11. O Domínio Romano
11.1. A “Pax Romana” chega a Jerusalém
11.1.1. Da Intervenção de Pompeu a Herodes Magno
Nos anos seguintes à interferência de Pompeu (63 a.C.) há paz na Palestina. Porém, em Roma as coisas se complicam. De 69 a 62 a.C. Roma é governada pelo triunvirato Crasso, Pompeu e César. Depois, enquanto César luta nas Gálias, governam os cônsules Crasso e Pompeu (55-54 a.C.), mas Crasso é derrotado em 53 a.C. pelos partos, ficando somente Pompeu como cônsul (51-49 a.C.). Entretanto, chega César, toma a Itália e a Espanha, confronta-se com Pompeu, que é finalmente vencido em Farsália, na Grécia, no ano 48 a.C. No Egito, um pouco mais tarde, Pompeu é assassinado.
César nomeia Cleópatra VII, a famosa herdeira dos Ptolomeus, rainha do Egito e, nesta luta pelo controle do Egito, recebe apoio de Hircano II que lhe envia tropas comandadas por Antípater. São estas tropas que conquistam Pelúsio, no delta do Nilo, para César.
Quando, em 47 a.C., César chega à Síria, como prêmio, dá a Hircano II o título de etnarca (governador de um grupo racial com o seu território) da Judéia, confirmando-o também no cargo de sumo sacerdote. Antípater recebe a cidadania romana e é nomeado prefeito ou procônsul da Judéia, enquanto seus dois filhos Fasael e Herodes são nomeados respectivamente estrategos de Jerusalém e da Galiléia.
César é assassinado em meados de março de 44 a.C., e Roma volta a ser governada por triúnviros: Antônio, Otaviano e Lépido.
Como era Roma nesta época? Veja aqui!
Entretanto, as intrigas palestinenses continuam: Antípater é envenenado em 43 a.C. pelo copeiro de Hircano II. Em 41 a.C. Antônio nomeia Herodes e Fasael etnarcas, enquanto Hircano II permanece apenas como sumo sacerdote.
Devido à fraqueza do controle romano na província da Síria, esta é invadida, em 40 a.C., pelos partos, descendentes do antigo império persa. Os partos colocam Antígono, filho de Aristóbulo II, como sumo sacerdote e rei na Judéia (40-37 a.C.).
Antígono corta as orelhas de Hircano II, seu tio, incapacitando-o, assim, para o cargo de sumo sacerdote (cf. Lv 21,17-23). Fasael se suicida. Herodes foge para Roma e no final do ano 40 a.C. e nomeado, pelo Senado romano, rei da Judéia, com uma única condição: terá que conquistar seu reino.
Roma e suas Sete Colinas
Em 37 a.C. Herodes torna-se o senhor da Palestina. Casa-se com Mariana I, parente de Aristóbulo II e Hircano II, entrando definitivamente para a família asmonéia.
Herodes Magno governa o povo judeu durante 34 anos (37-4 a.C.).
Herodes se equilibra no delicado jogo do poder porque sabe ser servil a Roma. Primeiro apóia Antônio, mas quando este é vencido por Otaviano na famosa batalha naval de Áccio, no ano 31 a.C., Herodes vai imediatamente visitar o vencedor, que está na ilha de Rodes, e, em gesto teatral, depõe a coroa a seus pés.
Resultado: volta para casa reconfirmado rei por Otaviano e ainda consegue favores: como o engrandecimento de território, a exoneração de tributo a Roma, a isenção de tropas de ocupação, a autonomia interior para as finanças, a justiça e o exército.
Herodes luta com decisão para consolidar o seu poder. Isto significa, antes de mais nada, que ele elimina, através de assassinatos e intrigas várias, adversários seus, inclusive alguns membros de sua família - como esposa e filhos.
Consolidado o poder, constrói obras grandiosas na Judéia. Templos, teatros, hipódromos, ginásios, termas, cidades, fortalezas, fontes. Reconstrói totalmente o Templo de Jerusalém, a partir do inverno de 20-19 a.C.
Reconstrói Samaria, dando-lhe o nome de Sebaste, feminino grego de Augusto, em homenagem ao Imperador romano; constrói um importante porto, Cesaréia Marítima; Mambré, lugar sagrado ligado a Abraão, recebe uma grande construção que o valoriza; fortalezas são reedificadas ou totalmente construídas como Alexandrium, Heródion, Massada, Maqueronte, Hircania etc. Jericó é embelezada e torna-se sua residência favorita.
Observemos os nomes de suas construções, reveladores de seu espírito político:
Sebaste (Samaria), em homenagem a Augusto
Cesaréia (Marítima), em homenagem a César Augusto
Antipátrida, em homenagem a seu pai Antípater
Fasélida, em homenagem a seu irmão Fasael
Cipros, em homenagem a sua mãe
Heródion, em homenagem a si mesmo
fortaleza Antônia (em Jerusalém), em homenagem a Marco Antônio.
Valorizando o culto, Herodes Magno ganha para si o povo. Construindo fortalezas, controla possíveis revoltas. Matando seus inimigos, seleciona seus herdeiros. Apoiando a cultura helenística, aparece diante do mundo. Servindo fielmente a Roma, conserva-se no poder...
Entretanto, Herodes não tem legitimidade judaica, pois descende de idumeus e sua mãe é descendente de árabe. Assim, por ser estrangeiro, não tem para com os judeus nenhuma relação de reciprocidade e sua legitimidade se funda na própria estrutura do poder exercido[1].
Quando vence os seguidores de Antígono, Herodes constrói uma estrutura de poder independente da tradição judaica:
o
nomeia o sumo sacerdote do Templo: destitui os Asmoneus e nomeia um sacerdote da família sacerdotal babilônica e, mais tarde, da alexandrina
o
exige de seus súditos um juramento que obriga a pessoa a obedecer às suas ordens em oposição às normas tradicionais; se a pessoa recusar o juramento, é perseguida
o
interfere na justiça do Sinédrio
o
manda vender os assaltantes e os revolucionários políticos capturados como escravos no exterior, sem direito a resgate
o
a venda à escravidão e a execução pessoal (a morte) tornam-se normas comuns do arrendamento estatal.
Mas, se ele viola assim a tradição, como consegue legitimidade?
A estrutura de poder do Estado sob Herodes é bem diferente da estrutura da época dos Macabeus:
o
o rei é legitimado como pessoa e não por descendência
o
o poderio não se orienta pela tradição, mas pela aplicação do direito pelo senhor
o
o direito à terra é transmitido pela distribuição: o dominador a dá ao usuário: é a "assignatio"
o
a base filosófica helenística é que legitima o poder do rei, quando diz que o rei é "lei viva" (émpsychos nómos), em oposição à lei codificada, ou seja: o rei é a fonte da lei, porque ele é regido pelo "nous": o rei tem função salvadora e, por isso, dá aos seus súditos uma ordem racional, através das normas do Estado. "O rei em sua pessoa é a continuação do seu reino e o salvador de seus súditos", diz H. G. Kippenberg[2].
o
o poder militar de Herodes se baseia em mercenários estrangeiros que ficam em fortalezas ou em terras dadas aos mercenários (cleruquias) por ele (terras no vale de Jezrael), e nas cidades não-judaicas por ele fundadas, a cujos cidadãos ele dá como posse o território que as rodeia, com os camponeses dentro!
Seus herdeiros: Arquelau, Herodes Antipas e Felipe.
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