternas para captar águas da
chuva.
Após o exílio babilônico, os samaritanos, instigados por Sambalá, construíram um
templo sobre o Gerizim. Visavam tirar a glória do Templo reconstruído por Esdras e
Neemias. Em 129 a.C, o lugar de adoração dos samaritanos seria destruído por João
Hircano.
Recentemente, Salcy descobriu reminiscências desse espúrio santuário. Conforme
descreve esse laborioso arqueólogo, o templo dos samaritanos era rico e suntuoso.
O Monte (gerizim, atualmente é conhecido como Jebel et-Tor. E. continua sendo o
lugar de adoração dos samaritanos. Segundo dizem, foi nesse monte que Abraão pagou o
dízimo a Melquisedeque. Eles acreditam, também, que foi nesse lugar que Isaque seria
sacrificado pelo piedoso pai dos hebreus.
3 - Montes de Naftali
Essa designação abarca todo o conjunto montanhoso do Norte da Terra Santa.
Abrange a região da Galiléia. Quando da conquista de Canaã, esse território foi destinado às
tribos de Aser, Zebulom, Issacar e Naftali. Os naftalitas ficaram com uma área mais extensa.
Em virtude disso, essas terras passaram a ser conhecidas como Naftali.
Eis os quatro mais importantes montes dessa região: Carmelo, Tabor, Gilboa e
Hatim.
3.1 - Monte Carmelo
Travou-se no Carmelo um dos mais renhidos combates entre a fé e a idolatria. Cheio
do Espírito Santo, Elias desafiou várias centenas de profetas de Baal. A vitória, é claro,
coube ao profeta do Senhor. Esse monte, em virtude dessa confrontação, é símbolo de prova
e fogo.
O Carmelo não é propriamente um monte. Faz parte, na realidade, de uma cordilheira
de 30 quilômetros de comprimento. Sua largura oscila entre 5 a 13 quilômetros, a começar
do Mediterrâneo em direção ao Sudeste do território israelita. O ponto mais elevado dessa
serra não atinge 600 metros. O duelo de Elias com os falsos profetas deu-se exatamente no
cume do monte Carmelo.
No lado Norte dessa cordilheira, passa o rio Quisom, onde os vassalos de Baal foram
exterminados. Oswaldo Ronis acrescenta-nos mais alguns detalhes acerca do Carmelo:
"Este é o único monte que se destaca do planalto central na direção oeste, formando um
promontório ao sul da planície do Acre (Accho ou Asher) e é a única parte do território da
palestina que avança mar Mediterrâneo adentro, formando, ao Norte, a baía do Acre onde se
localiza a cidade de Haifa. Note-se que este monte ou serra forma uma barreira entre as
planícies Esdraelom, ao norte e Sarom ao sul, apresentando em seus flancos inúmeras cavernas
que, pela sua conformação interna, parece (algumas) terem sido habitadas. Uma delas é
conhecida como a 'Gruta de Elias' , que hoje é um santuário muçulmano."
3.2 - Monte Tabor
Localizado também na Galiléia, o Tabor tem 320 metros de altura. Trata-se de um
monte solitário, plantado na luxuriante Esdraelom. Visto do Sul, lembra-nos um semicírculo.
Dista a apenas 10 quilômetros de Nazaré e a 16 do mar da Galiléia. Situa-se a
615 metros acima do nível do Mar Mediterrâneo.
De seu cume podem-se avistar magníficas paisagens. A alma poética dos hebreus
embevecia-se com os maravilhosos quadros vislumbrados desse monte. O Tabor, por esse
motivo, era comparado ao monte Hermom.
O Tabor é muito importante no Antigo Testamento. Em suas cercanias, os exércitos
de Débora e Baraque combateram as forças de Sísera. Mais tarde, Gideão, nessa mesma
área, colocou em fuga os batalhões dos midianitas.
Nos dias de Oséias, foi construído um santuário pagão sobre o monte Tabor, contra o
qual clamou o santo profeta: "Ouvi isto, ó sacerdotes, e escutai, ó casa de Israel, e escutai, ó
casa do rei, porque a vós pertence este juízo, visto que fostes um laço para Mizpá, e rede
estendida sobre o Tabor" (Os 5.1).
Tempos mais tarde, foi construída uma cidade no topo desse monte. Em 218 a.C.,
Antíoco a conquistou e transformou-a em uma fortaleza. O Tabor seria cenário, ainda, de
vários conflitos entre romanos e judeus. O historiador Flávio Josefo, por exemplo, fortificou
uma determinada área desse monte. Dessas fortificações, sobraram, somente, trechos de um
muro.
A partir do Século III de nossa era, renomados teólogos começaram a ventilar esta
hipótese: A transfiguração do Cristo deu-se no Monte Tabor. Visando perenizar esse
importantíssimo momento da vida terrestre de Jesus, a mãe de Constantino Magno, Helena,
ordenou fossem construídos três santuários: um para Jesus, e os outros dois
para Moisés (representante da Lei) e Elias (representante dos profetas).
Hoje, todavia, acredita-se que a transfiguração ocorreu nas encostas sulinas do monte
Hermom.
O Tabor, atualmente, é chamado de Jabal al-Tur pelos árabes. Os israelenses
continuam a tratá-lo de Har Tãbhôr.
3.3 - Monte Gilboa
Com 13 quilômetros de comprimento e com uma largura que varia entre 5 a 8
quilômetros, o Monte Gilboa está localizado no Sudeste da planície de Jezreel. Sua forma é
alongada. Situa-se a 543 metros de altitude.
Em Gilboa, que significa fonte borbulhante em hebraico, morreram o rei Saul e seu
filho Jônatas, quando combatiam os incircuncisos filisteus. A fatalidade inspirou este
cântico davídico: "Vós, montes de Gilboa, nem orvalho, nem chuva caia sobre vós, nem
sobre vós, campos de ofertas alçadas, pois aí desprezivelmente foi profanado o escudo dos
valentes, o escudo de Saul, como se não fora ungido com óleo" (2 Sm 1.21).
As colinas do Gilboa são conhecidas, hodiernamente, como Jebel Fukua.
3.4 - Monte Hatim
Localizado nas proximidades do mar da Galiléia, o monte Hatim compõe o chamado
Cornos de Hatim. Sua altitude não ultrapassa os 180 metros. É um lugar bastante atrativo.
De seu topo, pode-se avistar o Mar da Galiléia. Seus dois picos principais têm a aparência
de chifres.
Acredita-se ter sido esse o monte, do qual Cristo pronunciou o célebre Sermão da
Montanha. O Hatim é conhecido, de igual modo, como o Monte das bem-aventuranças.
II - MONTES TRANSJORDANIANOS
Os montes transjordanianos são conhecidos, também, como Montes do Planalto. Eis
as suas principais elevações: Gileade, Basam, Pisga e Peor.
1 - Monte de Gileade
Trata-se de um conjunto montanhoso. Vai do Sul do Rio Yarmuque ao mar Morto.
Gileade é dividido pelo Ribeiro de Jaboque, onde Jacó lutou com o Anjo do Senhor. Essa
foi a primeira região conquistada pelos israelitas e coube à tribo de Gade. O profeta Elias é
originário dessa terra. No tempo de Jesus, esse território era conhecido como Peréia.
O nome dessa localidade surgiu com o encontro entre Jacó e Labão. Designou-a, o
primeiro, assim: Jegar-Saaduta. E, o segundo, Galeed. Ambas as nomenclaturas significam
montão do testemunho.
Essa região, na antigüidade, era famosa pela sua fertilidade. De seu solo, explodiam o
trigo, cevada, oliveira e legume. O seu bálsamo era procuradíssimo. Hoje, esse território
está em poder da Jordânia. Para os judeus ortodoxos, entretanto, Gileade é a eterna
possessão dos filhos de Israel.
2 - Monte de Basam
Basam é um dilatado e fertilíssimo conjunto de montanhas. Ao norte, limita-se com o
monte Hermom. Ao leste, com a região desértica da Síria e da Arábia. A Oeste, com o
Jordão e o mar da Galiléia. E, ao sul, com o Vale do Yarmuque.
Assim refere-se Davi a esse monte: "O monte de Deus é como o monte de Basam,
um monte elevado como o monte de Basam" (Sl 68.15).
As terras do Basam, por causa de sua fertilidade, constituem-se um celeiro para Síria
e o Estado de Israel. Na era veterotestamentária, essa região estava coberta de cedros e
carvalhos. E, em suas viscejantes pastagens, eram apascentados numerosos rebanhos.
Nos dias de Abraão, o monte de Basam era habitado pelos temidos refains, um povo
constituído de homens de elevada estatura. O último soberano dessa nação foi executado
pelos israelitas. Trata-se de Ogue, cuja cama media aproximadamente quatro metros de
comprimento e quase dois de largura.
Essa área foi destinada, por Moisés, aos manassitas.
3 - Monte Fisga
Do cimo do monte Pisga, contemplou Moisés a Terra Prometida: "Então subiu
Moisés das campinas de Moabe ao Monte Nebo, ao cume de Pisga, que está defronte de Jerico;
e o Senhor mostrou-lhe toda a terra, desde Gileade até Dã. Assim morreu ali Moisés,
servo do Senhor, na terra de Moabe, conforme o dito do Senhor" (Dt 34.1 e 6).
O Pisga está localizado na planície de Moabe. Dista 15 quilômetros do Leste da foz
do rio Jordão. Moisés vislumbrou o solo da promissão de uma altura de 800 metros. O
monte Pisga é conhecido, também, como Nebo. Alguns autores, contudo, dizem haver,
nessa região, dois montes: o Pisga e o Nebo.
4 - Monte Peor
O monte Peor está localizado nas imediações do Nebo. Em hebraico, "Peor" significa
abertura. Nesse monte era adorado o imoral Baal-Peor.
Do monte Peor, tentou Balaão amaldiçoar os filhos de Israel. No entanto, seus
esforços foram em vão. Como último recurso para prejudicar a marcha dos israelitas, induziu-
os a participar das sensuais cerimônias de adoração de Baal-Peor. Não fosse a ação
pronta e enérgica de Moisés, os hebreus teriam se corrompido completamente. Desse lamentável
episódio, falaria mais tarde o grande legislador: "Os vossos olhos têm visto o que
Deus fez por causa de Baal-Peor: pois a todo o homem que seguiu a Baal-Peor o Senhor teu
Deus consumiu no meio de ti" (Dt 4.3).
III - MONTE SINAI
O Sinai constitui-se de uma península montanhosa, localizada entre os golfos de Suez
e Acaba. Nessa região, Deus apareceu a Moisés e o comissionou a libertar Israel do jugo
faraônico. Da sarça ardente, clamou o grande Jeová: "Eu sou o que sou". Em frente a esse
monte, ficaram os israelitas acampados por quase um ano. Nesse santo lugar, o Senhor
entregou a Lei aos filhos de Israel (Êx 19 e Nm 10).
Conhecido também como Horebe, o monte Sinai serviu de refúgio a Elias. Nele, o
profeta, o ardente profeta de Jeová, pôde esconder-se da perversa Jezabel. "Sinai", segundo
os exegetas, significa sarça ardente, fendido ou rachado. Dizem alguns ser esse nome uma
evocação a Sin, deusa da Lua. Nas Sagradas Escrituras, esse monte recebe três diferentes
designações: Monte Sinai. Horebe e Monte de Deus.
Essa sagrada elevação tem uma forma triangular. Seus vértices superiores repousam
nos territórios asiático e africano. Ao Leste, é banhada pelo Golfo de Acaba. Ao Ocidente,
pelo Golfo de Suez. A área da Península do Sinai mede 35.000-. Nessa região, podemos
encontrar três zonas geológicas: Cretácea, Arenística e Granítica.
Apesar de aridificado, esse território tem os seus encantos particulares. Os montes
erguem-se soberanos e altivos. Queimadas pelo Sol, as areias mostram-se multicolo-ridas. A
vegetação é sobremodo escassa, tornando a sobrevivência humana praticamente impossível.
Os oásis são uma raridade. Em alguns locais, contudo, vislumbram-se verdes vales, em
virtude da água, que provém da neve de alguns altos picos. Nesses lugares, os anacoretas
encontram repouso e silêncio para a sua meditação.
O Sinai pertencia ao Egito. No entanto, na Guerra dos Seis Dias, em 1967, Israel
capturou toda essa região. Segundo a Palavra de Deus, a região do Sinai pertence, de fato,
aos israelitas.
Desertos da Terra Santa
Sumário: Introdução. I - Deserto do Sinai. II - Deserto da Judéia. III - Desertos de
Jerico, Bete-Âven e Gabaom. IV - Israel vence os desertos.
INTRODUÇÃO
Nas Sagradas Escrituras, de acordo com o Novo Dicionário da Bíblia, os vocábulos
traduzidos como "deserto" incluem não somente os desertos estéreis de dunas, de areia ou
de rocha, que surgem e dão cor à imaginação popular, mas igualmente designam terras
plainas de estepes e terras de pastagem, apropriada á criação de gado.
O vocábulo "deserto" pode ser encontrado 36 vezes como adjetivo e 284 como
substantivo, no Antigo Testamento. -Já no Novo Testamento, a mesma palavra aparece 12
vezes como adjetivo e 36 como substantivo.
A palavra hebraica mais traduzida como deserto é "midbar". Ela tem vários
significados: região plana e apropriada à criação de gado; área meio fértil e meio árida: e
deserto propriamente dito. Eis mais alguns termos hebraicos traduzidos como deserto:
"yesimon" - território desértico; "orbáh" - aridez, desolação, ruína (castigo divino); "tohu"
- vazio; "siyyah" - terra árida.
Atualmente, contudo, o termo deserto designa, segundo a Enciclopédia Mirador,
regiões de escassas precipitações e nas quais a cobertura vegetal é praticamente nula ou,
então, está reduzida a algumas plantas isoladas. Encontramos mais estas informações na
Mirador: "A insuficiência das precipitações, quer sob o aspecto quantitativo, quer do ponto
de vista de sua distribuição no decorrer do ano, é a característica mais importante das
regiões secas. É difícil encontrar um limite numérico para especificar as regiões secas,* por
causa da complexidade dos fatores atuantes. Tentou-se delimitar o Saara pelo isoketa de 10
mm e as regiões áridas pela de 250 mm. Mas tais cifras não possuem valor geral, porque a
aridez e, principalmente, a semi-aridez se manifestam em regiões com 50 mm ou mais de
precipitações, como o Nordeste brasileiro, que recebe, por vezes, quantidades superiores a
750 mm. Há uma graduação de aridez, que se estende desde os desertos quase absolutos,
denominados de 'tonezrouft' no Saara, até os desertos relativos, localizados nas áreas
limítrofes com as regiões úmidas. Além da deficiência das precipitações, é preciso lembrar a
sua irregularidade, que se torna maior à medida que a região é mais árida. A presença de
camadas de ar geralmente muito seco e sem nuvens, e o solo desnudo, cujo aquecimento
aumenta a radiação (e, em conseqüência, provoca intensa evaporação), são as causas principais
do déficit que caracteriza a aridez."
Os principais desertos citados nas Sagradas Escrituras localizam-se no Sul e no
Oriente de Israel. Agrupam-se os primeiros na Península do Sinai. Os outros, encontram-se
nas outras regiões do país. Veremos, pois, como o povo de Deus conviveu com essas
inóspitas áreas.
I - DESERTO DO SINAI
Os filhos de Israel caminharam no deserto durante quarenta anos. Nesse período,
aprenderam a conviver com as agruras do Sinai. Não obstante a aridez daquele solo, nada
lhes faltou. Supriu-lhes o Senhor todas as necessidades. Durante essas quatro décadas, os
israelitas deixaram de ser um bando de escravos e transformaram-se em uma forte e robusta
nação.
O Deserto do Sinai recebe, ainda, estes nomes: Sur, Para, Cades, Zim e Berseba. Os
geógrafos descrevem-no como um colossal deserto. Vai do Noroeste da península do
mesmo nome ao golfo do Suez. Essa região constitui-se de um maciço montanhoso. Nesse
lugar, recebeu Israel a lei de Moisés.
II - DESERTO DA JUDÉIA
As áreas localizadas do Leste dos montes de Judá ao rio Jordão e ao mar Morto
formam o deserto da Judéia. Subdivide-se este em vários desertos sem importância: Maon,
Zife e En-Gedi. Nessa árida região, perambulou Davi quando era perseguido pelo rei Saul.
Eis mais alguns desertos de Judá: Tecoa e Jeruel. Nesse território, o rei Josafá obteve
estrondosa vitória sobre as forças moabitas e amonitas. Nessa mesma região. o profeta
Amos exerceu o seu ministério e João Batista clamou contra seus reticentes
contemporâneos.
III - DESERTOS DE JERICO, BETE-ÁVEN E GA-BAOM
O deserto de Jerico fica no território benjamita. Esse desolado território forma,
segundo descreve o pastor Tognini, um longo desfiladeiro rochoso de cerca de 15 quilômetros
que desce de Jerusalém a Jerico. Nessa área, há muitas cavernas, nas quais escondem-se
malfeitores. Essa região serviu de cenário para a Parábola do Bom Samaritano, contada por
Jesus Cristo.
Bete-Áven e Gabaom são outros importantes desertos de Jerico. Em Gabaom, por
exemplo, obteve Josué importante vitória sobre os inimigos dos israelitas.
IV - ISRAEL VENCE OS DESERTOS
Cinqüenta por cento das terras israelenses compõem o Deserto do Neguev. No
entanto, o moderno Estado de Israel está vencendo a aridez de seus desertos e transformando-
os em uns vergéis.
O pastor Abraão de Almeida compendia estas informações acerca do reflorescimento
das áreas desérticas da Terra Santa: "Os progressos obtidos por Israel na transformação do
Neguev em um jardim regado são, de fato, impressionantes. Desde o início da década de 80
vêm sendo aplicados mais de três bilhões de dólares na construção de estradas, aquedutos e
linhas de comunicação, a fim de abrigar novas instalações militares e cerca de uma centena
de novos povoados agrícolas. E a chave para toda essa revitalização do deserto reside no
aumento das fontes hidrológicas. Há inclusive, um projeto arrojado, que objetiva conduzir
mais que um bilhão de toneladas de água por ano do Mediterrâneo para o mar Morto,
através de um canal cortando o Neguev. Esse grande canal levaria água fresca à indústria
local e água dessalinada aos agricultores, além de resolver um sério problema: a alarmante
evaporação das águas do mar Morto, que pode mesmo morrer, se providências sérias não
forem tomadas."
Hidrografia da Terra Santa
Sumário: Introdução. I - Mares da Terra Santa: 1 - Mar Mediterrâneo. 2 - Mar
Morto. 3 - Mar da Gali-léia. 4 - Mar Vermelho. II - Rios da Terra Santa: 1 -Bacia do
Mediterrâneo: a) Rio Belus. b) Rio Quisom. c) Rio Cana. d) Rio Gaãs. e) Rio Sorec. f) Rio
Besor. 2 -Bacia do Jordão: a) Rio Jordão, b) Rio Querite. c) Rio Cedrom. d) Rio
Iarmuque. e) Rio Jaboque. d) Rio Ar-nom. III - Lago de Merom.
INTRODUÇÃO
Como já dissemos, 50' < do território israelense são compostos, apenas, pelo Deserto
do Neguev. A água, por causa disso, constitui-se em questão vital para o Estado de Israel.
Os escassos cursos de água são muito bem aproveitados. A insuficiência hídrica, entretanto,
parece estrangular o desenvolvimento econômico e demográfico desse jovem país do Médio
Oriente.
Não fosse o eficiente sistema de irrigação israelense, os 5.000 km de campos aráveis
forneceriam uma produção tão exígua que não daria, sequer, para o consumo interno. Essa
área, apesar de parecer, hoje, um jardim, recebe pouquíssimos benefícios das chuvas. Além
disso, o seu índice de evaporação é bastante elevado. Na realidade, o verdadeiro potencial
agrícola de Israel é composto por menos de 2.000 km de terras intensivamente irrigadas.
Nos últimos anos. os israelenses têm intensificado a irrigação de seu território. Um
autor especializado em assuntos do Oriente Médio escreve: "A produtividade das terras só
podem melhorar caso haja maior aproveitamento dos recursos hídricos. Como estes não
admitem ampliação, a única solução para elevar a produtividade do solo de Israel - ou pelo
menos conservar o nível alcançado - é fornecer menos água para as terras já irrigadas,
liberando, desta forma, recursos para a irrigação de novas áreas."
A vida em Israel, por conseguinte, não seria possível sem sua hidrografia. Em todos
os momentos de sua história, os hebreus sempre mostraram-se preocupados com os seus
parcos recursos hídricos. Não obstante, têm sabido superar essas barreiras de maneira
maravilhosa.
Antes de estudarmos os mares, rios e lagos da Terra Santa, vejamos o que é,
realmente, hidrografia.
Etimologicamente, a palavra hidrografia é formada por dois vocábulos gregos:
"hidro" - água; e, "graphein" descrever. A hidrografia, portanto, é a ciência que estuda
todos os corpos de água que há na superfície do Globo. São objetos de seu estudo, pois, os
oceanos, mares, rios, lagos e geleiras. Ela detém-se. ainda, nas propriedades físicas e
químicas das águas.
A hidrografia encarrega-se, também, de elaborar cartas referentes às bacias fluviais,
leitos de rios e lagos e fundos de mares e oceanos.
I - MARES DA TERRA SANTA
A hidrografia de Israel é composta por três mares: Mediterrâneo, Morto e da Galiléia.
Este último, conforme veremos mais adiante, não é propriamente um mar. Antes de mais
nada, porém, definamos a palavra mar. Em último lugar, estudaremos o mar Vermelho.
Entre os hebreus, segundo explicação de Orlando Boyer, "mar" compreendia
qualquer grande massa de água. Eles consideravam-no criação do Senhor: "Do Senhor é a
terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam. Porque ele a fundou sobre os
mares, e a firmou sobre os rios" (SI 24.1,2). - Jó, com sua proverbial paciência, declarou:
"Ou quem encerrou o mar com portas, quando transbordou e saiu da madre, quando eu pus
as nuvens por sua vestidura, e a escuridão por envolvedouro? Quando passei sobre ele o
meu decreto, e lhe pus portas e ferrolhos, e disse: Até aqui virás, e não mais adiante, e aqui
se quebrarão as tuas ondas empoladas?" (Jó 38.8-11).
Tecnicamente, o mar pode ser definido, de conformidade com Aurélio, como a massa
de águas salgadas do globo terrestre: cada uma das porções em que está dividido o oceano;
e, grande massa de água salgada situada no interior dum continente.
1 - Mar Mediterrâneo
O Mediterrâneo aparece nas Sagradas Escrituras com outros nomes: Mar Grande,
Mar Ocidental, Mar dos Filisteus, Mar de Jata. Biblicamente, ele é tratado simplesmente de
o Mar. Sua importância é incontestável. Afirma Paul Valéry: "...o Mediterrâneo tem sido
uma verdadeira máquina de fabricar civilização". Assim divaga E. M. Forster sobre as ondas
desse gigante: "0 Mediterrâneo é a norma humana. Quando as pessoas deixam esse lago encantador,
através do Bósforo ou dos Pilares de Hércules, aproximam-se do monstruoso e do
extraordinário; e a saída meridional leva às mais estranhas experiências."
Com uma extensão de 4.500 km e uma superfície de três milhões de quilômetros
quadrados, o Mediterrâneo é o maior dos mares internos. Suas águas banham a Europa
Meridional, a Ásia Ocidental e a África Setentrional. Famosos rios deságuam em sua
histórica e milenar grandeza.
As mais antigas civilizações do Médio Oriente e da Europa escreveram suas histórias
sobre as águas do mar Mediterrâneo: micena, grega, fenícia, romana, turca, francesa,
italiana. Hodiernamente, esse mar continua a ser de suma importância para diversos povos.
Suas rotas incluem portos estratégicos como o de Gênova, Nápoles, Barcelona, Trieste,
Salônica, Beirute, Esmirna, Porto Saide, Alexandria, Constantinopla, Haifa, etc.
O mar Mediterrâneo banha toda a costa ocidental de Israel. Nessa área, suas águas
são bastante razas o que tornava impossível a aproximação de navios de grandes calados. O
Grande Mar, por esse motivo, não era usado pelos judeus como via de transporte. Eles,
aliás, sentiam-se isolados pelo Mediterrâneo.
Jope era o único porto do Grande Mar utilizado pelos israelitas. Entretanto, por causa
de seus arrecifes e bancos de areia, os navegantes não se aventuravam a procurá-lo com
freqüência. Por outro lado, o Mediterrâneo formava uma vastíssima área defensável à
pequena nação hebréia.
Através desse mar, Salomão recebeu os valiosos cedros do Líbano, para a construção
do Templo. Em suas águas foi Jonas lançado, quando fugia da presença do Senhor. Ao
contrário do profeta engolido pelo grande peixe, Paulo utilizou-se do Grande Mar para
universalizar o Evangelho.
2 - Mar Morto
O mar morto não é assim designado nas Sagradas Escrituras. Em virtude da imensa
quantidade de sal existente em suas águas, é chamado de mar Salgado pelos escritores
bíblicos. No livro de Josué, deparamo-nos com este registro: "Pararam-se as águas que
vinham de cima; Levantaram-se um montão, mui longe da cidade de Adã, que está da banda
de Sartã; e as que desciam ao mar das campinas, que é o mar Salgado , faltavam de todo e
separaram-se: então passou o povo defronte a Jerico" (Js 3.16).
Há, calcula-se, 25 por cento de sal nas águas do mar Morto. Suas águas, por
conseguinte, são demasiadamente densas. É quase impossível mergulhar ou afogar-se nesse
estranho mar. Alguns turistas aproveitam-se da densidade do mar Salgado para boiar e ler
seus jornais e revistas prediletos.
O mar Morto recebe, ainda, os seguintes nomes: mar de Arabá, mar Oriental, mar do
Sal. Flávio Josefo cognomina-o de lago do Asfalto. Para os árabes, ele é o mar Pes-tilento.
No Talmude, é denominado de mar de Sodoma. Os povos vizinhos de Israel colocaram-lhe
outros apelidos: mar de Sodoma e Gomorra, mar de Segor, mar de Ló, etc.
Localizado na foz do rio Jordão, entre os montes de Judá e Moabe, o mar Morto
constitui-se na mais profunda depressão da Terra. Encontra-se a mais de 400 metros abaixo
do nível do Mediterrâneo. Com 78 quilômetros de comprimento por 18 de largura, o mar do
Sal ocupa uma área de 1.020 km-.
Na região ocupada hoje pelo Mar Morto, ficavam, provavelmente, as impenitentes
cidades de Sodoma e Gomorra, destruídas pelo Todo-poderoso. Nessas águas salgadas, não
há qualquer espécie de vida. Esse mar, por conseguinte, é o próprio símbolo da
conseqüência do pecado: a morte. Nenhum peixe consegue aproximar-se desse cemitério
aquático.
O Estado de Israel, entretanto, extrai do mar Morto bilhões de dólares em sal e
minérios. A riqueza desse inusitado lago é mais que formidável: 22 trilhões de toneladas de
cloreto de magnésio; 11 trilhões de toneladas de cloreto de sódio; 7 trilhões de toneladas de
cloreto de cálcio; 2 trilhões de toneladas de cloreto de potássio e 1 trilhão de toneladas de
brometo de magnésio. Essas cifras foram extraídas do livro "Geografia da Terra Santa", do
eminente pastor Enéas Tognini.
Júlio Minhan, citado por Abraão de Almeida, fala sobre as fabulosas riquezas do mar
Morto: "Como estão estas riquezas? Estão em sais que as indústrias de todo o mundo
procuram desesperadamente. Incluindo as inúmeras toneladas de sais e dos metais
preciosos, há muitos outros, e como seria cansativa sua enumeração! Limitar-nos-emos a
dizer que a fortuna que pode ser retirada do mar Morto daria para comprar todos os países
de influência muçulmana da Ásia, Europa e África em contrapeso".
O mar Morto, tendo em vista a sua singular posição geográfica, não tem nenhum
escoadouro para suas águas. Esse problema é solucionado pela descomunal evaporação.
Aproximadamente 8 milhões de toneladas de água são evaporadas por dia nessa região,
onde a temperatura, no verão, chega a 50". Em algumas épocas do ano, esse lago chega a
lembrar um gigantesco tacho em ebulição.
Nas proximidades do mar Morto, ficava a Fortaleza de Maquerus, construída por
Alexandre Janeu, no ano 88 a.C.. e arrasada pelos romanos em 56 a.C. Herodes. o Grande,
reconstruiu-a mais tarde. Nela, foi supliciado o precursor do Messias, o piedoso João
Batista. Herodes mandou construir, ainda, na margem ocidental dessa imensa fossa salgada,
a cidadela de Massada, último reduto da resistência judaica ao domínio romano. Ao Norte,
encontramos as ruínas da comunidade essênia, onde foram encontrados os famosos
manuscritos do mar Morto.
3 - Mar da Galiléia
O mar da Galiléia não é propriamente um mar. Trata-se, na realidade, de um grande
lago de água doce, formado pelo rio Jordão. No Novo Testamento, recebe os seguintes
nomes: mar de Quinerete, mar de Tiberíades e lago de Ge-nezaré.
Por que então os judeus o tratam de mar? Por causa de seu tamanho e violentas
borrascas que o agitam constantemente. O mar da Galiléia tem 24 quilômetros de
comprimento por 14 de largura. Com uma profundidade média de 50 metros, encontra-se a
quase 230 metros abaixo do nível do Mediterrâneo. Tendo em vista sua posição, serve de
ponto de equilíbrio às águas do Jordão.
O mar da Galiléia está distante do Mediterrâneo umas 27 milhas. E, de Jerusalém, 60
milhas em direção ao Nordeste. Em suas margens orientais, encontram-se altas montanhas.
Já em seu lado ocidental, podemos contemplar férteis planícies e importantes cidades como
Genezaré, Betsaida, Tiberíades, Cafarnaum, Corazim e Magdala. Nessa região, Jesus
desenvolveu importantes facetas de seu ministério: ensinou, fez prodígios e maravilhas, repreendeu
a fúria das águas e, com intrepidez, anunciou o Reino dos Céus. O Divino Mestre,
inclusive, andou sobre as águas desse grande lago, causando pânico em seus discípulos.
Ao Norte do mar da Galiléia, o clima é bastante agradável, propício ao
desenvolvimento de grandes projetos agro-pecuários. Eis as impressões de W. J. Goldsmith:
"Na Galiléia, vimos sete feições salientes: sua dependência do Líbano, abundância de água
dele provenientes, fertilidade e fartura, características vulcânicas, grandes estradas
atravessando a região, população densa e operosa, e a proximidade do mundo exterior. Pois
bem: essas sete feições da Galiléia em geral, vemo-las concentradas no lago e suas margens.
O lago da Galiléia era, efetivamente, o centro focai da província. Imaginemos aquela
abundância de água, fertilidade, influência vulcânica, estradas, população numerosa,
comércio, indústria e forte influência grega - imaginemos tudo isto reunido em um profundo
vale, sob um calor quase tropical, e temos o cenário onde surgiu o cristianismo e onde o
próprio Cristo trabalhou."
No período neotestamentário, havia nove cidades em redor do mar da Galiléia, com
uma população global de quase 150 mil habitantes. Acrescenta Goldsmith: "Betsai-da e
Cafarnaum ficavam ao norte, atravessadas pela estrada galiléia de maior movimento, a Vila
Maris, porém não podemos precisar-lhe o local. O sítio mais provável de Cafarnaum, onde
Jesus morava e onde viu Mateus 'sentado na coletoria', é o que hoje se denomina Tel Hura."
Com o seu formato oval, o mar da Galiléia é muito piscoso. Nesse lago, podemos
encontrar 22 espécies de peixes, entre as quais: carpas, sardinhas, peixe-gato, peixe-galo e o
famoso "chromis simonis", ou peixe de São Pedro. No tempo de -Jesus, a pesca era uma
rendosa indústria em Cafarnaum.
George Adam Smith, descreve desta forma o maravilhoso lago de Israel: "Águas
doces, cheias de peixes, uma superfície de cintilante azul. O lago da Galiléia é, ao mesmo
tempo, comida, bebida e ar; um descanso para os olhos, um suavizante do calor e um
refúgio do ruído e da multidão."
4 - Mar Vermelho
Embora não pertença à Terra Santa, encontra-se o mar Vermelho estreitamente
ligado à história do povo israelita. Ele é conhecido nas Sagradas Escrituras como "Yam
Suph", que significa plantas marinhas.
O mar Vermelho separa os territórios egípcio e saudita. Na parte setentrional, dividese
em dois braços pela península do Sinai, ü braço ocidental é conhecido como golfo de
Suez. O oriental, golfo de Akaba.
Acerca do golfo de Suez, informa Buckland: "O golfo de Suez gradualmente se tem
estreitado desde a era cristã (Is 11.15 e 19.5), secando-se a língua do mar Vermelho em uma
distância de 50 milhas. Por isso vai-se tornando maior a dificuldade de determinar onde
atravessaram os israelitas o mar Vermelho; mas provavelmente devia ter sido perto dos
atuais lagos Amargos. A entrada do Golfo de Akaba estavam os dois únicos portos do mar
Vermelho, mencionados na Bíblia: - Elate e Eziam-geber. A parte mais larga do mar
Vermelho, até o sítio onde se tende em dois Golfos, é de 200 milhas, e a parte mais estreita
é de 100 milhas, pouco mais ou menos. A largura do golfo de
Suez é. em média, de 18 milhas, sendo a do golfo de Akaba consideravelmente
menor, ü primeiro comunica com o mar Mediterrâneo, pelo ('anal de Suez. É provável que
os israelitas tivessem atravessado o mar Vermelho, num ponto que fica cerca de 30 milhas
ao norte da atual entrada do golfo do Suez, isto é, na extremidade setentrional do mar
Vermelho, como ele então era. Como todo o exército egípcio pereceu nas águas, devia neste
lugar o mar Vermelho ter tido pelo menos a largura de 12 milhas. O livramento dos
israelitas, na travessia do mar Vermelho, tornou-se, no espírito da nação judaica, o maior
fato da sua história."
II - RIOS DA TERRA SANTA
Quando da descoberta do Brasil, escreveu Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal:
"As águas são muitas." Em Israel, no entanto, conforme já dissemos, os recursos hídricos
são sobremaneira escassos.
Dos rios existentes na Terra Santa, só o Jordão merece, de fato, esse nome. Os
outros, no Brasil, por exemplo, seriam chamados de arroios e riachos. Vejamos, pois, como
são os rios israelitas. Em primeiro lugar, estudaremos os que compõem a bacia do
Mediterrâneo. Depois, os que formam a bacia do Jordão.
O que é um rio?
Fomos obrigados a recorrer, uma vez mais, ao mestre Aurélio. Eis a sua definição:
"Curso de água natural, de extensão mais ou menos considerável, que se desloca de um
nível mais alto para outro mais baixo, aumentando progressivamente o seu volume até
desaguar no mar, num lago, ou noutro rio, e cujas características dependem do relevo, do
regime de águas, etc."
O hebraico possui um número considerável de vocábulos que são constantemente
usados. "Nahal" significa, segundo o Novo Dicionário da Bíblia, um wadi ou vale dotado de
uma corrente de água; no verão, transforma-se num leito seco ou ravina, ainda que no
inverno seja uma correnteza copiosa. Acrescenta o mesmo dicionário: "O segundo termo,
'nãhãr', é a palavra regular com o sentido de 'rio' na língua hebraica."
Mapa dos afluentes do Jordão, Mediterrâneo e Mar Morto
1 - Bacia do Mediterrâneo
A bacia do Mediterrâneo é composta pelos seguintes rios: Belus, Quisom, Cana,
Gaás, Serec e Besor.
1.1 - Rio Belus
Correndo ao sudoeste do território asserita, o rio Belus caminha em direção ao mar
Mediterrâneo. Nas Sagradas Escrituras, ele aparece com o nome de Sior-Libnate, conforme
lemos em Josué 19.26: "E Alameleque, e Amade, e Misal: e chega ao Carmelo para o
ocidente, e a Sior-Libnate."
As águas do Belus são despejadas na baía do Acre, nas proximidades da cidade de
Acco. Durante dois terços do ano, esse rio permanece seco, constituindo-se em um dos
numerosos wadis palestínicos. Hoje, esse rio é chamado de Namã pelos árabes e judeus.
1.2 - Rio Quisom
O Quisom é o maior rio da bacia do Mediterrâneo e o segundo em importância de
Israel. Chamam-no os árabes de Nahr Makutts. Nascendo em Esdraelom, recebe inúmeras
vertentes durante o seu curso. Nas imediações do Tabor e do Pequeno Hermom, ele já é bem
caudaloso.
Nas proximidades do Quisom, ficava Tminate, onde morava Dalila, a meretriz
filistéia que causou a desgraça de Sansâo. Esse rio deságua no Mediterrâneo, entre Jope e
Ascalom. Ao contrário do Belus, o Quisom é perene, ou seja, suas águas não secam nem no
verão.
1.3 - Rio Cana
O rio Cana é citado apenas no Antigo Testamento. Constituía-se em fronteira natural
entre as Tribos de Efraim e Manasses. Nasce nas imediações de Siquem e atravessa a
planície de Sarom. Como os anteriores, despeja suas águas no mar Mediterrâneo.
Seu nome decorre do fato de ele correr nas proximidades da cidade de Cana de
Efraim (não confundir com a localidade onde Cristo realizou o seu primeiro milagre). Na
antigüidade, havia abundância de juncos em suas margens. Esse rio é, também, um wadi: só
possui água nos meses chuvosos.
1.4 - Rio Gaás
O destemido líder e bravo general hebreu, Josué, foi sepultado no monte Gaás. Perto
dessa elevação, corre um rio, também chamado Gaás. Um rio? Não, um ribeiro! À
semelhança dos outros wadis, só possui água em determinados períodos do ano.
As águas do Rio Gaás banham a planície de Sarom e desembocam no mar
Mediterrâneo, nas proximidades de Jope. "Gaás", em hebraico, significa terremoto.
1.5 - Rio Sorec
O Sorec despeja suas águas no Grande Mar, entre Jope e Ascalom, ao Norte do
antigo território filisteu. Suas nascentes ficam nas montanhas de Judá, a sudoeste de Jerusalém.
No vale, por onde corre esse rio, morava a noiva de Sansão. Em suas redondezas,
ficava o Vale de Sora, terra natal do profeta Samuel.
Em hebraico, "Sorec" quer dizer vinha escolhida, em virtude dos vinhedos existentes
nas margens desse rio.
1.6 - Rio Besor
O Besor não é propriamente um rio, mas um ribeiro que fica nas imediações de
Ziclaque, no Sul de Judá. É o mais caudaloso dos wadis que deságuam no mar Mediterrâneo.
O atual nome desse rio é Sheriah. Nas redondezas de Besor, o bravo Davi libertou os
habitantes de Ziclaque das garras dos amalequitas. Foi um dos maiores feitos do filho de
Jessé e antecessor real de Jesus.
Besor é sinônimo de refrigério.
2 - Bacia do Jordão
A bacia do Jordão é formada pelos seguintes rios: Jordão, Querite, Cedrom,
Iarmuque, Jaboque e Arnom. Alguns desses afluentes são bastante pequenos, quase inexpressivos.
Vale a pena, porém, conhecê-los, pois estão intimamente ligados à história da
salvação. 2.1 - Rio Jordão
O rio Jordão tem três fontes: Banias, Dan e Hasbani. Elas não nascem em território
israelense; começam a correr no monte Hermom, localizado na Síria. Em hebraico, "Jordão"
significa decl ive ou o que desce, por causa de seu vertiginoso curso: do cume do Monte
Hermom à mais profunda depressão do planeta - o mar Morto.
Mapa das cabeceiras do rio Jordão
Não obstante a sua importância histórica, o Jordão é um rio pequeno. Tem 252
quilômetros de extensão, levando-se em conta os seus infindos meandros.
Oswaldo Ronis fala acerca do estranho curso desse rio essencialmente palestínico:
"Costuma-se dividir o curso do Jordão em três trechos para um estudo mais detalhado: - 0
PRIMEIRO TRECHO, ou seja, a região das nascentes, é a que acabamos de descrever nos
seus aspectos mais setentrionais e que vai até o lago de Merom. Depois da junção das quatro
nascentes, o Jordão atravessa uma planície pantanosa em uma extensão de 11 quilômetros e
entra no lago de Merom. Neste trecho, a sua largura varia muito e a profundidade vai a 3 e 4
metros -
O SEGUNDO TRECHO também chamado o Jordão superior, compreende o rio entre
o lago de Meron e o mar da Galiléia, extensão esta de cerca de 20 quilômetros. É um
trecho quase reto, com um declive de 225 metros, o que forma as suas águas impetuosas e
provoca um enorme trabalho de erosão. A força da impetuosidade das águas do Jordão neste
trecho é tanta que quase 20 quilômetros mar da Galiléia adentro ainda se percebe a sua
correnteza. Neste trecho, o terreno é rochoso, de vegetação média, e a largura do rio varia
entre 8 e 15 metros. - O TERCEIRO TRECHO, ou o Jordão interior estende-se do mar da
Galiléia ao mar Morto numa distância de 117 quilômetros em linha reta e cerca de 340
quilômetros pelo leito sinuoso do rio, tendo uma largura que varia entre 25 e 35 metros, e l a
4 metros de profundidade. Este trecho sofre um declive de 200 metros pelo qual o rio desce
precipitadamente, formando numerosos meandros e cascatas e alargando o vale até 15
quilômetros, como ocorre na altura de Jerico. Este vale é limitado quase em toda a sua
extensão por verdadeiras muralhas de rocha calcária, o que torna muito difícil a sua
travessia. Até o tempo dos romanos, não havia pontes sobre o Jordão. De modo que a sua
travessia era feita em certos lugares de margens mais rasas e águas menos profundas,
chamados vaus. Um desses vaus ficava defronte de Jerico, outro perto da desembocadura do
rio Jaboque, e o terceiro nas proximidades de Sucot."
Havia, nos tempos bíblicos, grande floresta às margens do rio Jordão. Segundo
depreendemos de alguns textos bíblicos, nesses frondosos bosques havia até leões. Hoje,
porém, a região encontra-se desnuda e, praticamente, morta. Com muita dificuldade,
consegue-se encontrar tamareiras, palmeiras e tamargueiras nessa aridificada área.
Eis como o rio Jordão é mencionado pela primeira vez nas Sagradas Escrituras: "E
levantou Ló os seus olhos, e viu toda a campina do Jordão, que era toda bem regada, antes
de o Senhor ter destruído Sodoma e Gomorra, e era como o jardim do Senhor, como a terra
do Egito quando se entra em Zoar. Então Lô escolheu para si toda a campina do Jordão, e
partiu Ló para o Oriente, e apartaram-se um do outro" (Gn 13.10 e 11).
Abraão, Isaque e Jacó tornaram-se íntimos do Jordão. As águas desse rio abriram-se
para o povo de Deus conquistar Canaã. Mostrando-se perene e, resistindo a todas as
intempéries, o Jordão sempre esteve ligado à história de Israel. Foi em seu leito que Naamã
viu-se livre da lepra. Às margens do milenar Jordão, João Batista batizou o Filho de Deus.
O Jordão não é um rio atraente. Do ponto de vista humano, Naamã tinha toda a razão
em não querer banhar-se em suas escuras e barrentas águas. Afinal de contas, na terra natal
desse corajoso general, havia cristalinos riachos. Não bastasse sua falta de beleza natural,
nas imediações do Jordão, o clima é quente e sufocante.
El-Seri-Ah al-Kabirah é o nome árabe do rio Jordão. Eis o seu significado: o grande
bebedouro. Por que essa designação? Em virtude, talvez, do grande volume de águas que
lança no mar Morto: 17.280.000 m por dia. O Jordão não é navegável, mas, serviu de área
defensável a Israel durante vários séculos.
2.2 - Rio Querite
Perseguido pela diabólica Jezabel, o profeta Elias recebeu do Senhor a seguinte
ordem: "Vai-te daqui, e vira-te para o Oriente, e esconde-te junto ao ribeiro de Querite, que
está diante do Jordão. E há de ser que beberás do ribeiro: e eu tenho ordenado aos corvos
que ali te sustentem. Foi pois, e fez conforme a palavra do Senhor: porque foi, e habitou
junto ao ribeiro de Querite, que está diante do Jordão" (1 Rs 17.3-5).
O Querite, também não é propriamente um rio. Trata-se de mais um dos numerosos
wadis existentes na Terra Santa. Para alguns autores, aliás, não passa de um filete de água
que, a maior parte do ano constitui-se em um vale seco.
Tendo sua nascente nos montes de Efraim, o Querite deságua no rio Jordão. Esse
ribeiro fica na Transjordânia.
2.3 - Rio Cedrom
O monte das Oliveiras é separado do Moriá por um rio. Eis o seu nome: Cedrom.
Essa designação significa em hebraico escuro. Nascendo a dois quilômetros e meio de
Jerusalém, corre para o sudoeste. Em seu curso, acompanha os muros da cidade Santa.
Antes de vomitar suas á-guas, no mar Morto, vagueia durante 40 quilômetros.
Pelo ribeiro do Cedrom passou o rei Davi, quando fugia de seu demagogo e
ambicioso filho: "E toda a terra chorava a grandes vozes, passando todo o povo: também o
rei passou o ribeiro de Cedrom, e passou todo o povo na direção do caminho do deserto" (2
Sm 15.23). Absalão desejava a morte de seu pai para reinar sobre Israel.
Séculos mais tarde, Jesus, o maior descendente do rei Davi, passou por essa região:
"Tendo Jesus dito isto, saiu com os seus discípulos para além do ribeiro de Cedrom, onde
havia um horto, no qual ele entrou e seus discípulos" (Jo 18.1).
2.4 - Rio Iarmuque
Constituindo-se no maior afluente oriental do Jordão, o rio Iarmuque é formado por
três braços. Quando da conquista de Canaã, serviu de fronteira entre a tribo de Manasses e a
região de Basã. Após escorregar-se pelos montes, o Iarmuque penetra no rio Jordão, a 200
metros abaixo do nível do mar.
Esse rio não é mencionado nas Sagradas Escrituras. Os gregos o conhecem como
Ieromax. Atualmente, é chamado de Sheriat-el-Man-jur.
2.5 - Rio Jaboque
O Jaboque nasce ao sul da montanha de Gileade. Tributário oriental do Jordão, esse
rio corre em três destintas direções: leste, norte e Noroeste. Antes de desembocar no Jordão,
descreve, entre o mar da Galiléia e o mar Morto, uma semi-elipse. Seu curso tem
aproximadamente 130 quilômetros.
O rio Jaboque é perene e, no passado, servia de fronteira entre as tribos de Rubem e
Gade. Em suas imediações, o patriarca Jacó lutou contra o Anjo do Senhor. Foi um combate
acirrado. Mas, no final, o piedoso hebreu recebeu inefável bênção do Senhor. No Vale do
Jaboque, portanto, a semente de Abraão recebeu sua designação nacional: Israel.
Jaboque significa o que derrama. Os árabes, entretanto, chamam-no de Nahar ez-
Zerka - rio azul.
2.6 - Rio Arnom
Em 1868, o missionário alemão, F.A. Klein, encontrou em Dibom, nas imediações do
rio Arnom, a famosa Pedra Moabita, que contém uma inscrição em hebraico e fenício.
Essa escritura bilíngüe confirma a historicidade do trecho bíblico de segundo Reis
3.4-27. A descoberta arqueológica de Klein mostra quão importante é o rio Arnom (que
significa rápido e tumultuoso) para a história da Terra Santa.
O rio Arnom nasce nos montes de Moabe e desemboca no mar Morto. Durante
séculos, esse afluente serviu de fronteira natural entre os moabitas e amorreus. Mais tarde,
com a conquista de Canaã, separou os israelitas dos moabitas.
Isaías e Jeremias falaram acerca do Arnom. Profetizou o primeiro: "Doutro modo
sucederá que serão as filhas de Moabe junto aos vaus de Arnom como o pássaro va-gueante,
lançado fora do ninho" (Is 16.2).
Atualmente, o Arnom é conhecido como Wadi el-Modjibe. Nas épocas de chuva,
esse rio é volumoso. Entretanto, depois da primavera, começa a secar.
III - LAGO DE MEROM
Encontramos apenas um lago na Terra Santa. Trata-se do Lago de Merom. O mar da
Galiléia é também considerado um lago. No entanto, por causa de suas avantajadas
dimensões, não é assim, classificado.
Antes de mais nada, porém, vejamos como os lagos são definidos.
A palavra portuguesa lago vem do latim 'lacus' e significa reservatório de água. Esse
termo latino, contudo, é oriundo deste vocábulo grego: "Lakkos" - fosso, poço.
Geograficamente, os lagos são constituídos de grandes massas de água concentradas em
depressões topográficas, cercadas de terra por todos os lados. Eles encontram-se, com mais
freqüência, em zonas de latitudes elevadas, mas, são universalmente distribuídos. No que
tange às dimensões, não há uniformidade. Via de regra, os lagos são alimentados por riachos
ou rios. O escoamento de suas águas é feito por meio de um ou mais emissários.
O lago de Merom é conhecido, também como águas de Merom, conforme registra o
livro de Josué: "Todos estes reis se ajun taram, e vieram e se acamparam junto às águas de
Merom, para pelejarem contra Israel. E disse o Senhor a Josué: Não temas diante deles;
porque amanhã a esta mesma hora eu os darei todos feridos diante dos filhos de Israel; os
seus cavalos jarretarás, e os seus carros queima-rás a fogo. E Josué, e toda a gente de guerra
com ele, veio apressadamente sobre eles às águas de Merom: e deram neles de repente" (Js
11.5-7).
Formado pelas águas do Jordão, o lago de Merom tem 10 quilômetros de
comprimento por seis de largura. Acha-se a dois metros acima do Mediterrâneo. Sua
profundidade varia entre três e quatro metros. Hoje, esse lago perdeu sua antiga forma,
porque foi adaptado pela engenharia às exigências do país. Merom fica a 20 quilômetros do
mar da Galiléia.
A vida submarina no golfo de Eilat é uma das mais ricas do Planeta
Clima da Terra Santa
Sumário: Introdução. I - Clima da Terra Santa. II - O clima nas montanhas. III -
O clima no litoral. IV -O clima no deserto. V - Ventos. VI - Estações. VII -Chuvas.
INTRODUÇÃO
Não obstante suas exíguas dimensões territoriais, a Terra Santa apresenta uma
impressionante variedade climática. Com muita razão ela é considerada a síntese meteorológica
do mundo. Antes, porém, de estudarmos esse importantíssimo aspecto de Israel,
daremos algumas noções elementares acerca do que convencionamos chamar de clima.
"Clima" é uma palavra de origem grega, que significa inclinar, reclinar.
Maximilien Sorre explica: "O clima é modernamente definido como a síntese do
tempo ou o ambiente atmosférico constituído pela série de estados da atmosfera acima de
um lugar, em sua sucessão habitual." Embasa-se o estudo do clima na observação dos vários
tipos de tempo, apresentados de forma encadeada e rimada em determinado lugar. Deve-se
levar em conta, também, a dependência dos movimentos executados pelas massas de ar e
suas frentes.
A Enciclopédia Mirador Internacional fala acerca da importância das variações
climáticas: "O clima está de tal forma ligado ao mundo biológico do planeta, que a atual
repartição geográfica das espécies animais e vegetais não pode ser bem compreendida sem o
seu estudo; intervém ainda na formação dos solos, na decomposição das rochas, na
elaboração das formas do relevo, no regime dos rios e das águas subterrâneas, no
aproveitamento dos recursos econômicos, na natureza e ritmo das atividades agrícolas, nos
tipos de cultivo praticados, nos sistemas de transportes e na própria distribuição dos homens
sobre o globo.
I - O CLIMA NA TERRA SANTA
Israel, geograficamente, localiza-se na faixa subtropical. Explica-se, portanto, a
variedade de seu clima. Genericamente, contudo, apenas duas estações sobressaem na Terra
Santa: a chuvosa e a seca. Ambas são acompanhadas, respectivamente, com muito frio e
calor.
II - O CLIMA NAS MONTANHAS
Um país montanhoso, assim é Israel. Hebrom é o ponto mais elevado do território
israelita, com mais de mil metros. Jerusalém, por seu turno, encontra-se a 800 metros de
altura.
Nas montanhas, o clima é fresco e bastante ventilado. No verão, esse quadro altera-se
um pouco, em conseqüência das correntes de ar quente provenientes do Sul e do Ocidente.
Na cidade santa, durante o inverno, a temperatura chega a 6 graus positivos, com neves e
freqüentes geadas. No verão, os termômetros oscilam entre 14 e 29 graus.
III O CLIMA NO LITORAL
Encontrando-se ao ocidente do mar Mediterrâneo, Israel é bafejado por
reconfortadoras e constantes brisas, rincipalmente, à noite. Durante o inverno, a temperatura
baixa para menos de 14º em Gaza e Jafa. No pico do verão, os termômetros chegam a
registrar 34?! Em algumas localidades situadas mais ao norte, o inverno torna-se insuportável.
IV - O CLIMA NO DESERTO
De uma maneira geral, nos desertos de Israel, as temperaturas oscilam, no verão,
entre 43º, 47º e 50º. Inclui-se, nessa classificação, o Vale do Jordão.
V - VENTOS
As correntes de ventos que varrem o Oriente Médio encarregam-se da formação do
clima da Terra Santa: as úmidas, do mar Mediterrâneo, as frias, dos montes do Norte; e as
quentes, das regiões desérticas.
Eis como os hebreus classificavam os ventos: Safon, portador de geadas; Quadim,
faz crescer a vegetação; O do Oeste encarrega-se das chuvas; e, Darom é mensageiro do
calor. Há, também, uma corrente de ar proveniente da Arábia, cognominada Sirô. Esses
ventos são tão quentes que chegam a queimar a lavoura.
VI - ESTAÇÕES
Depreendemos de algumas passagens bíblicas que, no Oriente Médio, havia somente
duas estações: inverno e verão. Diz o profeta Isaías: "Eles serão deixados juntos às aves dos
montes e aos animais da terra e sobre eles veranearão as aves de rapina, e todos os animais
da terra invernarão sobre eles" (Is 18.6).
Começava o inverno em outubro e estendia-se até o mês de março. Nessa época, os
montes cobriam-se de neve. O verão tinha o seu início em abril e ia até setembro. Os
agricultores aproveitavam bem essa estação para colher e preparar a terra.
VII - CHUVAS
Ao contrário do Egito, as chuvas em Israel são abundantes. As primeiras chuvas
começam em outubro e, constituem-se em fortes aguaceiros, notadamente, no litoral. Nas
montanhas, as precipitações são fracas e finas. No deserto não chove. Alguns estudiosos,
porém, acreditam que, no tempo de Herodes, o Grande, as chuvas não eram escassas nas
regiões desérticas. Isto porque, ele construiu uma fortaleza em Massada com grandes
cisternas, para captar água proveniente das chuvas. Eis a média das precipitações pluviais:
1090 mm por ano.
O orvalho continua a cair na Terra Santa. Até mesmo as áreas desérticas recebem
essa dádiva dos céus. O orvalho de Hermom, por exemplo, é proverbial.
Quarta Parte
Geografia Econômica da Terra Santa
Sumário: Introdução. I - Uma terra que mana leite e mel. II - A flora da Terra
Santa. III - Fauna da Terra Santa. IV - Os minerais da Terra Santa.
INTRODUÇÃO
As riquezas da Terra Santa são legendárias. Em seus exíguos territórios, concentramse,
sinteticamente, a opulência de todos os países do mundo. E, quando estudamos a
geografia econômica de Israel, conscientizamo-nos da veracidade desta expressão bíblica:
Terra que mana leite e mel.
Antes de tentarmos relacionar os formidáveis recursos das possessões abraâmicas.
veremos rapidamente o sentido do termo economia.
Origina-se a palavra "economia" de duas outras gregas: "oikos" - co.sfl.e. "nomos" -
governo. Significa, portanto, segundo Silvio Barretti. governo ou administração do lar, no
sentido de zelar pelos seus pertences, pelo patrimônio familiar. O escritor grego Xenofonte
foi o primeiro a usar esse vocábulo. Séculos mais tarde, o francês Antoine Montechretien
criaria a locução economia política.
As riquezas de um país estão diretamente ligadas à produção de bens úteis, com o
aproveitamento da matéria-prima extraída da natureza. Explica-nos o professor Bar-retti:
"Produção é, pois, a transformação, pelo homem, através de trabalho consciente, das coisas
existentes na natureza, em bens econômicos, capazes de satisfazer às necessidades presentes
e futuras das pessoas. Assim age o homem porque os bens naturais, isto é, aqueles
oferecidos pela natureza, são insuficientes qualitativa e quantitativamente, além de
distribuídos irregularmente na superfície da terra, para a satisfação de todas as necessidades
humanas. Sendo os bens naturais insuficientes, compete ao homem adaptá-los ao consumo,
aumentando-lhes as utilidades, ou seja, produzindo os bens artificiais (ou industrializados)."
Na geografia da Terra Santa, veremos os diversos recursos naturais que podem gerar
divisas à nação israelense.
I - UMA TERRA QUE MANA LEITE E MEL
Assim fala o Senhor acerca das riquezas da Terra Santa: "Ele o fez cavalgar sobre as
alturas da terra, e comeu as novidades do campo, e o fez chupar mel da rocha e azeite da
dura pederneira. Manteiga de vacas, e leite do rebanho, com a gordura dos cordeiros e dos
carneiros que pastam em Basã, e dos bodes, com gordura dos rins do trigo; e bebeste o
sangue das uvas, o vinho puro" (Dt 32.13,14).
Eis o relatório do primeiro serviço secreto de Israel: "Fomos à terra a que nos
enviaste; e verdadeiramente mana leite e mel" (Nm 13.27). Corroborando suas palavras, os
doze espias mostraram a Moisés e ao povo enorme cacho de uvas colhido no vale do Escol e
outras frutas. Os israelitas admiraram-se do tamanho e aparência dos produtos de Canaã.
Naquele tempo, Israel era uma terra sem igual. As chuvas eram regulares e as
colheitas abundantes. Tanto a sua flora como a sua fauna causavam espécie. Suas reservas
minerais, espantosas.
II - A FLORA DA TERRA SANTA
A flora, mencionada nas Sagradas Escrituras, é de uma riqueza inigualável. No
Antigo Testamento, encontramos mais de cem espécies vegetais. Atualmente, o governo de
Israel está envidando esforços para recuperar o exuberante reino vegetal de seu território.
Estes eram os produtos encontrados com mais facilidade no período
veterotestamentário: trigo, oliva e uva. Esses alimentos formavam a dieta dos israelitas e
constituíam-se no trinômio repetido constantemente na Bíblia: pão, azeite e vinho. Eis mais
alguns alimentos usados pelos filhos de Israel: cevada, lentilha, feijão, mostarda, pepino,
cebola, alho, romã, melão e tâmara.
Estas eram as plantas silvestres mais encontradas nos tempos bíblicos: cedro, faia,
pinheiro, acácia, palmeira, carvalho, murta. Das flores, aqui estão as mais famosas: lírio do
campo e rosa de Sarom.
W. J. Goldsmith fala acerca da flora de Israel: "Se a Palestina não é terra de florestas,
é terra de pomares. O abricó, o figo, a cidra, a romã, a amora e a tâmara (esta no Baixo-
Jordão) são encontrados, mas a oliveira e a parreira foram sempre as duas principais árvores
frutíferas da Palestina. Hoje, estendem-se os laranjais sobre largas áreas das colônias
judaicas. O cultivo dos cereais era limitado aos planaltos menos elevados, aos vales mais
abertos e às planíceis. Os melhores trigais são os da Filistia, do Esdrelon, do Mukneh (a
leste de Nabus) e do haurã. A cevada, alimento dos animais e dos camponeses mais pobres,
tornava-se o alimento dos israelitas em geral quando, perseguidos pelos árabes, eram
obrigados a abandonar as planícies. Assim, foi como um pão de cevada que o midianita viu
em sonho o israelita, rodando colina abaixo e derribando sua tenda (Jz 7.13)." Através de
intensos programas de irrigação, o governo israelense está conseguindo reflorestar a Terra
Santa. Do documentário Este é Israel, extraímos este trecho para mostrar o que os judeus,
com a ajuda do Todo-poderoso, estão fazendo para tornar o seu árido solo em um jardim:
"Nos tempos bíblicos, as terras de Israel eram cobertas de florestas. Nos séculos
subseqüentes, especialmente durante a Idade Média, muitas florestas foram destruídas pelos
nômades e suas cabras e outras pelos turcos que as usavam como combustível para seus
trens militares. Grande parte do reflorestamento tem sido realizado pela comunidade judaica,
sendo que a maioria das florestas que cobrem hoje o solo de Israel foram plantadas
durante os últimos 50 anos. Das poucas florestas antigas sobrevivem principalmente os
bosques da Galiléia. Em 1948, havia 4.388.000 árvores em Israel. Quase 30 anos depois,
havia 103.000.000 árvores, quase todas plantadas pelo Fundo Nacional Judaico."
III - FAUNA DA TERRA SANTA
As Sagradas Escrituras mencionam quase 130 nomes de animais selvagens e
domésticos. La Enciclopédia de Ia Bíblia, citada pelo pastor Enéas Tognini, cataloga 50
espécies de mamíferos, 42 de invertebrados, 46 de aves e 19 répteis, peixes e anfíbios.
Relacionaremos, a seguir, os animais encontrados com mais freqüência nos tempos
bíblicos: 1) Selvagens: leão, urso, leopardo, hiena, víbora, corça, lebre, chacal, lobo, raposa,
camaleão; 2) Domésticos: ovelha, vaca, cabra, mula, camelo, cavalo, jumento e cão; 3)
Aves: perdiz, cordoniz, pombo, galinha, avestruz, cegonha, rola, corvo, pelicano, etc; 4)
Insetos: abelhas e gafanhotos de diversas espécies, formigas, mosquitos e moscas; 5)
Peixes: 43 espécies, sendo o mais famoso o peixe de São Pedro.
Entre os insetos mencionados, os gafanhotos são consumidos até o dia de hoje. Essa
estranha iguaria é bastante apreciada pelos beduínos e pobres.
O que aconteceu com a fauna israelita?
Em conseqüência dos muitos incêndios provocados por exércitos conquistadores, a
fauna palestínica sofreu enormes prejuízos. E, um dos objetivos do governo israelense é,
justamente, reconstituir o luxuriante reino animal da Terra Santa. Para isso, está gastando
milhões de dólares com o reflorestamento de seu território.
IV OS MINERAIS DA TERRA SANTA
Os israelitas, de acordo com a Palavra do Senhor, herdariam uma terra, cujas pedras
são ferro e, em cujos montes, achariam o cobre (Dt 18.7-9). A Terra Santa, de fato, possui
gigantescas reservas de minérios:
Eis os minérios encontrados, com mais freqüência em Israel: ouro, prata, ferro,
enxofre, cobre, estanho e chumbo.
O mar Morto, conforme já dissemos, é uma fonte inesgotável de riquezas. Suas
reservas em sais e minerais são orçadas em bilhões e bilhões de dólares.
Segundo alguns textos bíblicos, em Israel há abundância de pedras preciosas. Há,
pelo menos, duas relações delas nas Sagradas Escrituras. O diamante, por exemplo, gera
muitas divisas à nação israelense. Grande parte da produção diamantífera do mundo passa
por Israel.
Quinta Parte
Geografia Humana da Terra Santa
Sumário: Introdução. I - A família hebraica: 1 -Casamento. 2 - Contrato de
casamento. 3 - Noivado. 4 -Núpcias. 5 - Divórcio. 6 - Filhos. II - A vida social hebraica: 1
- O lugar da mulher na sociedade. 2 - Saudações. 3 - Sepultamento e luto. III - Moradia:
1 - Tendas. 2 - Cabanas. 3 - Tabernáculo. 4 - Casas. 5 - Torres de Vigia. 6 - Palácios. IV -
Mobília. V - Alimentação. VI - Indumentária: 1 - Vestuário masculino. 2 - Vestuário
feminino. VII - Dinheiro da Terra Santa.
INTRODUÇÃO
A geografia humana da Terra Santa é interessantíssima. Revela-nos a maneira
particular como viviam os hebreus, cuja existência girava em torno da Lei de Moisés. Em
seus usos e costumes, demonstravam quão apegados estavam às suas tradições e raízes
históricas. Somente o povo judeu sabe preservar, com tamanha gana, sua identidade
nacional.
Não obstante suas agruras e exílios, os filhos de Abraão têm conservado sua herança
cultural e espiritual. Com muita razão escreveu Lacordaire: "O povo judeu tem sido o
historiador, o sábio, o poeta da humanidade". Não fosse esse apego às suas origens, a nação
hebraica de há muito teria desaparecido.
I - A FAMÍLIA HEBRAICA
Para os hebreus, a família é de origem divina. E, de fato, o é. Disse o Senhor ao criar
os primeiros representantes da raça humana: "Façamos o homem à nossa imagem, conforme
a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o
gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra. E criou Deus o
homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou. E Deus os
abençoou e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e
dominai sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se
move sobre a terra" (Gn 2.26-28).
A importância da família para o judeu é indiscutível. É considerada mais importante
que o próprio indivíduo. Honoré de Balzac, a propósito, escreveu: "Por isso considero a
Família e não o indivíduo o verdadeiro elemento social. Sob esse ponto de vista, arriscando
ser olhado como um espírito retrógrado, tomo lugar ao lado de Bossuet e de Bonald, em vez
de andar com os inovadores modernos."
Henri Daniel-Rops ressalta o valor da unidade familiar em Israel: "Quando o jovem -
Jacó foi procurar seu tio Labão em Harã, a fim de encontrar trabalho e uma esposa; Labão,
ao reconhecê-lo como membro de sua família, exclamou: 'É meu osso e minha carne'. Este
símbolo, tão típico do estilo bíblico, era muito usado pelo povo do Livro, e correspondia à
realidade. A família era em Israel a base vital da sociedade, a pedra fundamental de todo o
edifício. Nos primeiros tempos ela formava até mesmo uma entidade separada sob o ponto
de vista da Lei, uma parte da tribo; na época de Cristo era talvez mais frágil do que nos dias
dos patriarcas, quando o indivíduo não tinha
valor algum em comparação, mas era ainda muitíssimo importante. Os membros da
família sentiam-se realmente como sendo da mesma carne e sangue; e ter o mesmo sangue
significava ter a mesma alma. A legislação tomara este princípio como base,
desenvolvendo-se a partir dele. A Lei multiplicara, também, suas ordens, a fim de manter a
permanência, a pureza e a autoridade da família. Enquanto os judeus desejassem
permanecer fiéis à Lei (e isto era quase universal) eles jamais deixariam de admitir o lugar
predominante da família na sociedade."
Prossegue Henri Daniel-Rops: "A família não era apenas uma entidade social, mas
também uma comunidade religiosa, com suas festas particulares, em que o pai era o
celebrante enquanto os demais membros participavam. Algumas das importantes cerimônias
exigidas na Lei tinham um forte caráter familiar - a Páscoa, por exemplo, tinha de ser
celebrada em família. O elo religioso familiar era tão vigoroso que nos evangelhos e no
livro de Atos vemos que os pais que aceitavam os ensinamentos de Cristo levavam com eles
a família inteira."
1 - Casamento
Os israelitas, no Antigo Testamento, nem sempre alcançavam o ideal traçado pelo
Senhor. A monogamia, por exemplo, não era encarada com seriedade. Haja vista que
homens piedosos como Abraão, Jacó e Davi, eram polígamos. O que dizer de Salomão? O
mais sábio dos homens tinha 700 mulheres e 300 concubinas!
A poligamia, entretanto, não era sinônimo de devassidão. Um hebreu não podia, por
exemplo, tomar como esposa duas mulheres que fossem irmãs ou mãe e filha. Se tal
ocorresse, os infratores seriam apedrejados. A lei proibia, também, que um homem dormisse
com duas de suas esposas ao mesmo tempo.
Com o exílio babilônico, no entanto, os israelitas foram curados da poligamia, que
tantos males e transtornos causara em Israel. No Novo Testamento, não encontramos
nenhum caso de poligamia. O Senhor Jesus exaltou, novamente, o ideal monogâmico e
condenou, com energia, qualquer casamento fora desse padrão.
Em conseqüência da esterilidade de algumas esposas legítimas, a concubinagem era
tolerada no período vetero-testamentário. Os ricos, porém, colecionavam concubinas.
Salomão, como já dissemos, tinha 300.
Moisés condenou o casamento misto: "Quando o Senhor teu Deus te tiver
introduzido na terra, a qual vais a possuir, e tiver lançado fora muitas gentes de diante de ti,
os heteus, e os girgaseus, e os amorreus, e os cananeus, e os ferezeus, e os heveus, e os
jebuseus, sete gentes mais numerosas e mais poderosas do que tu; e o Senhor teu Deus as
tiver dado diante de ti, para as ferir, totalmente as destruirás; não farás com elas concerto,
nem terás piedade delas; nem te aparentarás com elas: não darás tuas filhas a seus filhos, e
não tomaras suas filhas para teus filhos. Pois fariam desviar teus filhos de mim, para que
servissem a outros deuses; e a ira do Senhor se acenderia contra vós, e depressa vos
consumiria" (Dt 7.1-4).
Havia ainda entre os hebreus o casamento por levira-to. Quando um homem casado
morria sem deixar descendência, o seu irmão era obrigado a casar-se com a viúva. E por
intermédio dos filhos da nova união, a memória do morto era preservada. Assim prescreve a
Lei: "Quando alguns irmãos morarem juntos, e algum deles morrer, e não tiver filho, então a
mulher do defunto não se casará com homem estranho de fora; seu cunhado entrará a ela, e
a tomará por mulher, e fará obrigação de cunhado para com ela. E será que o primogênito
que ela der à luz estará em nome de seu irmão defunto; para que o seu nome se não apague
em Israel" (Dt 25.5,6).
2 - Contrato de casamento
O contrato de casamento em Israel era feito pelo pai do noivo, pelo irmão mais velho
ou por um parente mais próximo. Excepcionalmente, podiam atuar também a mãe ou um
amigo da família. Às vezes, o próprio rapaz encarregava-se da concretização do casamento.
No entanto, as negociações sobre o dote e outras formalidades ficavam a cargo de terceiros.
Antes da realização do matrimônio, eram feitas exaustivas consultas sobre os bens de
ambos. Eram tomados cuidados especiais também quanto à segurança da noiva e ao
enfraquecimento da tribo. Finalmente, o noivo pagava um dote ao pai de sua futura esposa,
que oscilava entre 30 e 50 siclos de prata. Dessa forma, o pai da moça era recompensado
pela perda da filha. Esse pagamento podia ser, também, em forma de trabalho, como
ocorreu com Jacó.
A endogamia, ou seja, o casamento entre irmãos, era proibida pela lei de Moisés.
3 - Noivado
Entre os povos ocidentais, o noivado não tem qualquer consistência. Pode ser
dissolvido com a maior facilidade. Jocosamente declara Leon Eliachar: "O Noivado é o
período de desajustamento antes do casamento." No entanto, entre os hebreus, o noivado era
um compromisso sério. Somente a morte poderia dissolvê-lo.
- Quando começava o noivado? - A partir do momento em que o moço entregava à
sua escolhida uma moeda com esta inscrição: "Seja consagrada a mim." A cerimônia,
bastante singela, era feita na presença de duas ou mais testemunhas. Com essa solenidade,
ambos eram considerados marido e mulher. Seu relacionamento sexual, porém, somente
seria iniciado apôs as núpcias que, segundo a tradição judaica, variava de um mês a sete
anos.
Os rapazes, durante o noivado, estavam desobrigados do serviço militar.
4 - Núpcias
As festas nupciais eram celebradas, via de regra, em sete dias. Não raro, chegavam a
durar até duas semanas. Variavam de acordo com o poder aquisitivo dos noivos.
Segundo o Novo Dicionário da Bíblia, essas celebrações eram assinaladas por música
e por brincadeiras como o enigma apresentado por Sansão. A mesma obra esclarece-nos:
"Alguns interpretam o livro de Cantares à luz de certo costume que havia entre os aldeões
sírios, de chamar o noivo e o noiva de rei e rainha durante as festividades depois da
cerimônia de casamento, e de louvá-los com cânticos".
5 - Divórcio
O divórcio foi introduzido na Lei mosaica por causa da dura cerviz dos israelitas.
Aproveitando-se da liberalidade dessa legislação, os hebreus rompiam os laços do matrimônio
por quaisquer motivos. Alguns, por exemplo, repudiavam sua esposa por não achá-la
graciosa. O Senhor, entretanto, não aprovava tal comportamento. Tolerava-o, apenas.
Com uma carta de divórcio, concretizava-se o rompimento dos laços conjugais (I)t
24.3). De posse desse documento, a mulher podia contrair novas núpcias. Caso, porém,
viesse a separar-se do segundo marido, não podia voltar ao primeiro. Por quê'.' Esclarecenos
Moisés: "Então seu primeiro marido, que a despediu não poderá tornar a tomá-la, para
que seja sua mulher, depois que foi contaminada, pois é abominação perante o Senhor;
assim não farás pecar a terra que o Senhor teu Deus te dá por herança" (Dt 24.4).
Jesus, entretanto, repudiou completamente o divórcio, exceto em caso de adultério:
"Moisés por causa da dureza dos vossos corações vos permitiu repudiar vossas mulheres;
mas no princípio não foi assim. Eu vos digo, porém, que qualquer que repudiar sua mulher,
não sendo por causa de prostituição, e casar com outra, comete adultério; e o que casar com
a repudiada também comete adultério" (Mt 19.8 e 9).
6 - Filhos
Uma herança divina. Assim os hebreus consideravam os filhos, principalmente os
homens, Salmodiou o rei Salomão: "Eis que os filhos são herança do Senhor, e o fruto do
ventre o seu galardão. Como flechas na mão do valente, assim são os filhos da mocidade.
Bem-aventurado o homem que enche deles a sua aliava: não serão confundidos, quando
falarem com os seus inimigos" (SI 127.3-5).
Em Israel, a esterilidade era considerada um opróbrio. Não poucas mulheres
afligiam-se por não terem filhos. Raquel e Ana, por exemplo, rogaram a Deus, com todas as
suas forças, o dom da maternidade. Para as hebréias, não havia privilégio tão grande como o
de gerar filhos.
O direito da primogenitura era respeitadíssimo entre os israelitas. Ao filho mais velho
cabia a porção dobrada dos bens paternos. Com a morte do pai, assumia a responsabilidade
da casa e as funções sacerdotais da família. Depois da promulgação mosaica, no entanto, o
sacerdócio passou a ser exercido pelos levitas.
As filhas apenas recebiam a herança paterna se não houvesse nenhum filho herdeiro.
Elas eram sustentadas pelos irmãos que se encarregavam, inclusive, de seu casamento. As
israelitas não podiam casar-se com moços de. outra tribo.
Cabia ao pai, também, ensinar aos filhos as primeiras letras e uma profissão. A
ociosidade não era tolerada na sociedade hebraica.
II - A VIDA SOCIAL HEBRAICA
A vida social dos hebreus girava em torno de sua religião. Todos os acontecimentos
sociais lembravam-lhes quão presente estava o Todo-poderoso em seu meio. Ao contrário
de outros povos, eles não admitiam extravagâncias nem libertinagens, em suas reuniões. Sua
vida social, portanto, era um apêndice de sua religião.
1-O lugar da mulher na sociedade hebraica
Os israelitas honravam suas mulheres. Concediam-lhes muitos direitos. Se
prejudicadas, poderiam requerer justiça. Vemo-las muitas vezes louvadas, e ocupar, com
freqüência, lugares de honra e distinção. Débora, por exemplo, exerceu grande influência
sobre os seus contemporâneos. Não fosse suas confortadoras palavras, Baraque não teria
desbaratado os inimigos do povo de Deus. E, o que dizer de Sara, Rebeca, Raquel, Ana,
Rute e Hulda?
Submissas aos seus maridos, suas principais preocupações eram domésticas.
Entretanto, podiam pastorear trabalhar a terra e exercer outras atividades, consideradas
masculinas.
Em outros países do Oriente, entretanto, a mulher era tratada como se tosse mero
objeto.
2 - Saudações
Inclinando o corpo um pouco para frente, com a mão direita sobre o lado esquerdo do
peito. Assim era a saudação dos hebreus, julgada bastante prolongada para os ocidentais!
Por isso mesmo ordenou Jesus aos seus discípulos: "...e a ninguém saudeis pelo caminho"
(Lc 10.4).
Perante os magistrados e outras pessoas superiores, era costume inclinar-se a pessoa
até a terra. Eis as expressões mais usadas nas saudações hebraicas: "Paz!" "Paz seja
convosco!" e, "Paz seja sobre esta casa!"
3 - Sepultamento e luto
Constatado o óbito, o corpo era rigorosamente lavado e enrolado em lençóis
impregnados de perfume. Por causa do clima quente (que provocava rápida decomposição
do cadáver) e das exigências da lei mosaica, o sepultamento era feito no mesmo dia.
O féretro era realizado desta forma: as carpideiras iam à frente, enchendo a cidade
com os seus lamentos profissionais; atrás delas, o defunto, e, logo após, os parentes do
falecido, os amigos e o povo.
Os túmulos dos pobres eram cavados no chão. Os dos ricos, escavados nas rochas.
Raramente usados, os esquifes eram quase desnecessários. O embalsamento não se constituía
um hábito entre os israelitas. Jacó e José, a propósito, foram embalsamados no Egito,
por profissionais da corte faraônica.
Sete dias. Era o quanto durava o luto entre os filhos de Israel.
III - MORADIA
Na antigüidade, havia, em Israel, casas simples e, também, imponentes habitações.
Tudo dependia, é claro, das posses de quem as possuía. Em Samaria, por exemplo, algumas
residências eram feitas de marfim.
1 - Tendas
Em Ur dos Caldeus, Abraão habitava em uma casa confortável que, segundo alguns
estudiosos, possuía até água quente. Ao deixar sua cidade, passou a residir em tendas, a
mais antiga forma de moradia no Médio Oriente.
As tendas, primitivamente, eram feitas de peles de cabra. Com o passar dos séculos,
no entanto, passaram a ser mais sofisticadas. Algumas delas, inclusive, possuíam várias
dependências. O apóstolo Paulo era fabricante de tendas.
2 - Cabanas
Construídas com estacas e cobertas de folhagens, eram usadas com freqüência pelos
israelitas. Pedro queria construir três cabanas: uma para Jesus, outra para Moisés e a terceira
para Elias.
3 - Tabernáculo
Foi o templo peregrino dos israelitas. Acompanhou-os durante seus 40 anos de
jornada pelo deserto do Sinai. Nessa tenda, a glória do Senhor manifestava-se constantemente
a Moisés. Esse lugar de adoração seria substituído, mais tarde, pelo Templo,
construído por volta do ano 1.000 a.C, pelo rei Salomão.
Tabernáculo pode significar, também, habitação.
4 - Casas
Nos tempos bíblicos, as casas eram feitas de pedra, de tijolos e de madeira.
Geralmente eram pequenas; possuíam apenas um cômodo. As residências dos ricos, entretanto,
tinham vários compartimentos.
Nas localidades mais quentes, os telhados eram planos e podiam ser transformados
em terraços. No auge do verão, serviam de dormitório. Nas regiões mais frias, os telhados
em forma de meia-água, facilitavam o deslizamento da neve.
As portas das casas hebréias eram estreitas e baixas. As janelas, poucas e sem vidros.
5 - Torres de vigia
Com quase três metros de altura, as torres de vigia eram construídas para proteger os
pomares e as lavouras. As provisórias eram feitas de madeira; as permanentes, de pedras.
Estas últimas serviam, também, de residência.
6 - Palácios
Construídos com esmero, constituíam-se nas residências dos reis hebreus. O mais
imponente deles foi erguido pelo rei Salomão. Segundo alguns estudiosos, a casa do sábio
rei de Israel era mais suntuosa do que o Templo.
IV - MOBÍLIA
Poucas eram as mobílias de uma casa hebréia. Além do leito, uma mesa baixa. As
cadeiras raramente eram usadas, porque os hebreus, à semelhança dos outros orientais,
sentavam-se no chão com as pernas cruzadas. Não raro, as almofadas serviam como
assentos. Nas residências dos mais abastados, o mobiliário era sofisticado.
V - ALIMENTAÇÃO
Basicamente, esta era a dieta alimentar dos hebreus no período bíblico: pão. azeite,
vinho, legumes, frutas, leite, mel e farinha. E. nas ocasiões festivas, a carne era largamente
consumida. O peixe, por outro lado, era mais usado no litoral e nas imediações dos rios e do
mar da Galiléia. A manteiga e o queijo eram feitos de leite de cabra. 0 leite de vaca era
raramente usado.
VI - INDUMENTÁRIA
A indumentária dos israelitas nos tempos bíblicos era confeccionada em algodão, lã,
linho e seda.
1 - Vestuário masculino
A principal peça do vestuário masculino constituía-se em uma túnica, tecida de
algodão. Parecia mais uma camisola sem mangas. A túnica dos ricos, porém, possuía
mangas compridas e largas. Os homens usavam, ainda, uma capa de algodão. O cinto era de
couro. O bastão e o anel-sinete eram usados como ornamentos.
A maioria das crianças permanece no Kibutz até a juventude
O turbante completava o vestuário masculino. O sumo sacerdote e os sacerdotes
vestiam-se com mais esmero. Suas vestes tipificavam a glória e a santidade divina. Sob a
dominação romana, os paramentos sacerdotais ficavam sob custódia e só eram liberados em
ocasiões solenes.
2 - Vestuário feminino
As mulheres também usavam túnicas, só que mais longas e mais ornamentadas.
Quando apareciam em público, cobriam o rosto com um véu. Elas apreciavam pulseiras,
anéis, pendentes e diademas. As mais extravagantes, pintavam-se. Os profetas, contudo,
condenavam esses excessos. De uma maneira geral, as hebréias eram elogiadas por sua
modéstia e simplicidade.
VII - DINHEIRO DA TERRA SANTA
A primeira moeda citada nas Sagradas Escrituras é o darico. Proveniente da Pérsia,
era muito usada nos tempos de Esdras e Neemias. Mais tarde, começou a ser cunhada uma
moeda, inteiramente judaica, conhecida como shekel. Aliás, no início dos anos 80, o
governo israelense adotou-a para a unidade monetária da moderna nação hebraica.
Eis mais algumas moedas mencionadas na Bíblia: dracma, estáter e ceitil. A primeira
é grega e a segunda e a terceira, romanas.
Sexta Parte
Geografia Política da Terra Santa
Sumário: Introdução. I - Os primeiros habitantes da Terra Santa. II - A origem
dos hebreus. III - Os povos vizinhos da Terra Santa no tempo da conquista. IV - A Terra
Santa no tempo de Josué e dos juízes. V -O Reino Unido. VI - O cisma israelita. VII - O
cativeiro assírio e o babilônico. VIII - A restauração de Israel.
INTRODUÇÃO
A Terra Santa é a região mais visada pelas superpotências. Localizada no centro do
globo, constitui-se no ponto mais estratégico do mundo. Em todas as épocas despertou a
gana dos conquistadores e serviu de palco para as mais sangrentas batalhas. Esse minúsculo
país é, politicamente, um barril de pólvora. Tanto nos tempos bíblicos, como hoje, Israel é o
mais nevrálgico tópico da história. Sua geografia política, por conseguinte, mistura-se com a
própria dor da humanidade.
A geografia política da Terra Santa passou por inúmeras alterações. Israel é, sem
dúvida alguma, o país que mais sofreu mudanças em termos de fronteira. Haja vista que,
atualmente, não obstante os seus 40 anos de existência, teve os seus limites diversas vezes
alterados em conseqüência da agressividade dos países árabes. Km todas essas vicissitudes,
contudo, vislumbramos a mão de Deus sobre esse povo.
I - OS PRIMEIROS HABITANTES DA TERRA SANTA
Antes de Josué conquistar a Terra Prometida, habitavam-na vários povos cananeus.
Enumera-os Moisés: "Quando o Senhor teu Deus te tiver introduzido na terra, a qual vais a
possuir, e tiver lançado fora muitas gentes de diante de ti: os heteus, e os girgaseus. e os
amorreus, e os cananeus, e os fereseus, e os heveus, e os jebuseus, sete gentes mais
numerosas e mais poderosas do que tu" (Dt 7.1).
Essas nações eram de origem camita. Independentes, marcavam-nas exacerbada
belicosidade. Foram vencidas, entretanto, pelos exércitos de -Josué. Suas cidades fortificadas
não resistiram ao ímpeto dos israelitas.
Os povos cananeus ofendiam a Jeová constantemente com os seus grosseiros
pecados. Foram, por causa disso, desalojados da terra que mana leite e mel. Os filhos de Israel
foram exortados, com severidades, a não lhes seguir os pérfidos exemplos.
II - A ORIGEM DOS HEBREUS
Os hebreus são descendentes de Sem, filho mais velho de Noé. A nação israelita
identifica-se, perfeitamente, com sua ascendência. Haja vista que o anti-semitismo é voltado
apenas contra os judeus, apesar de os árabes serem da mesma família.
A nação hebréia começou com um caldeu chamado Abrão. Nascido por volta do ano
2.000 a.C. Aos 75 anos de idade, tem ele uma profunda experiência espiritual. Aparece-lhe
Deus e dirige-lhe estas palavras: "Sai-te da tua terra, e da tua parentela e da casa de teu pai.
para a terra que eu te mostrarei. E far-te-ei uma grande nação, e aben-çoar-te-ei, e
engrandecerei o teu nome e tu serás uma bênção. E abençoarei os que te abençoarem e
amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra" (Gn
12.1-3).
Assim nasceu a nação israelita. Nasceu durante as peregrinações dos patriarcas.
Nasceu no deserto e entre espinhos. Nasceu em terras estrangeiras. Hoje, entretanto, floresce
como a palmeira!
III - OS POVOS VIZINHOS DA TERRA SANTA NO TEMPO DA
CONQUISTA
Além das sete nações cananéias mencionadas, Israel foi obrigado a conviver com
outros povos - aguerridos, idolatras e belicistas. Essas gentes causaram muitos transtornos à
progênie de Abraão. De quando em quando, violavam as fronteiras israelitas e escravizavam
tribos inteiras.
Eis os principais povos que sobreviveram às investidas dos exércitos de Josué:
filisteus, amalequitas, midianitas, moabitas, amonitas, edomitas, fenícios e sírios. Escreve o
pastor Enéas Tognini: "Estas nações e povos, que rodeavam Israel, serviam de termômetro
para regular a temperatura espiritual dos filhos de Jacó: quanto mais perto de Deus
andavam, mais poder tinham e seus territórios eram dilatados; afastavam-se do seu Senhor,
Deus os abandonava: ficavam sem proteção: chegavam os inimigos e subjugavam o povo e
conseqüentemente, se apossavam de seus territórios."
IV - A TERRA SANTA NO TEMPO DE JOSUÉ E DOS JUÍZES
Moisés morreu aos 120 anos de idade, sem introduzir os israelitas em Canaã. Essa
incumbência seria entregue a um bravo e destemido general, chamado Josué. Destacando-se
sempre em todas as suas missões, era o sucessor natural do grande legislador e guia
espiritual dos hebreus.
Sob o seu comando, os exércitos de Israel conquistaram a terra que mana leite e mel.
A guerra pela posse dessas terras durou, aproximadamente, 14 anos: de 1.404 a 1.390 a.C.
Durante esse período, os batalhões cananeus iam caindo um após outro. Nenhuma força
militar gentíli-ca era capaz de suportar o ímpeto dos israelitas.
Terminado o conflito, Josué procedeu à divisão das terras conquistadas. Rubem,
Gade e a meia tribo de Manasses ficaram com a Transjordânia. Os territórios ocidentais
foram distribuídos a estas tribos: Naftali, Aser, Zebu-lom, Issacar, Manasses Ocidental,
Efraim, Benjamim e Dã. Judá e Simeão são contemplados com os territórios do Sul.
Os levitas, segundo determinação do Senhor, não herdaram quaisquer possessões.
Tribo sacerdotal, coube-lhes 48 cidades espalhadas entre os termos de seus irmãos.
Registra a Bíblia o passamento de Josué: "E depois destas coisas sucedeu que Josué,
filho de Num, o servo do Senhor, faleceu, sendo da idade de cento e dez anos. E sepultaramno
no termo da sua herdade, em Timnate-Sera, que está no monte de Efraim, para o norte do
Monte de Gaás. Serviu pois Israel ao Senhor todos os dias de Josué, e todos os dias dos
anciãos que ainda viveram muito depois de Josué, e sabiam toda a obra que o Senhor tinha
feito a Israel" (Js 24.29-31).
Com o desaparecimento do grande general e de seus auxiliares, os israelitas
esqueceram-se do Senhor e começaram a curvar-se ante as tolas divindades cananéias. Tamanha
decadência espiritual tornou-os vulneráveis. Sem mais contarem com a proteção de
Jeová, sofreram os mais impiedosos ataques dos povos vizinhos.
O período dos juizes, por conseguinte, é um dos mais tristes da história hebréia. Nos
termos de Israel, reinava grande anarquia. As tribos, por causa de suas diferenças internas,
não conseguiam unir-se para enfrentar o inimigo comum. No entanto, quando acossados por
vorazes algozes, clamavam, e o Senhor os ouvia.
Misericordioso, o Todo -poderoso suscitava juizes que os libertavam de seus
verdugos. Mas, tão logo morria o libertador eles tornavam a cair na apostasia. E, novamente,
caíam em desgraça. Esse círculo vicioso durou até a monarquia. Na era da judicatura, que
durou em torno de 330 anos, quatro palavras faziam parte do dia-a-dia do povo eleito:
pecado, opressão, arrependimento, e livramento.
Mapa das fronteiras da antiga Palestina
Israel teve 13 juizes. O último deles foi Samuel. Nessa época, havia muita terra a ser
conquistada. Os hebreus, todavia, não completaram a tarefa iniciada por Josué.
V - O REINO UNIDO
Samuel é chamado, com muita razão, de fazedor de Reis. Ele representa a transição
entre a judicatura e a monarquia. Por seu intermédio, foram escolhidos os dois primeiros
reis de Israel. Sua influência é tão grande que, mesmo depois de morto, seus ideais
continuaram a dirigir a história israelita.
Samuel foi o iniciador do Reino Unido que durou 120 anos - de 1044 a 924 a.C.
Ungido pelo piedoso profeta, Saul unifica as doze tribos e inicia uma guerra de
libertação. Seu objetivo: dilatar as fronteiras de Israel e destruir os temíveis filisteus. No
princípio, obtém sucessos. Contudo, por causa de suas ambições, começa a infringir os
mandamentos do Senhor.
Saul é rejeitado. Em seu lugar é ungido Davi, filho de Jessé. O humilde pastorzinho
de Judá, após derrotar o gigante Golias, alcança grande popularidade. Suas façanhas, porém,
angariam-lhe o ódio e o desafeto do rei.
Depois de o monarca benjamita ter tombado no campo de batalha, Davi assenta-se no
trono de Israel. Nos primeiros oito anos de seu governo, reina somente sobre Judá. As outras
tribos, no entanto, resolvem submeter-se ao corajoso soberano judaíta.
Davi consegue aumentar suas fronteiras e derrotar os inimigos de seu povo. Em seus
40 anos de reinado, dedica-se completamente à guerra. No final de sua vida, tenta construir
um templo ao Deus de Israel, mas é desestimulado pelo profeta Nata. Essa incumbência
seria entregue ao seu sucessor.
O reino de Salomão foi marcado por uma invejável paz interna e externa. A
prosperidade era a tônica de seu governo. Com a sua proverbial e inigualável sabedoria,
transforma Israel na maior potência do Oriente Médio. As nações vizinhas submetem-se ao
cetro davídico.
Em conseqüência de sua política expansionista e faraônica, o filho de Davi
empobrece a nação israelita, principalmente as tribos da região setentrional. Tanto o Templo,
como o palácio, exigiam vultosos impostos do povo, que já estava cansado de tanta
opressão. E, o que dizer de seu harém que, segundo alguns estudiosos, possuía 30 mil
mulheres? Isto porque, cada uma de suas 700 mulheres e 300 concubinas podia ter até 30
damas de companhia.
O final de Salomão foi triste. Não obstante sua grande sabedoria e inimitável glória,
desaparece entre as brumas de sua idolatria e formidáveis excessos.
Sucede-lhe no trono o seu filho Roboão. Moço folgazão e tolo, não atende às
reivindicações do povo. Desprezando o conselho dos assessores de seu pai, resolve oprimir
ainda mais a combalida e azeda nação hebraica. Em uma demente demonstração de força
não baixa os impostos nem melhora as condições de vida de seus irmãos.
VI - O CISMA ISRAELITA
Aproveitando-se dessa situação caótica, Jeroboão assume a liderança das tribos
descontentes. E, assim, em 923 a.C, o Reino de Israel divide-se. As tribos de Judá e Benjamim
permanecem fiéis à dinastia davídica. Entretanto, as do Norte, encabeçadas por Efraim,
formam um novo reino.
As duas facções, a partir de então, ficaram conhecidas, respectivamente, como Israel
e Judá. Acerca do cisma israelita, escreve Antônio Neves de Mesquita: "O império, que
Salomão tinha erigido com tanto gáudio, estava à beira do abismo. Não só o desprezo de
Roboão às aspirações do povo constituía motivo relevante para modificação na política
fiscal, mas também as sementes de discórdia interna deviam ser contornadas. A união entre
as tribos fora mais fictícia que real. Havia entre o Norte e o Sul profundas desinteligências
geradas pela situação favorável que os sulistas gozavam por sua proximidade com a capital
política e religiosa, como também por motivo puramente geográfico. Os nortistas eram meio
internacionalistas, mais frios para a religião', menos patriotas e pouco afeiçoados aos reis.
Em contato direto com os fenícios, os sírios e outros povos do norte, sentiam menos as
influências centralistas. Enquanto ocupava o trono um homem como Salomão, era natural
que a união persistisse; depois seria difícil manter esta união e solidariedade política. Seria
preciso que um grande e hábil político subisse ao poder, para manter unidos os elementos
desintegralizadores. Este homem não era Roboão."
Reino dividido entre as tribos do Norte e as do Sul
Com grande precisão, Mesquita fala, agora, sobre as pretensões dos efraimitas: "A
tribo de Efraim era a tribo líder do Norte, enquanto a de Judá era líder do Sul. Estas
rivalidades, tanto tribais como geográficas, foram sopitadas, enquanto o trono foi ocupado
por monarcas da envergadura de Davi e de Salomão. Depois tudo se definiu e as diferenças
apareceram. Às ambições destas tribos, acrescentem-se as circunstâncias, tanto geográficas
como culturais, que determinavam as diferenças entre o povo, e teremos a explicação do
panorama conhecido pelos leitores da Bíblia. Dentro deste pequeno território encontravamse
quase todas as variedades de clima, flora e fauna. A população variava na proporção das
diferenças climatéricas. A leste do Jordão ficava a terra dos pastores, onde continuavam a
dominar os beduínos. Nos vales, a oeste do mesmo Jordão, ficavam os agricultores,
enquanto que nas cidades das fronteiras do Oeste, junto às grandes estradas, havia um
princípio de comércio bem desenvolvido. Enquanto isso, em volta do mar da Galiléia,
alinhavam-se as vilas de pescadores. Havia, pois, todos os tipos de civilização, desde o tipo
pastoril nomádico, o agricultural e o comercial, até o de pescadores. A população era uma
mistura de interesses variados, e somente a sua topografia, exposta a todos os perigos, podia
realizar o milagre de sua unidade, constituindo Israel um regime centralizado e militar.
Quando acontecia que uma dinastia se tornava fraca, um homem forte e valente tomava o
trono. Daí ter sido a história de Israel do Norte de sangue e de rebeliões, com assassinatos,
em que aventureiros, saídos tanto do exército como de outras camadas, assaltavam o trono e
estabeleciam precárias dinastias. Com tal heterogeneidade, era de se esperar que uma
oportunidade espreitasse a ruptura dos laços que uniam o Norte ao Sul."
Mapa da divisão natural da Palestina antiga
VII - OS CATIVEIROS ASSÍRIO E BABILÔNICO
A cisão enfraqueceu ambas as facções, principalmente a nortista. As relações entre os
reinos de Israel e Judá nem sempre foram amistosas. De quando em quando uniam-se para
combater um inimigo comum. Na maioria das vezes, contudo, estavam em guerra.
Com o passar do tempo, a identidade nacional e religiosa entre os israelitas e judaítas
torna-se cada vez mais fraca. Seguindo orientação do idolatra e inescrupuloso Jeroboão, os
moradores do Israel setentrional não desciam a Jerusalém para adorar. Esse ciumento
soberano, temendo perder os seus súditos, fechou suas fronteiras. Para conquistar o respeito
e a amizade dos israelitas, construiu-lhes dois bezerros de ouro. E, a partir de então, ele fica
conhecido como "o rei que fez Israel pecar".
Depois de Jeroboão, teve Israel mais 18 reis. Todos eles trilharam os caminhos da
idolatria e da impiedade. Com o culto a Baal, introduzido por uma meretriz chamada
Jezabel, o povo corrompeu-se completamente.
Não podendo suportar tanta apostasia, o Senhor entregou as tribos do Norte aos
inumanos e selvagens assírios. No ano de 722 a.C, as forças de Nínive invadem Israel e
levam cativos os filhos de Jacó. Inicia-se o cativeiro assírio, que deixaria profundas seqüelas
na nação hebraica.
Depois da destruição do Reino de Israel, Judá sobreviveu ainda por mais de 135
anos. A maior parte desse tempo, contudo, pagou pesados tributos à Assíria. Com a ascensão
de Babilônia, começa a ruína do Reino do Sul.
Em 605 a.C, tropas babilônicas invadem Judá. Tem início o Cativeiro Babilônico
que, segundo Jeremias, duraria 70 anos. O Templo é destruído pelos exércitos de Nabucodonozor
em 587 a.C. Na capital do novo império, os judeus progridem. Alcançam
elevados postos na administração iniciada por Nabopolassar. Daniel, por exemplo, tornou-se
o mais influente conselheiro da realeza.
Terminado o período de 70 anos, parte dos filhos de Judá retorna à Terra Santa.
Centenas de milhares, todavia, permanecem no exílio. Vagando de nação em nação,
sofrendo injustas perseguições e injustificáveis preconceitos, tornam-se errantes. Sua
diáspora já dura mais de 25 séculos.
VIII - A RESTAURAÇÃO DE ISRAEL
Após os exílios assírio e babilônico, a nação hebraica ficaria distante de Sião por
mais de 2.500 anos. Houve, é claro, alguns períodos de independência e glória, principalmente
na era macabéia, mas foram esporádicos e não contaram com a participação da
totalidade do povo.
O advento do férreo Império Romano, conforme já dissemos, marca o fim da
restauração nacional iniciada por Esdras, Neemias, Zorobabel e pelos profetas Ageu e Zacarias.
Os judeus, ao tentarem sacudir o jugo romano, são dispersados por todas as nações do
mundo, onde sofreram e sofrem terrivelmente.
- Qual a razão de seu sofrimento? - Sem dúvida alguma, a rejeição de seu Messias.
Em meio a povos estranhos, os filhos de Israel foram humilhados, e aterrorizados.
Seus sofrimentos, aliás, foram vaticinados por Moisés:
"O Senhor levantará contra ti uma nação de longe, da extremidade da terra, que voa
como a águia, nação cuja língua não entenderás. Nação feroz de rosto, que não atentará para
o rosto do velho, nem se apiedará do moço. E comerá o fruto dos teus animais, e o fruto da
tua terra, até que sejas destruído; e não te deixará grão, mosto, nem azeite, criação das tuas
vacas, nem rebanhos das tuas ovelhas, até que tenha consumido; e te angustiará em todas as
tuas portas, até que venham cair os teus altos e fortes muros, em que confiavas em toda a tua
terra; e te angustiará em toda a tua terra que te tem dado o Senhor teu Deus; e comerás o
fruto do teu ventre, a carne de teus filhos e de tuas filhas, que te der o Senhor teu Deus, no
cerco e no aperto com que os teus inimigos te apertarão.
"Quanto ao homem mais mimoso e mui delicado entre ti, o seu olho será maligno
contra o seu irmão, e contra a mulher de seu regaço, e contra os demais de seus filhos que
ainda lhe ficarem; de sorte que não dará a nenhum deles da carne de seus filhos, que ele
comer; porquanto nada lhe
ficou de resto no cerco e no aperto com que o teu inimigo te apertará em todas as tuas
portas. E quanto à mulher mais mimosa e delicada entre ti, que de mimo e delicada nunca
tentou por a planta de seu pé sobre a terra, será maligno o seu olho contra o homem de seu
regaço, e contra seu filho. e contra sua filha; e isto por causa de suas páreas, que saíram
dentre os seus pés, e por causa de seus filhos que tiver; porque os comerá às escondidas pela
falta de tudo, no cerco e no aperto com que o teu inimigo te apertará nas tuas portas" (Dt
28.49-57).
Prossegue o grande profeta, prevendo os sofrimentos dos judeus em suas diásporas:
"E será que, assim como o Senhor se deleitava em vós, em fazer-vos bem e multiplicar-vos,
assim o Senhor se deleitará em destruir-vos e consumir-vos; e desarraigados sereis da terra
da qual tu passas a possuir. E o Senhor vos espalhará entre todos os povos, desde uma
extremidade da terra até a outra extremidade da terra: e ali servirás a outros deuses que não
conheceste, nem tu nem teus pais: ao pau e à pedra. E nem ainda entre as mesmas gentes
descansarás, nem a planta de teu pé terá repouso: porquanto o Senhor ali te dará coração
tremente e desfalecimento dos olhos, e desmaio da alma.
"E a tua vida como suspensa estará diante de ti; e estremeceres de noite e de dia, e
não crerás na tua própria vida. Pela manhã dirás: Ah! quem me dera ver a noite! E à tarde
dirás: Ah! quem me dera ver a manhã! pelo pasmo de teu coração, com que pasmarás, e pelo
que verás com os teus olhos. E o Senhor te fará voltar ao Egito em navios, pelo caminho de
que te tenho dito: Nunca jamais o verás: e ali sereis vendidos por servos e servas aos vossos
inimigos; mas não haverá quem vos compre" (Dt 28.63-68).
Durante a sua peregrinação, Israel sofreu os mais duros revezes. Judeus foram
massacrados em todas as partes do mundo. E, nos anos que precederam ao estabelecimento
do moderno Estado judaico, Hitler ordenou a matança de seis milhões de israelitas. Foi o
mais bárbaro crime da História.
Entretanto, no final da Segunda Guerra Mundial, a nação hebraica conscientizou-se
de sua peculiar situação.
Somente uma pátria na Palestina, dar-lhe-ia a segurança necessária à sua
sobrevivência. E, após muitas batalhas diplomáticas, o Estado de Israel começa a existir a
partir de 12 de maio de 1948.
Cumpria-se, assim, a profecia de Isaias: "Antes que estivesse de parto, deu à luz; ante
que lhe viesse as dores, deu à luz um filho. Quem jamais ouviu tal cousa? quem viu cousas
semelhantes? Poder-se-ia fazer nascer uma terra num só dia? nasceria uma nação de uma só
vez? mas Sião esteve de parto e já deu á luz seus filhos" (Is 66.7,8).
Desde a proclamação de sua independência, Israel tem enfrentado diversos conflitos
bélicos: em 1948, a Guerra da Independência; em 1956, a Guerra de Suez; em 1967, a
Guerra dos Seis Dias; em 1973, a Guerra do Yom Kippur; e, em 1982, a Guerra do Líbano.
Em todos esses embates, entretanto, as forças judaicas têm saído vencedoras, porque o
Senhor dos Exércitos está ao seu lado.
Cumpre-se à risca, pois, este vaticínio de Amos: "E os plantarei na sua terra, e não
serão mais arrancados da sua terra que lhes dei, diz o Senhor teu Deus" (Am 9.15).
A nação israelense, com o seu renascimento e progresso, tem um grande significado
para nós. 0 pastor Abraão de Almeida, um dos maiores especialistas em assuntos judaicos,
escreve: "Com o cumprimento das profecias, Deus nos está mostrando sua fidelidade a
Israel, e à Igreja, fidelidade que deve induzir todos os povos a temê-lo. Por isso, o salmista
registrou: 'Tema toda a terra ao Senhor, temam-no todos os moradores da Terra, porque
falou, e tudo se fez; mandou, e logo tudo apareceu. 0 Senhor desfaz o conselho das nações,
quebranta os intentos dos povos. O conselho do Senhor permanece para sempre; os intentos
do seu coração de geração em geração. Bem aventurada é a nação cujo Deus é o Senhor, e o
povo que ele escolheu para sua herança.' Notem que o Senhor desfaz o conselho das nações,
quebranta o intento dos povos. Nenhuma das muitas resoluções do Conselho de Segurança
das Nações Unidas contra Israel prosperou ou prosperará, pois o Senhor frustra todas as
decisões que contrariem sua Palavra. Também têm sido quebrantados os maus intentos dos
inimigos de Israel, como o Egito de Nasser, a União Soviética, a OLP (Organização para a
Libertação da Palestina) etc."
Prossegue o pastor Abraão de Almeida: "O retorno final de Israel, a reconstrução das
suas cidades antigas e o reflorestamento do país indicam que estamos vivendo nos últimos
tempos. A Bíblia diz que a Palestina seria assolada até o fim (Dn 9.26), mas que, ao término
do cativeiro, os israelitas reedificariam as cidades assoladas e nelas habitariam, plantariam
vinhas, beberiam o seu vinho e fariam, pomares e lhes comeriam os frutos (Am 9.14)."
Portanto, estejamos vigilantes, porque a volta de Cristo concretiza-se dia após dia.
Que a nossa oração seja: "Paz sobre Israel!"
Sétima Parte
Jerusalém - A Capital Indivisível e Eterna de Israel
Sumário: Introdução. I - Origem. II - Geografia de Jerusalém. III - Davi e
Jerusalém. IV - A grandeza de Jerusalém. V - A glória do Templo de Jerusalém. VI -
Jerusalém e a arqueologia. VII - Jerusalém e sua história.
INTRODUÇÃO
Em julho de 1980, o Knessel: - parlamento israelense -aprovou um decreto-lei,
elaborado pelo então primeiro-ministro Menachen Begin, transformando Jerusalém na
capital eterna e indivisível do Estado de Israel.
Como era de se esperar, os países árabes protestaram veementemente contra a
iniciativa israelense. Dias antes, a propósito, o premier judeu, respondendo a uma objeção
do governo inglês, afirmou que antes mesmo da existência de Londres, a cidade de
Jerusalém já era a capital de Israel.
O líder iraniano, Khomeini, ferrenho inimigo dos israelitas, ao saber da anexação
legal e definitiva de Jerusalém, proclamou, de imediato, uma guerra para reconquistar a
cidade santa. Enquanto isso, diversas nações ocidentais trataram de mudar suas embaixadas
para Tel-Aviv, para não desagradar os países árabes.
Somente os Estados Unidos é que apoiaram a medida israelense, que se constitui no
velho e milenar sonho judaico de reconquistar política e espiritualmente a Cidade do Grande
Rei.
I - ORIGEM
"Jerusalém" significa, em hebraico, habitação de paz. Seu nome é mencionado pela
primeira vez nas Escrituras em Josué 10.11. Entretanto, em Gênesis 14.18, encontramos
uma referência sobre a cidade, que aparece com o nome de Salém. De acordo com a
tradição, assim era chamada a capital judaica.
Eis mais alguns nomes bíblicos de Jerusalém: Jebus (Jz 19.10); Sião (SI 87.2); Ariel
(Is 29.1); Lareira de Deus (Is 1.26); Cidade de Justiça (Is 1.26); Santa Cidade (Is 28.2; Mt
4.5); Cidade do Grande Rei (Mt 5.35) e, Cidade de Davi (2 Sm 5.7).
II - GEOGRAFIA DE JERUSALÉM
Jerusalém constitui-se na mais célebre cidade do mundo. É venerada por três
religiões monoteístas: judaísmo, cristianismo e islamismo. Até mesmo sua localização
geográfica é privilegiada.
A cidade santa está localizada no Sul da cordilheira central de Israel. Encontra-se a
mais de 50 quilômetros do Mediterrâneo. Como símbolo de grandeza e magnitude, está
edificada a 800 metros de altitude. Com o passar dos tempos, seus aspectos primitivos
sofreram alterações. Contudo, ninguém jamais poderá alterar-lhe a mística ou arrancar-lhe a
aura de celestialidade e glória.
Até o ano 70 d.C, Jerusalém era protegida por forte muralha, que foi destruída pelo
general romano, Tito.
Desenho de Jerusalém na Idade Média
III - DAVI E JERUSALÉM
Antes de ser tomada por Davi, a cidade santa era uma possessão jebuseica. Em 2
Samuel 5, de 7 a 9, lemos: "...Davi tomou a fortaleza de Sião: esta é a cidade de Davi.
Porque Davi disse naquele dia: Qualquer que ferir os jebuseus, e chegar ao canal, e aos
coxos e aos cegos, que a alma de Davi aborrece, será cabeça e capitão. Por isso se diz: Nem
cego nem coxo entrará nesta casa. Assim habitou na fortaleza, e lhe chamou a cidade de
Davi; e Davi foi edificando em redor, desde Milo até dentro."
O apogeu de Jerusalém deu-se no reinado de Salomão. O sábio monarca embelezoua,
aproveitando-se de seu singular aspecto. Procurando sanar o crônico problema de á-gua,
construiu diversos aquedutos.
IV - A GRANDEZA DE JERUSALÉM
Sobre a grandeza de Jerusalém, escreve Orlando Boyer: "Qual é o segredo da sua
grandeza? Não tinha um porto marítimo, como Alexandria e Roma. Nem estava situada num
rio, como Mênfis e Babilônia. E nem tinha a grande vantagem de uma das grandes vias
comerciais entre o mar Mediterrâneo e o vale do Jordão, nem das rotas entre a Ásia Menor e
o Egito. Contudo, enquanto Roma era o centro político e Atenas, o centro intelectual,
Jerusalém era o centro espiritual do mundo, a cidade de maior influência sobre a esperança e
o destino do gênero humano. Era a cidade escolhida do único e verdadeiro Deus, o centro de
seus cultos, leis e revelação, com a missão de proclamá-lo a todo o mundo."
V - A GLÓRIA DO TEMPLO DE JERUSALÉM
O historiador judeu, Flávio Josefo, descreve a Casa do Senhor construída por
Salomão:
"O templo tinha sessenta côvados de comprimento e outro tanto de altura; a largura
era de vinte côvados. Sobre esse edifício construiu-se outro do mesmo tamanho e assim a
altura total do templo era de cento e vinte côvados. Estava voltado para o Oriente e seu
pórtico era da mesma altura de cento e vinte côvados por vinte de comprimento e dez
As ruas de Jerusalém são bastante movimentadas
de largura. Havia em redor do templo trinta quartos em forma de galeria, que serviam
de arcos para o sustentar. Passava-se de um para o outro e cada um tinha vinte e cinco
côvados de comprimento por outros tantos de largo e vinte de altura. Havia, por cima desses
quartos, dois andares com igual número de quartos, todos semelhantes. Assim, na altura de
três andares juntamente, medindo sessenta côvados chegava justamente à altura da parte
baixa do edifício do templo de que acabamos de falar e nada mais havia por cima. Todos
estes quartos eram cobertos de madeira de cedro e tinham sua cobertura à parte, em forma
de pavilhão: mas estavam unidos por traves longas e grossas, a fim de torná-las mais firmes:
e, assim, juntas, eram como um único corpo. Seus tetos eram de madeira de cedro bem
polido, enriquecido de folhagem douradas, talhadas na madeira. 0 resto era também
adornado de madeira de cedro, tão bem trabalhada e tão reluzente de ouro que seu brilho
ofuscava a vista. Toda a estrutura desse soberbo edifício era de pedras tão polidas e tão bem
ajustadas que não se podia nem mesmo perceber-lhes as juntu-ras, mas parecia que a
natureza as tinha feito um único bloco, sem que a arte nem os instrumentos de que se servem
excelentes artífices para embelezar suas obras, para isso tivessem contribuído. Salomão
mandou fazer na largura do muro do lado do Oriente, onde não haja nenhum portal grande,
mas somente duas portas, um degrau em frente, de sua invenção, para se subir ao alto do
templo. Havia dentro e fora dele, pranchas de cedro ligadas com grande e fortes cadeias,
para garantir a sua estabilidade.
Prossegue Josefo:
"Salomão mandou também fazer dois querubins de ouro maciço, de cinco côvados de
altura cada um; suas asas eram do mesmo comprimento e essas duas figuras estavam
colocadas de tal modo no Santo dos Santos, que duas de suas asas estendidas se uniam e
cobriam toda a Arca da Aliança e as duas outras asas tocavam, uma do lado norte e outra do
lado sul, as paredes desse lugar particularmente consagrado a Deus, que, como dissemos,
tinha vinte côvados de largura. Mas, dificilmente se poderia dizer, pois não se poderia nem
mesmo imaginar qual a forma desses querubins. Todo o pavimento do templo estava coberto
de lâminas de ouro e as portas da grande entrada, que tinha vinte côvados de largura e
altura proporcionada, estavam também cobertas de lâminas de ouro. Enfim, numa palavra,
Salomão nada deixou, nem dentro nem fora do templo, que não fosse recoberto de ouro.
Mandou colocar, sobre a porta do lugar chamado o Santo do templo, um véu semelhante ao
de que acabamos de falar, mas a porta do vestíbulo não o tinha."
Complementa Flávio Josefo:
"Eis com que suntuosidade e magnificência Salomão fez construir e ornar o templo e
consagrou todas essas coisas à honra de Deus. Mandou fazer em seguida, em redor do
templo, um muro de cem côvados de altura, chamado gison em hebraico, a fim de impedir a
entrada aos leigos, sendo ela somente permitida aos levitas e sacrificadores. Salomão levou
sete anos para realizar essas magníficas obras, o que não as tornou menos admiráveis, do
que sua grandeza, sua riqueza e sua beleza; ninguém podia imaginar que seria coisa possível
realizá-las e terminá-las em tão pouco tempo."
VI - JERUSALÉM E A ARQUEOLOGIA
Há provas suficientes, segundo a arqueologia, para se acreditar que, na área ocupada,
hoje, por Jerusalém, habitavam, em eras remotas, milhares de homens.
A primeira menção que se tem da cidade, aparece nas inscrições de Tell-Amarna, em
caracteres cuneiformes. Quando esse registro foi feito, o rei de Jerusalém era Abd Khiba.
Nesse tempo, a cidade era conhecida como Urusalém.
VII - JERUSALÉM E SUA HISTÓRIA
Depois da morte de Salomão, o trono davídico é ocupado pelo insensato Roboão. No
quinto ano de seu reinado, Jerusalém é saqueada por Sisaque, rei do Egito. Mais tarde,
filisteus e árabes sitiam-na, causando-lhe muitos estragos.
No reinado de Amazias, os israelitas destroem parte das muralhas da cidade santa.
Consideráveis riquezas são levadas a Samaria. Entretanto, renomados militares fracassam
fragorosamente ao tentar marchar contra Sião. Re-zim, rei da Síria, foi um deles. No tempo
de Ezequias, por exemplo, o grande Senaqueribe é abatido pelo anjo do Senhor. Do exército
desse ambicioso assírio, caem 185 mil homens.
No tempo de Manasses, a santa cidade é invadida por tropas babilônicas. O mais
perverso rei de Judá é deportado a Babilônia, onde se reconcilia com o Deus de seus pais.
Alcançado pelas misericórdias divinas, o monarca judaíta é recambiado à sua terra, onde
promove algumas reformas religiosas. Em termos genéricos, ele é considerado o pior
soberano de Judá.
Não há acontecimento tão funério e triste para os judeus como a destruição do
Templo e de Jerusalém. A façanha foi realizada por Nabucodonozor, em 587 a.C. Termina,
assim, a fase áurea da mais amada e cobiçada cidade hebréia.
Após setenta anos de exílio e de vergonha, Jerusalém é reconstruída por Esdras e
Neemias. Nesse mesmo tempo, o Templo ressurge. No entanto, é apenas uma sombra do
imponente santuário construído por Salomão.
Desde essa época, a Cidade do Grande Rei não mais conheceria momentos de paz.
Em 320 a.C., Ptolomeu Soter conquista-a. No segundo século antes de nossa era, Antíoco
Epífanes apodera-se dela, profana o Templo e massacra milhares de judeus.
Em 66 a.C, o general romano Pompeu apossa-se de Jerusalém, transformando-a em
possessão latina. Dezesseis anos mais tarde, Herodes, o Grande, começa a reinar sobre a
cidade, com o apoio de Roma. Para agradar os judeus, o ambicioso e perverso monarca
reforma e embeleza o santuário de Jeová. Nesse Templo, seria apresentado o menino Jesus.
No ano 70 de nossa era, conheceria Jerusalém uma de suas mais deploráveis
tragédias. O general Tito, à testa de um exército de 100 mil homens, sitiou-a durante cinco
meses. Em seguida destruiu-a, o que predissera Jesus, aconteceu: não ficou pedra sobre
pedra; tudo foi destruído.
De acordo com Tácito, historiador romano, morreram, naquela ocasião um milhão de
judeus.
O fervor nacionalista dos judeus, entretanto, não se apaga. Em 131 d.C, Bar Khoba
apossa-se da cidade. No ano seguinte, contudo, o imperador Adriano devasta-a literalmente.
Séculos mais tarde, em 627, Cosroes II, rei da Pérsia avança sobre Jerusalém, arrasando-a,
uma vez mais.
Omar, sucessor de Maomé, ocupa a cidade da paz em 637. Duzentos anos depois, os
maometanos destroem santuários cristãos. Em 1075, a capital espiritual do judaísmo passa
das mãos dos muçulmanos para as dos turcos.
Sob o nome de Cristo, a Igreja Católica Romana, com suas impiedosas cruzadas,
passa a atacar Jerusalém. A cidade é sitiada e conquistada em 1099, por Godofredo, chefe
da primeira cruzada. Durante essa satânica investida, milhares de judeus são assassinados.
Saladino, em 1.187, na qualidade de chefe da terceira cruzada, ocupa a cidade. Em
1.229, as mulharas de Jerusalém são destruídas. Dez anos mais tarde, Sião rende-se ao
comandante da sexta cruzada. Os turcos, em 1.547, invadem-na e, de lá, só seriam expulsos,
em 1831. A Turquia, entretanto, voltaria a conquistar Jerusalém, dez anos mais tarde.
As universidades israelenses já se destacam no mundo
Na Primeira Guerra Mundial, Jerusalém é "libertada" pelo general britânico,
Allemby. No dia 14 de maio de 1948, renasce o Estado de Israel. A parte Leste da cidade,
porém, continuava em poder dos árabes. Entretanto, em 1967, durante a Guerra dos Seis
Dias, a capital espiritual e histórica dos judeus é reconquistada por seus legítimos donos.
Cidades e Estradas da Terra Santa
Sumário: Introdução. I - Jerico. II - Belém. III -Hebrom. IV - Jope. V - Nazaré.
VI - Cafarnaum. VII -Samaria. VIII - Decápolis e Estradas da Terra Santa.
INTRODUÇÃO
A independência do Estado de Israel foi proclamada em 1948. Nesses quase 40 anos,
as cidades foram-se multiplicando sobre o exíguo território israelense. Cumpre-se, dessa
forma, esta maravilhosa profecia: "Eis que vêm os dias, diz o Senhor, em que o que lavra
alcançará ao que sega, e o que pisa as uvas as que lança a semente; e os montes destilarão
mosto, e todos os outeiros se deterreterão. Também trarei do cativeiro o meu povo Israel; e
eles reedificarão as cidades assoladas, e nelas habitarão; plantarão vinhas, e beberão seu
vinho; e farão pomares, e lhes comerão o fruto. Assim os plantarei na sua terra, e não serão
mais arrancados da sua terra que lhes dei, diz o Senhor teu Deus" (Am 9.13-15).
Desenho de Berseba em 1880
Desenho de Jafa em 1825
Desenho de Acre (alto) em 1930 e de Nazaré em 1860
I - JERICO
Localiza-se no Vale do Jordão, no território entregue à tribo Benjamim. Encontra-se
a 28 quilômetros de Jerusalém. O nome dessa cidade significa, segundo alguns autores,
lugar de perfumes ou fragrâncias.
Jerico foi a primeira cidade conquistada pelos filhos de Israel. Era famosa por suas
fortificações. É considerada, ainda, uma das metrópoles mais antigas do mundo.
II - BELÉM
Encontrando-se a 10 quilômetros a leste de Jerusalém, é a cidade do rei Davi. Casa
de pão é o que significa Belém. Pela sua posição geográfica, é uma fortaleza natural. Fica a
quase 800 metros acima do nível do mar.
Nessa cidade nasceram dois importantíssimos personagens: Davi, e Jesus Cristo, o
Salvador do mundo. Apesar de sua importância histórica, Belém foi sempre uma aldeia
insignificante. Não obstante, seus campos, ainda hoje conservam a mesma fertilidade dos
tempos bíblicos.
III - HEBROM
Eis o primeiro nome dessa cidade: Quiriat Arba. Encontra-se a 32 quilômetros ao sul
de Jerusalém e a mil metros acima do mar Mediterrâneo. Abraão morou em suas
redondezas. Em Hebrom, foi Davi ungido rei sobre Israel. É tida, também, como a primeira
cidade de Judá.
Atualmente, Hebrom é uma grande cidade com mais de 40 mil habitantes, em sua
maioria árabes. Eis suas principais fontes de renda: artesanatos, artefatos de cerâmica e
pequenas indústrias. A agropecuária é, por enquanto, sem expressão.
IV - JOPE
Na distribuição de Canaã, Jope coube à tribo de Dã. Atacada várias vezes pelos
filisteus, a cidade foi libertada por Davi. Mais tarde, Salomão utilizou-se de seu porto para
receber cedros do Líbano, usados na construção do Templo.
Hodiernamente, Jope é um grande porto israelense.
Desenho de Tiberíades (alto) em 1863 e de Haifa em 1880
Eilat em 1949 e em 1972
V - NAZARÉ
Situada em um grande monte, a 400 metros acima do nível do mar, Nazaré encontrase
a 170 quilômetros de Jerusalém. No tempo das chuvas, as encostas da cidade ficam
recobertas por lindas flores. O nome dessa importante localidade significa florescer.
Jesus Cristo foi criado nessa cidade. Por isso mesmo, Ele é chamado de Nazareno.
Até 1948, Nazaré era controlada por muçulmanos. Mas, em 16 de julho de 1948, passou ao
domínio dos israelenses.
VI - CAFARNAUM
Cafarnaum foi escolhida por Jesus para ser o centro de seu ministério. Seu nome
significa "aldeia de Naum".
Em Cafarnaum, Jesus passou dezoito meses, realizando grandes milagres. Seus
habitantes, entretanto, não receberam a mensagem de amor do Messias. E, conforme as
palavras de Cristo, Cafarnaum desceu, de fato, até o inferno. Nunca mais foi edificada.
VII - SAMARIA
A cidade, construída por Onri, pai de Acabe, encontra-se a 60 quilômetros ao Norte
de Jerusalém. Situa-se a 400 metros acima do Mediterrâneo.
Após o cisma israelita, Samaria passou a ser a capital do Reino de Israel. Para essa
cidade, foram transportados, após o cativeiro israelita, povos estranhos que, juntamente com
alguns hebreus, deram origem aos samaritanos. Mais tarde, estes causaram muitos
embaraços a Esdras e a Neemias. No tempo de Jesus, ainda era grande a rivalidade entre as
comunidades hebraica e samaritana.
VIII - DECÁPOLIS
No grego, Decápolis significa "dez cidades". Esse agregamento estava situado em
espaçoso território a leste do mar da Galiléia. As cidades foram construídas por gregos, na
tentativa de helenizar a região. Sofreram, entretanto, grande oposição dos judeus,
principalmente da família macabéia.
Kibutz Beit Alfa em 1921 e em 1970
MAPA DAS ESTRADAS DA PALESTINA
Eis os nomes das dez cidades, segundo Plínio: Citópolis, Damasco, Rafana, Canata,
Gerasa, Diom, Filadélfia, Hipos Gadara, Pela. Essa confederação desempenhou relevante
papel na propagação da cultura helena no Oriente. O evangelho encontrou, também, fértil
terreno em Decápolis.
Cada cidade possuía suas forças militares que, em tempo de crise, uniam-se às
falanges romanas.
IX - ESTRADAS DA TERRA SANTA
Na era patriarcal, já havia estradas cruzando a Terra Santa em todas as direções. No
início, eram trilhos. Passados alguns séculos, carros de ferro já cruzavam o território
israelita sem quaisquer dificuldades. Após a conquista dos romanos, foram construídas
muitas estradas pavimentadas para o rápido deslocamento de tropas militares.
Via Maris:
Ligava Damasco a Tolemaida. Atravessava todo o território israelita, passando por
Cafarnaum e Genezaré. Alguns trechos dessa estrada eram pavimentados e, por isso, os
romanos cobravam pedágio para a sua manutenção.
Estrada da costa:
Também conhecida como Caminho dos Filisteus. Ligava o Egito à Terra Santa.
Tinha mais de 120 quilômetros de extensão. Por essa estrada, passaram diversos exércitos
conquistadores. Jesus e, mais tarde, Paulo, também a percorreram.
Estrada do Leste:
Era uma excelente via de comunicação entre Jerusalém e Betânia. Os judeus que
moravam na Galiléia e iam adorar no Templo tinham que percorrê-la. Por essa estrada,
passaram, provavelmente, Saulo e seus companheiros, quando se dirigiram a Damasco para
perseguir os cristãos.
Estrada do Centro:
Ligava Jerusalém ao Sul do país. Na realidade, tratava-se de duas estradas que, ao
chegar a Hebrom, bifurca-vam-se, uma descia em direção a Gaza e, a outra, a Berserba.
Obras Consultadas
A Bíblia anotada por Dake
A Terra Santa em Cores - por Sami Awwad
A vida diária nos tempos de Jesus - Henri Daniel - Rops
Antigüidades Judaicas - Flávio Josefo
Assim vive Israel - Abraão de Almeida
Através da Geografia Bíblica, uma viagem à Terra de Deus - Wl Jl Goldsmith
Dicionário da Bíblia - John Davis
Dicionário da Língua Portuguesa - Aurélio Buarque de Holanda
Dicionário Universal da Bíblia - Buckland
Enciclopédia Barsa
Enciclopédia de Assuntos Judaicos
Enciclopédia Mirador
Este é Israel - Marcos Margulies
Geografia Bíblica - Enéas Tognini
Geografia Bíblica - Osvaldo Ronis
Geografia Histórica da Bíblia - Netta Kenp de Monney
Geografia da Terra Santa - Enéas Tognini
História do Cristianismo - A. Knight
História Geral - Souto Maior
História da Grécia - Mario Curtis Giordani
História da Igreja Cristã - Jesse Lyman Hurbbut
História de Israel - Abba Eban
História de Israel - Samuel Shultz
História do povo de Israel - Simon Dubnowv
Iniciação à Economia - Silvio Barreti
Manual Bíblico - Henry Halley
Novo Dicionário da Bíblia - Edições Vida Nova
O Mundo do Novo Testamento - Dana Pequena
Enciclopédia Bíblica - Orlando Boyer
Período Interbíblico - Enéas Tognini
Povos e Nações do Mundo Bíblico - Antônio Neves de Mesquita
CONTRACAPA

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